Internet: “navegar” não é o mesmo que ler - José Antonio Marina
A Internet não foi feita para ser lida. Está feita para transmitir vertiginosamente informações ou para ter acesso a elas com a mesma velocidade. Sua eficácia está em encontrar rápido, ler rápido e mudar mais rápido ainda. É o que chamamos de “navegar” na rede.
Quem agüentaria ler o Harry Potter na Internet? Se o que eu sei de psicologia e de sociologia da informática não me engana, estão sendo consolidadas duas classes intelectuais: os que lêem com lentidão e os que lêem com uma rapidez avassaladora. E ainda que não pareça, os leitores lentos são os mais afortunados. Não estou me referindo à velocidade material da leitura, mas ao modo como enfrentam textos compridos e complexos.
A linguagem da Internet exige que se montem textos tão deslumbrantes quanto breves. Mas ao encurtar a mensagem deixamos de escanteio os temas mais importantes: a argumentação e os matizes, que tanto enriquecem a linguagem.
Eu lhe recomendo que vá com calma. E que não caia na armadilha de acreditar que uma imagem vale mais do que mil palavras. É uma mentira perigosa. A leitura lenta não é importante apenas porque proporciona uma maior eloqüência, ou um modo de expressar-se mais refinado e elegante. É importante também e principalmente porque nossa inteligência é estruturalmente lingüística.
Mediante a linguagem manejamos todos os nossos processos inteligentes. Talvez você lembre que na escola lhe diziam que na comunicação lingüística existe um emissor (aquele que fala), um receptor (aquele que escuta) e uma mensagem (o que se transmite). Isto é verdade, porém nem toda verdade.
Não é verdade que estamos falando conosco mesmos continuamente? E por quê fazemos isso? Porque essa é a forma que aprendemos para manejar nossos recursos mentais. Nós estamos continuamente nos fazendo perguntas. Quem pergunta? Eu. A quem? A mim mesmo. Quem vai responder? Eu outra vez. Que comportamento mais estúpido! Pois não é. É assim que organizamos e dirigimos nossos pensamentos.
Além do mais, vivemos em um âmbito lingüístico e nos confundimos nele. Cerca de 80% dos problemas dos casais tem a ver com a linguagem. Por quê ocorrem tantas incompreensões e maus entendidos? Porque descuidamos da linguagem.
A imagem tem um poder emocional fabuloso, mas não leva ao entendimento. As grandes criações do espírito humano: a argumentação, a lógica, o direito, o engenho, a poesia, a ciência, as declarações de amor, são criações lingüísticas.
Eu lhe aconselho: use a velocidade da Internet para buscar as informações. Mas depois, leia essas informações pausadamente, de modo frutífero e inteligente, sentado na sua poltrona acompanhado de uma xícara de café.
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