sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Carta aos Pais - Jesus Urteaga

Carta aos Pais - Jesus Urteaga

A melhor escola para os filhos é a que vocês tem em sua casa, e os melhores mestres são vocês. A pedagogia não está composta de lições, mas de pedaços de vida, que se colam por decalque na alma dos filhos.
Pai e FilhoUm cristão é aquele ou aquela que, com a ajuda da graça de Deus, levanta uma torre sobrenatural sobre uma rocha feita de virtudes humanas, com desejos de serviço, em proveito dos demais. 
Aceitem e amem vossos filhos como são, com suas qualidades  e defeitos, virtudes e manias. Todos têm graças e dons suficientes para serem santos. 
A todos os educadores nos corresponde tratar de ajudar vossos filhos a serem cristãos cabais, – leais, decididos, empreendedores, responsáveis, laboriosos, amigos da liberdade, sinceros, sem medos, sem respeitos humanos, sem escrúpulos, sem temores – e muito filhos de Deus.   
 
O fim da formação espiritual é certamente chegar ao céu. Mas é aqui embaixo, no lar, no trabalho e na rua, que iremos ganhar nosso premio, na medida em que, com a ajuda de Deus, preparamos um mundo melhor para todos. Lá nas alturas, é preciso chegar com os alforjes cheios de boas obras. 
 
Preparem-lhes um lar
 
A educação dos filhos começa vinte anos antes do nascimento dos pais. Vocês darão a vossos filhos aquilo que herdaram. Mas podeis sim, e perfeitamente, preparar-lhes um lar, mostrar vossa vida, mostrar os ditames e desejos de Deus, formar-lhes doutrinariamente, fomentar as virtudes  humanas, e inculcar-lhes um forte senso de responsabilidade. 
Iniciem dando com eles os primeiros passos: depois, deixem que prossigam seu caminho, debaixo de vosso olhar amoroso. Não fiquem evitando que dêem cabeçadas, nem simplifiquem seus problemas e dificuldades.  Mostrem metas, indiquem caminhos, mostre-lhes a luz – doutrina – e diga-lhes, caminhando, como se anda, para finalmente deixar o quanto antes que marchem sozinhos, pela vida, até Deus. 
É o lar que deixará a marca mais relevante na alma dos filhos. As infidelidades e as felonias dos estranhos, o mau ambiente formado pelos desconhecidos, nada disso contará tanto quanto o feliz contágio da vida cristã de seus pais. 
Se me perguntam o que é que mais forma em um lar – a oração? o crucifixo?, os conselhos ? – eu responderia que tudo: o rezar, os padecimentos, e a vida inteira de cada dia; os desassossegos, os cuidados, as preocupações e os apuros; as grandes turbulências e as realidades pequenas de cada jornada; as festas azuis, sem nuvens, cheias de sol, as jornadas negras, tormentosas, decepcionantes, e os dias cinzentos onde quase nunca acontece alguma coisa diferente, tudo isso sempre banhado pela luz da alegria e do bom humor. 
Pais, quando chegarem em casa, não se fechem em vossos papeis. Todos os estão aguardando. É a hora da brincadeira com os pequenos, a hora das histórias, a hora dos cantos, a hora das risadas, a hora bendita do descanso em família. Aí também está o vosso heroísmo. 
Um lar cristão é um pedacinho de terra arrancado do céu, onde se aprende – entre livros, musicas e esportes – as grandes diretrizes a respeito de Deus, da vida, da morte, do homem, do mundo e do amor. 
 
Mostre-lhes vossa vida
 
A melhor escola para os filhos é a que vocês tem em sua casa, e os melhores mestres são vocês. A pedagogia não está composta de lições, mas de pedaços de vida, que se colam por decalque na alma dos filhos. 
Vocês precisam comprovar que não esmoreceram, que não se conformam com a metas já alcançadas, que continuamente se esforçam para pular por cima da maldita mesmice, que se esforçam cada dia para dar mais e melhor, que quando caem, se levantam novamente, que não importa tanto o que se consegue, mas o que seriamente se pretende conseguir, que é preciso terminar o castelo. 
Quando vocês se enganarem, não tentem dissimular. Com simplicidade, retifiquem. Quando eles se equivocarem, dê-lhes outra oportunidade, e o direito de mudar.  Se vocês confiarem neles, ficarão assombrados de comprovar de quanto são capazes. 
 
 
Ensina-os a rezar
 
Se a pedra fundamental da formação espiritual está no lar, as estacas para consolidar os alicerces de uma vida cristã são feitas da filiação divina. Deus não é um menino com lacinhos de ouro e uma camisola rosada. Nem o filho que faz voar pássaros de barro. Nem o tirano que espreita nossas faltas, para as castigar. Não é o comerciante com quem se possa traficar. Cristo é muito Homem, e muito Deus; Amor e Todo-Poderoso. 
Devemos tratar  Nosso Deus como Ele é: um Pai Bom, que nos pede um trato constante, que sai com freqüência para nos ver regressar à casa paterna, que quer entrar em nossa alma, pela Eucaristia. Depende de nós que ele seja verdadeiramente um personagem importante. Devemos contar com Ele na hora de rezar, estudar, trabalhar, dormir, brincar, e andar pela rua. 
Na vida dos que amam a Deus, não deve faltar o amor àqueles que Deus mais ama: sua Mãe, e Mãe Nossa, e o eleito pelo céu para ser seu Pai na Terra: Maria e José.
Uma jaculatória à Virgem Santíssima, um ato de amor a São José, podem brotar tanto na Igreja como no ônibus, nas vielas da aldeia, no campo, no metrô, no colégio, e no banho; nas escadas, e no refeitório. A freqüência das lembranças daqueles que se quer vem marcada pela intensidade do carinho. 
Tenham o propósito de os formar em uma piedade sólida, doutrinal, e prática. 
Deus, que prevê bem as coisas, pôs junto de cada filho um pai, uma mãe, e um anjo que o protege. Que eles se acostumem a cumprimentar seu anjo também. 
Se conseguirdes que se mantenha vivo o sentido da filiação divina, haverá em vosso entorno serenidade e alegria; nunca medos, desânimos ou desalentos que não se compaginam com a presença de Deus. 
 
Formem-nos doutrinariamente
 
Sois pais, diretamente responsáveis de sua formação doutrinal. “Os pais devem ser para seus filhos os primeiros pregadores da fé, tanto por sua palavra quanto por seu exemplo” (Concílio Vaticano II, Lumen Gentium, n. 11). 
Mães!  “Transmitam a vossos filhos e a vossas filhas as tradições de vossos pais, ao mesmo tempo que os preparais para o futuro” (Mensagem do Concílio à Humanidade: às mulheres, 6). 
Não será suficiente que freqüentem colégios católicos? Não. 
Não bastará que seus filhos estudem seriamente a religião? Não. 
Vocês tem o dever de vos certificar  se eles estão recebendo, e se de verdade cala em suas almas, “a instrução catequética que ilumina e robustece a fé, anima a vida com o espírito de Cristo, leva a uma participação consciente e ativa do mistério litúrgico, e dê alento a uma ação apostólica “ (Gravissimum educationis, n. 4), ou se pelo contrário, há professores, leituras, amigos ou ambientes que os estão desencaminhando. Não podeis deixar vossos filhos nas mãos de mercenários. 
Preocupem-se seriamente com sua formação doutrinal religiosa e moral. Se para isso for necessário fazer exigências aos professores dos colégios, façam essa exigência. 
Se for necessário participar de associações de pais, participem.
Se compreenderem que é importante dar palestras, conferências ou círculos de estudo aos meninos, dêm isso. 
Se tiverem que abrir as portas de vossos lares para assim ajudar melhor aos amigos de vossos filhos, abram-nas.
Se isso os obriga a se instruir seriamente na catequese da doutrina cristã, estudem o Catecismo. 
Preparem-se com uma fé sólida, sem rotinas, sem formulismos, com um espírito que os faça pensar, sentir, julgar, falar, avaliar, e agir conforme o Evangelho. 
 
Que tenham metas altas!
 
Se no humano é preciso animá-los para que tenham miras elevadas e se esforcem para chegar alto – “Não tenham o ânimo tão pequeno -  diz  o Cavaleiro a seu escudeiro Sancho -  que se contentem com menos do que ser excelente” (Don Quijote de la Mancha, I, VII) – no sobrenatural é ridículo por parte dos pais, e medíocre por parte dos filhos, conformar-se com qualquer coisa que não seja a Santidade. 
 
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