Secularização hoje é um
estilo de vida sem Deus que impõe modelos e critérios consumistas, cujos
resultados são: a droga, o fracasso familiar, a erotização da vida, a prática
generalizada da corrupção, a banalização da vida do feto e do idoso. A fome não
foi exorcizada e aparecem novas pobrezas. Vivemos numa situação de “iniqüidade
social”. O apóstolo Paulo escreve que se vivemos sem Deus, vivemos sem
esperança. Estamos no “século do medo”, reféns da depressão e do vazio
existencial. Uma vida sem amor e sem sentido, é uma prisão. Esta realidade faz
explodir a industria do divertimento, do armamento, dos desejos insaciáveis,
das necessidades desnecessárias, da lógica da força.
Atualmente nos deparamos
com certas mudanças que nos surpreendem e que chegam a nos questionar sobre até
onde é capaz de ir o homem com a sua mentalidade secularizada.
Mas, o que é realmente
secularização? Segundo o Dicionário de Conceitos Fundamentais de Teologia,
secularização “designa o processo, iniciado na Idade Média e que continuou a
manifestar-se nos tempos modernos, de afastamento, separação e emancipação, praticamente
de todos os campos do universo da vida humana, do contexto de sentido fornecido
pela fé cristã” (DCFT, 81).
Em outras palavras, o
homem usa de seus conhecimentos técnicos, dons concedidos gratuitamente por
Deus, de uma forma errada, ou que o fascinam por suas próprias conquistas,
esquecendo-se de que é uma criatura. Assim, torna-se atual a velha tentação de
“querer ser como Deus” (Gn 3,5). Usando de uma liberdade sem parâmetros, o
homem vai eliminando as raízes religiosas que estão no fundo do seu ser. Ele
vai esquecendo-se de Deus.
Não só o
indivíduo, mas a família, a comunidade, a sociedade entram nesse sistema, e por
isso o Santo Padre grita pela nova evangelização, por um retorno a Deus, porque
uma vez secularizado, o homem tornou-se só, vazio, amargo, triste e perdido.
“Apesar de tudo, portanto,
a humanidade pode e deve ter esperança: o Evangelho vivo e pessoal, Jesus
Cristo em pessoa, é a “notícia” nova e portadora de alegria que a Igreja cada
dia anuncia e testemunha a todos os homens” (CL 19,7). Não podemos desanimar
uma vez que temos Jesus Cristo como centro de nossas vidas.
Papa Bento XVI chama hoje de "desertificação"
espiritual, ou seja, ausência do primado do
Absoluto.
O tema “nova evangelização” teve seu auge no Pontificado de João
Paulo II,
especialmente na última década do segundo milênio. Quando parecia
que ele tinha
desaparecido ou simplesmente passado para a normalidade do
vocabulário pastoral, eis que,
surpreendentemente, Bento XVI o recoloca no centro do seu
magistério. Cria um Conselho
Papal para sua promoção, convoca um Sínodo Extraordinário dos
Bispos e proclama o Ano da
Fé para dar impulso à nova evangelização.
Receber a Boa Nova do Evangelho é um direito de cada pessoa e
anunciá-lo de modo
que todos possam recebê-lo é missão intrínseca da Igreja, pois
“todos têm necessidade do
Evangelho; o Evangelho destina-se a todos e não apenas a um
círculo determinado, e, portanto
somos obrigados a procurar novos caminhos para levar o Evangelho a
todos” (Ratzinger
Intervenção no Congresso dos Catequistas e Professores de religião,
10.12.2000)
Embora não fosse ainda usado o termo "nova
evangelização", vê-se claramente a
preocupação da Igreja sobre a necessidade de uma nova
evangelização dos batizados que
abandonaram a fé.
O termo entrou nos ensinamentos da Igreja através da encíclica
Redemptoris missio do
Papa João Paulo II. Mas João Paulo II expressou, pela primeira
vez, o termo “nova
evangelização” durante a primeira visita à sua Pátria, a Polônia,
em 1979, na cidade de Nowa
Huta5
Iniciou uma nova evangelização, quase como se se tratasse de um
segundo anúncio, embora
na realidade seja sempre o mesmo.
Desde aquele momento, nas suas homilias e pronunciamentos
encontra-se o tema da
“nova evangelização”, sobretudo nas viagens apostólicas ao
continente latino-americano,
depois na Europa. Também durante a 3ª peregrinação para sua
Pátria, o Papa João Paulo II
recordou que a Polônia, assim como toda a Europa Cristã, precisa
de uma “nova evangelização”
Na Redemptoris missio o Papa João Paulo II define e a nova
evangelização como o
anúncio da Boa Nova de Jesus Cristo entre aqueles batizados, que
perderam “o sentido vivo da
fé ou, simplesmente não se consideram mais como membros da Igreja,
levando uma vida
afastada de Cristo e seu Evangelho"
A nova evangelização, no magistério do Papa João Paulo II
caracterizou-se como nova
nos métodos, nova nas expressões. Dizia que para as pessoas que
estão fora da Igreja, tem que
procurar métodos específicos, a fim de poder devolvê-los para
Cristo.
A Nova Evangelização no Magistério de Bento XVI
Se para João Paulo II, a nova evangelização destinava-se
particularmente aos países
descristianizados da antiga evangelização, para o Papa Bento XVI,
ainda que tenha
humildemente continuado o programa de seu antecessor, a nova
evangelização diz respeito a toda a vida da Igreja.
Bento XVI, mostra ainda que a nova evangelização diz respeito a
toda vida da Igreja
porque a globalização provocou um grande deslocamento de
populações e houve uma
globalização de mentalidade em que “os processos da secularização
e de uma difundida
mentalidade niilista, em que tudo é relativo, marcaram
profundamente a mentalidade comum”
bem como a globalização dos destinatários, pois em todos os
continentes se encontram
pessoas a quem se impõe a necessidade do primeiro anúncio, como
também os
“descristianizados” que necessitam de um novo encontro com Jesus
Cristo e a redescoberta da
alegria de crer. É por esta razão que insiste também que os novos
métodos e novas linguagens
devem ser apropriados às diversas culturas do mundo.
A nova evangelização faz-se necessária também para os fiéis que
frequentam
regularmente a comunidade porque estes cristãos não estão imunes
dos movimentos históricos do secularismo e relativismo e entre eles não poucos
também vivem a fé de modo passivo e
privado, rejeitam o esforço da educação para a fé, há dicotomia
entre vida e fé.
Com efeito, no nosso tempo é necessária uma renovada educação para
a fé, que inclua sem
dúvida um conhecimento das suas verdades e dos acontecimentos da
salvação, mas,
sobretudo que nasça de um encontro verdadeiro com Deus em Jesus
Cristo, do amá-lo, do ter
confiança nele, de modo que a vida inteira seja envolvida por Ele
houve uma
globalização de mentalidade em que “os processos da secularização
e de uma difundida
mentalidade niilista, em que tudo é relativo, marcaram
profundamente a mentalidade comum”
bem como a globalização dos destinatários, pois em todos os
continentes se encontram
pessoas a quem se impõe a necessidade do primeiro anúncio, como
também os
“descristianizados” que necessitam de um novo encontro com Jesus
Cristo e a redescoberta da
alegria de crer. É por esta razão que insiste também que os novos
métodos e novas linguagens
devem ser apropriados às diversas culturas do mundo.
O saber da ciência, embora seja importante para a vida do homem,
sozinho não é
suficiente. Os homens cansaram-se do racionalismo puro, da visão
puramente horizontal,
material da vida humana. A dimensão religiosa que o homem tentou
sufocar com os êxitos da
técnica, do mundo da planificação, do cálculo exato e da
experimentação, veio à tona,
reclamando espiritualidade.
Contudo, o atual despertar para o sentido do sagrado desembocou
num pluralismo religioso.
Construiu-se o “supermercado” da religião moldando a mentalidade
de que cada um pode
escolher o que mais satisfaz, momentaneamente, sua necessidade
religiosa, sem preocupar-se
com a verdade.
Precisa-se de pessoas de fé que com as “próprias vidas” indiquem o
caminho. Pois
“evangelizar não é simplesmente uma forma de falar, mas uma forma
de viver: viver em escuta
e fazer-se voz do Pai. ‘Não falará de Si mesmo, mas dirá tudo o que
tiver ouvido’, diz o Senhor
acerca do Espírito Santo
Deus não é algo óbvio na vida de uma pessoa ou comunidade
simplesmente porque está
enquadrada numa estrura eclesiástica ou religiosa. Aos fariseus e
saduceus que pensavam que
fugiriam da ira de Deus só porque eram da descendência de Abraão,
Joa Batista diz: “Produzi
frutos dignos de arrependimento e não penseis que basta dizer:
‘temos por pai a Abraão’. Pois
eu vos digo que mesmo destas pedras Deus pode suscitar filhos de
Abraão” (Lc 3, 9-10). Há
pessoas que não são do clero, não professaram votos religiosos,
não estão em estruturas religiosas ou eclesiásticas, no entanto, vivem as vinte
e quatro horas do dia na dimensão da fé.
Neste contexto, se pode aplicar à vida consagrada e ao clero,
aquilo que Bento XVI disse a
respeito da sensação que o Papa tem diante do bilhão e 200 mil
pertencentes à Igreja católica.
Dize ele, “existem muitos que, de fato, na realidade de seu
íntimo, não fazem parte dela”. Na
mesma ocasião, recordou também que “Santo Agostinho já no seu
tempo, dizia: muitos que parecem estar dentro, estão fora; e muitos que parecem
estar fora, estão dentro” (Luz do
Mundo, pg 22).
O desejo de Deus está inscrito no coração do homem, já que o homem
é criado por Deus e
para Deus; e Deus não cessa de atrair o homem a si, e somente em
Deus o homem há de
encontrar a verdade e a felicidade que não cessa de procurar (n.
27).
Desejar Deus é dimensão não só constitutiva, mas central do ser
humano. A inscrição de
Deus está no coração, isto é, no centro do ser humano, na sua
essência, na sua intimidade.
Entre o ser humano e Deus há um imã, uma atração, que acompanha o
homem para sempre,
eternamente. Até mesmo quando, em sua liberdade, cria um abismo
intransponível entre ele e
Deus, (cf. Lc 16,19-31), experimenta a terrível realidade de seu
anelo “que se transforma numa
sede ardente e já irremediável” (SS, 44). Pois Deus não cessa de
atraí-Lo e o homem não cessa
de desejá-Lo. A grande verdade é que:
Quem não conhece Deus, mesmo podendo ter muitas esperanças, no
fundo está sem
esperança, sem a grande esperança que sustenta toda a vida (cf. Ef
2,12). A verdadeira e
grande esperança do homem, que resiste apesar de todas as
desilusões, só pode ser Deus – o
Deus que nos amou, e ama ainda agora « até ao fim », « até à plena
consumação » (
a “Nova Evangelização”, é uma só: Caritas.
Caritas é a fonte, o princípio, o método, o conteúdo e a
finalidade da “Nova
Evangelização”. Caritas é o estilo de vida de quem anuncia o
Evangelho e projeto de vida para
quem o acolhe. Caritas é a interpelação vital da “Nova
Evangelização” para a vida Consagrada.
Caritas é o fim último da “Nova Evangelização”. Caritas é Deus
porque Deus Caritas est (cf. 1 Jo
4, 8.16). Em suma, a caridade é tudo:
A caridade é amor recebido A caridade é amor recebido e dado; é «
graça » (cháris). A sua nascente é o amor fontal do Pai
pelo Filho no Espírito Santo. É amor que, pelo Filho, desce sobre
nós. É amor criador, pelo
qual existimos; amor redentor, pelo qual somos recriados.
Para Bento XVI, a “Nova Evangelização” é o reconhecimento de que
todos têm
necessidade do Evangelho. Todos têm o direito de receber o
Evangelho. O Evangelho destina-se
a todos e não apenas a um círculo determinado. Portanto, somos
obrigados a procurar novos
caminhos para levar o Evangelho a todos. A “Nova Evangelização” é
o serviço da caridade que deseja unicamente servir ao bem das pessoas e da
humanidade, dando espaço Àquele que é a
Vida, o Deus Caritas.
Possibilitar ao mundo e a cada pessoa o acesso a Deus e devolver a
Deus o lugar que lhe
cabe na vida do mundo e de cada pessoa, é o que indicam todas as
setas dos ensinamentos de
Bento XVI sobre a “Nova Evangelização
Tudo muda se Deus está ou não
presente. “Sem Deus, o homem não sabe para onde ir e não consegue
sequer compreender
quem seja” (CV,78).
Para Bento XVI, a característica de autenticidade da caridade é a
verdade. A verdade é
para ele um tema muito caro. “Colaboradores da verdade” é o lema
de seu episcopado e a
síntese de sua missão, do seu jeito de ser e de viver. Caridade e
verdade são tema da Encíclica
sobre a doutrina social da Igreja, Caritas in Veritate. Mas ele
não concebe a verdade como algo
que podemos possuir, mas como Alguém que é e nos possui: Jesus
Cristo.
O papel do agente de evangelização é
despertar
tal desejo e fazer lhe companhia, mostrando, com seu jeito de
viver e também explicitando com
a Palavra, o caminho para o encontro com Deus.
O Cristianismo é sempre novo e atual. Mas sua “atualização” não
significa reduzir a fé,
submetendo-a à moda dos tempos, ao que é mais agradável, àquilo
que satisfaz a opinião
pública. Ao contrário, significa elevar o “hoje” do nosso tempo ao
“hoje” de Deus. Somos nós que temos que nos adequar à altura do Evangelho e não
o Evangelho que tem que se abaixar à
nossa mediocridade.
O homem é o caminho da Igreja: assim o beato
João Paulo II escrevia na sua primeira Encíclica,Redemptores hominis (cfr n. 14). Esta verdade permanece
válida também e sobretudo no nosso tempo em que a Igreja, de modo sempre mais
globalizado e virtual, em uma sociedade sempre mais secularizada e privada de
pontos de referência estáveis, é chamada a redescobrir a própria missão,
concentrando-se no essencial e buscando novos caminhos para a evangelização.(papa
Francisco)
A Igreja, à qual Cristo confiou a sua Palavra e
os seus Sacramentos, protege a maior esperança, a mais autêntica possibilidade
de realização para o homem, em qualquer latitude e em qualquer tempo. Que
grande responsabilidade temos! Não seguremos para nós este tesouro precioso do
qual todos, conscientemente ou não, estão à procura. Vamos com coragem ao
encontro dos homens e mulheres do nosso tempo, das crianças e dos idosos, dos
‘cultos’ e das pessoas sem instrução, dos jovens e das famílias. Vamos ao
encontro de todos, sem esperar que sejam os outros a nos procurar! Imitemos
nisso o nosso divino Mestre, que deixou o seu céu para fazer-se homem e estar
próximo a cada um. Não somente nas igrejas e nas paróquias, mas em cada
ambiente levemos o perfume do amor de Cristo (cfr 2 Cor 2, 15). Nas escolas,
nas universidades, nos locais de trabalho, nos hospitais, nos presídios; mas
também nas ruas, nas estradas, nos centros esportivos e nos locais onde as
pessoas se encontram. Não sejamos mesquinhos em doar aquilo que nós mesmos
recebemos sem mérito algum! Não devemos ter medo de anunciar Cristo nas
ocasiões oportunas bem como naquelas inoportunas (cfr 2 Tm 4, 2), com respeito
e com franqueza.
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