segunda-feira, 4 de novembro de 2013

TEOLOGIA DO CORPO

Catequeses proferidas pelo
Papa João Paulo II
5 de setembro de 1979 -
28 de novembro de 1984
ensinando a


TEOLOGIA DO CORPO

1979

Quarta-feira, 5 de Setembro de 1979
Em colóquio com Cristo sobre os fundamentos da família
1. Há tempos que estão em curso os preparativos para a próxima Assembleia ordinária do Sínodo dos 
Bispos, que se realizará em Roma no Outono do ano que vem. O tema do Sínodo «De muneribus familiae 
christianae» (Deveres da família cristã) concentra a nossa atenção nessa comunidade de vida humana e 
cristã, que desde o princípio é fundamental. exatamente esta expressão «desde o princípio» empregou o 
Senhor Jesus no diálogo sobre o matrimônio referido pelo Evangelho de São Mateus e pelo de São Marcos. 
Queremos perguntar-nos que significa esta palavra «princípio» exatamente nesta circunstância e, portanto, 
propomo-nos análise mais precisa do referido texto da Sagrada Escritura.
2. Durante a conversa com os fariseus, que o interrogavam sobre a indissolubilidade do matrimônio, duas 
vezes se referiu Jesus Cristo ao «princípio». O diálogo decorreu da maneira seguinte:
Alguns fariseus, para O experimentarem, aproximaram-se d'Ele e disseram-lhe: «É permitido a um homem 
repudiar sua mulher por qualquer motivo?». Ele respondeu: «Não lestes que o Criador, desde o princípio, os 
fez homem e mulher, e disse: Por isso, o homem deixará o pai e a mãe, e unir-se-á a sua mulher, e serão os 
dois uma só carne? Portanto, já não são dois, mas uma só carne. Pois bem, o que Deus uniu, não o separe 
o homem». «Por que foi então, perguntaram eles, que Moisés preceituou dar-lhe carta de divórcio ao 
repudiá-la?». «Por causa da dureza do vosso coração, Moisés permitiu que repudiásseis as vossas 
mulheres; mas ao princípio não foi assim» (Mt. 19, 3 ss.; cfr. também Mc. 10, 2, ss.).
Cristo não aceita a discussão ao nível que os seus interlocutores procuram dar-lhe, em certo sentido não 
aprova a dimensão que eles se esforçam por conferir ao problema. Evita embrenhar-se nas controvérsias 
jurídico-casuísticas; e, em vez disso, apela duas vezes para o «princípio». Procedendo assim, faz clara 
referência às palavras sobre a matéria no Livro do Gênesis, que também os seus interlocutores sabem de 
cor. Dessas palavras da revelação antiquíssima, tira Cristo a conclusão, e o diálogo termina.
3. «Princípio» significa portanto aquilo de que fala o Livro do Gênesis. É portanto o Gênesis 1, 27 que cita 
Cristo, em forma resumida: O Criador ddesde o princípio fê-los homem e mulher; mas o trecho originário 
completo soa textualmente assim: Deus criou o homem à Sua imagem, criou-o à imagem de Deus; Ele os 
criou homem e mulher. Em seguida, o Mestre refere-se ao Gênesis 2, 24: Por esse motivo, o homem 
deixará o pai e a mãe para se unir à sua mulher; e os dois serão uma só carne. Citando estas palavras 
quase «in extenso», por inteiro, Cristo dá-lhes ainda mais explícito significado normativo (dado que era 
admissível a hipótese de no Livro do Gênesis figurarem como afirmações unicamente de fatos: «Deixará ... 
unir-se-á ... serão uma só carne»). O significado normativo determina-se uma vez que não se limita Cristo 
somente à citação em si, mas acrescenta: «Portanto, já não são dois, mas uma só carne. Pois bem, o que 
Deus uniu, não o separe o homem». Este «não o separe» é determinante. A luz desta palavra de Cristo, o 
Gênesis 2, 24 enuncia o princípio da unidade e indissolubilidade do matrimônio como sendo o próprio 
conteúdo da palavra de Deus, expressa na mais antiga revelação.
4. Poder-se-ia, nesta altura, defender que o problema está terminado, que as palavras de Jesus Cristo 
confirmam a lei eterna, formulada e instituída por Deus «desde o princípio», desde a criação do homem. 
Poderia também parecer que o Mestre, ao confirmar esta lei primordial do Criador, não faz senão 
estabelecer exclusivamente o próprio sentido normativo dela, apelando para a autoridade mesma do 
primeiro Legislador. Todavia, aquela expressão significativa «desde o princípio», repetida por Cristo, leva 
claramente os interlocutores a refletirem sobre o modo como no mistério da criação foi moldado o homem, 
precisamente como «homem e mulher», para se compreender corretamente o sentido normativo das 
palavras do Gênesis. Ora isto não tem menor valor para os interlocutores de hoje do que teve para os de 
então. Portanto, no presente estudo, considerando tudo isto, devemos colocar-nos exatamente na posição 
dos atuais interlocutores de Cristo.
5. Durante as sucessivas reflexões das quartas-feiras, nas audiências gerais, procuraremos, como atuais 
interlocutores de Cristo, deter-nos demoradamente nas palavras de São Mateus (19, 3 ss.). Para responder 
à indicação, que encerrou Cristo nelas, procuraremos penetrar naquele «princípio», a que Ele se referiu de 
modo tão significativo; e assim seguiremos de longe o grande trabalho, que sobre este tema, agora 
precisamente, empreendem os participantes no próximo Sínodo dos Bispos. Ao lado destes, tomam parte 
nele numerosos grupos de pastores e até de leigos, que sentem especial responsabilidade acerca das 
obrigações impostas por Cristo ao matrimônio e à família cristã: as obrigações que Ele impôs sempre, e 
ainda impõe na nossa época, no mundo contemporâneo.

O ciclo de reflexões que iniciamos hoje, com a intenção de continuá-lo durante os seguintes encontros das 
quartas-feiras, tem ainda, além do mais, como finalidade, por assim dizer, acompanhar de longe os trabalhos preparatórios do Sínodo, não entrando porém diretamente no seu tema, embora dirigindo a 
atenção para as raízes profundas de que ele brota.
Aos jovens Casais
Ainda uma saudação de bons votos aos jovens Casais que tomam parte nesta Audiência. Caríssimos 
Casais, dais início à vossa nova vida com a Bênção do Papa, depois da de Deus no altar. Tende sempre 
diante da vossa consciência o sentido cristão da missão para a qual fostes chamados com o sacramento do 
matrimônio. Levai nela a límpida e plena força do amor abençoado, que, como diz Santo Agostinho, "é tanto 
mais forte quanto mais santo" (Ep 127, 9). E nunca, nunca, venham a apagar o fogo, que acabastes de 
acender, cálculos egoístas. Com estes fervorosos votos, abençoo-vos no nome do Senhor.
Quarta-feira, 12 de Setembro de 1979
Na primeira narrativa da criação encontra-se a definição objetiva do homem
1. Na quarta-feira passada iniciamos o ciclo de reflexões sobre a resposta dada por Cristo Senhor aos seus 
interlocutores acerca da pergunta sobre a unidade e indissolubilidade do matrimônio. Os interlocutores 
fariseus, como recordamos, apelaram para a lei de Moisés; Cristo, pelo contrário, referiu-se ao «princípio», 
citando as palavras do Gênesis.
O «princípio», neste caso, diz respeito àquilo de que trata uma das primeiras páginas do Livro do Gênesis. 
Se queremos fazer uma análise desta realidade, devemos sem dúvida referir-nos primeiramente ao texto. 
De fato, as palavras pronunciadas por Cristo na conversa com os fariseus, que nos conservaram o capítulo 
19 de Mateus e o capítulo 10 de Marcos, constituem uma passagem que por sua vez se enquadra num 
contexto bem definido, sem o qual não podem ser nem entendidas nem exatamente interpretadas: Não 
lestes que o Criador, desde o princípio, os fez homem e mulher ...!(Mt. 19, 4), e faz referência à chamada 
primeira narrativa da criação do homem, inserida no ciclo dos sete dias da criação do mundo (Gén. 1, 1-2, 4. 
). Pelo contrário, o contexto mais próximo das outras palavras de Cristo, tiradas de Gênesis 2, 24, é a 
chamada segunda narrativa da criação do homem (Gén. 2, 5-25. ), mas indiretamente é todo o terceiro 
capítulo do Gênesis. A segunda narrativa da criação do homem forma unidade conceitual e estilística com a 
descrição da inocência original, da felicidade do homem e também da sua primeira queda. Dada a 
especificidade do conteúdo expresso nas palavras de Cristo, tomadas de Gênesis 2, 24, poder-se-ia 
também incluir no contexto pelo menos a primeira frase do capítulo quarto do Gênesis, que trata da 
concepção e do nascimento do homem por parte dos pais terrestres. Assim pretendemos fazer na presente 
análise.
2. Do ponto de vista da crítica bíblica, urge recordar que a primeira narrativa da criação do homem é 
cronologicamente posterior à segunda. A origem desta última é muito mais remota. Este texto mais antigo 
define-se como «javista», porque para nomear a Deus serve-se do termo «Javé». É difícil não se ficar 
impressionado com que a imagem de Deus nele apresentada encerre traços antropomórficos bastante 
marcados [entre outrros, lemos nele que ... o Senhor Deus formou o homem do pó da terra e insuflou-lhe 
pelas narinas o sopro da vida (Gén. 2, 7)]. Em confronto com esta descrição, a primeira narrativa, isto é, 
exatamente a considerada cronologicamente como mais recente, é muito mais amadurecida quer no que diz 
respeito à imagem de Deus, quer na formulação das verdades essenciais sobre o homem. Provém da 
tradição sacerdotal e ao mesmo tempo «eloísta»: de «Eloim», termo por ela usado para denominar Deus.
3. Dado que nesta narrativa a criação do ser inteligente como homem e mulher, a que se refere Jesus na 
sua resposta segundo (Mt. 19), está inserida no ritmo dos sete dias da criação do mundo, poder-se-lhe-ia 
atribuir sobretudo carácter cosmológico; o homem é criado na terra juntamente com o mundo visível. Ao 
mesmo tempo, porém, o Criador ordena-lhe que subjugue e domine a terra (Cfr. Gén. 1, 28) : ele é portanto 
colocado acima do mundo. Embora o homem esteja tão intimamente ligado ao mundo visível, a narrativa bíblica não fala todavia da sua semelhança com o resto das criaturas, mas somente com Deus [Deus criou o 
homem à Sua imagem, criou-o à imagem de Deus ... (Gén. 1, 27) ]. No ciclo dos sete dias da criação 
manifesta-se evidentemente uma gradualidade nítida(1); o homem, pelo contrário, não é criado segundo 
uma sucessão natural, mas o Criador parece deter-se antes de o chamar à existência, como se tornasse a 
entrar em si mesmo, para tomar decisão: Façamos o homem à Nossa imagem, à Nossa semelhança ... 
(Gén. 1, 26)
4. O nível daquela primeira narrativa da criação do homem, embora cronologicamente posterior, é sobretudo 
de carácter teológico. Indica-o principalmente a definição do homem baseada na sua relação com Deus («à 
imagem de Deus o criou»), o que encerra ao mesmo tempo a afirmação da impossibilidade absoluta de 
reduzir o homem ao «mundo». Já à luz das primeiras frases da Bíblia, não pode o homem ser 
compreendido, nem explicado até ao fundo, com as categorias deduzidas do «mundo», isto é, do conjunto 
visível dos corpos. Apesar de também o homem ser corpo. (Gén. 1, 27) verifica que esta verdade essencial 
acerca do homem se refere tanto ao homem como à mulher: Deus criou o homem à sua imagem ... criou-os 
homem e mulher (2). É preciso reconhecer que a primeira narrativa é concisa, livre de qualquer vestígio de 
subjetivismo: contém só o fato objectivo e define a realidade objectiva, quer ao falar da criação humana, do 
homem e da mulher, à imagem de Deus, quer ao acrescentar pouco depois as palavras da primeira bênção: 
«Abençoando-os, Deus disse-lhes: crescei e multiplicai-vos, enchei e dominai a terra» (Gén. 1, 28).
5. A primeira narrativa da criação do homem, que, segundo verificamos, é de índole teológica, encerra em si 
abundante conteúdo metafísico. Não se esqueça que precisamente este texto do Livro do Gênesis se tornou 
a fonte das inspirações mais profundas para os pensadores que têm procurado compreender o «ser» e o 
«existir». (Talvez só o capítulo terceiro do Livro do Éxodo se possa comparar ao presente texto) (3). Não 
obstante algumas expressões particularizadas e plásticas do trecho, o homem é nele definido primeiramente 
nas dimensões do ser e do existir («esse»). É definido de modo mais metafísico que físico. Ao mistério da 
sua criação («à imagem de Deus os criou») corresponde a perspectiva da procriação («sede fecundos e 
multiplicai-vos, enchei a terra»), a perspectiva daquele suceder-se no mundo e no tempo, daquele «fieri» 
que está necessariamente ligado à situação metafísica da criação: do ser contingente (contingens). 
Precisamente nesse contexto metafísico da descrição de Gênesis 1, é necessário entender a entidade do 
bem, isto é, o aspecto do valor. De fato, este aspecto repete-se no ritmo de quase todos os dias da criação 
e atinge o auge depois da criação do homem: Deus, vendo toda a sua obra, considerou-a muito boa (Gén. 
1, 31). Por este motivo é lícito dizer com certeza que o primeiro capítulo do Gênesis formou um ponto 
inexpugnável de referência e a base sólida para uma metafísica e também para uma antropologia e uma 
ética, segundo a qual «ens et bonum convertuntur». Sem dúvida, tudo isto tem significado próprio, também 
para a teologia e sobretudo para a teologia do corpo.
6. Nesta altura interrompemos as nossas considerações. Daqui a uma semana ocupar-nos-emos da 
segunda narrativa da criação, isto é, daquilo que, segundo os biblistas, é cronologicamente mais antigo. A 
expressão «teologia do corpo», usada recentemente, merece explicação mais exacta, mas deixamo-la para 
outro encontro. Devemos primeiro procurar aprofundar aquela passagem do Livro do Gênesis a que se 
referiu Cristo.
(1) Falando da matéria não vivificada, o autor bíblico usa diferentes predicados, como «separou», 
«chamou», «fez» e «pôs». Pelo contrário, falando dos seres dotados de vida, usa os termos «criou» e 
«abençoou». Deus ordena-lhes: «Sede fecundos e multiplicai-vos». Esta ordem refere-se tanto aos animais 
como ao homem, indicando que a corporalidade lhes é comum (cfr. Gén. 1, 22.28).
Todavia a criação do homem distingue-se essencialmente, na descrição bíblica, das obras precedentes de 
Deus. Não só é precedida por uma introdução solene, como se se tratasse duma deliberação de Deus antes 
deste ato importante, mas sobretudo é posta em relevo a excepcional dignidade do homem pela 
«semelhança» com Deus, de quem é a imagem.
Criando a matéria não vivificada. Deus «separava»; aos animais ordena que sejam fecundos e se 
multipliquem, mas a diferença de sexo é sublinhada apenas a respeito do homem («macho e fêmea os 
criou») abençoando ao mesmo tempo a fecundidade deles, isto é, o vínculo das pessoas (Gén. 1, 27-28).
(2) O texto original diz: «Deus criou o homem (ha-adam — substantivo colectivo: a «humanidade»?); à sua 
semelhança; à imagem de Deus o criou; macho (zakar - masculino) e fêmea (unegebah - feminino) os 
criou» (Gén. 1, 27).
(3) «Haec subtimis ventas»: «Eu sou Aquele que sou» (Ex. 3, 14) constitui objecto de reflexão para muitos 
filósofos, a começar por Santo Agostinho, que julgava ter Platão conhecido este texto, tão próximo ele lhe 
parecia das concepções do filósofo grego. A doutrina augustiniana da divina «essentialitas» exerceu, por 
meio de Santo Anselmo, influxo profundo na teologia de Ricardo de S. Vítor, de Alexandre d'Halès e de S. 
Boaventura.
«Pour passer de cette interprétation philosophique du texte de 1'Exode à celle qu'allait proposer saintThomas il fallait nécessairement franchir Ia distance qui separe 'l'être de 1'essence' de 'l'être de 1'existence'. 
Les preuves thomistes de 1'existence de Dieu 1'ont franchie».
Diversa é a posição do Mestre Eckart, que, baseado neste texto, atribui a Deus a «puritas essendi»: «est 
aliquid altius ente ...»; (cfr. E. Gilson, Le Thomisme, Paris 1944, Vrin, págs. 122-127; E. Gilson, History of 
Christian Philosophy in the Middle Ages, London 1955, Sheed and Ward, pág. 810).

Aos jovens Casais
Também os Casais merecem uma saudação só para si, unida a cordiais votos de felicidade no Senhor. 
Procurai fazer de toda a vossa vida um sacramento, isto é, um sinal evidente do amor recíproco e total de 
Cristo e da Igreja. E recordai-vos sempre que não existe pleno amor se não for acompanhado pela 
fidelidade, pelo acordo, pela generosidade e também pela paciência. Nestas condições vereis como é 
verdadeiramente belo viverdes juntos, vós e os vossos filhos, como parte da maior comunidade eclesial. A 
minha Bênção vos acompanhe.


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