sexta-feira, 27 de junho de 2014

Assim é a morte.

"Quando observamos, da praia, um veleiro a afastar-se da costa, navegando mar adentro, impelido pela brisa matinal, estamos diante de um espetáculo de beleza rara.

O barco, impulsionado pela força dos ventos, vai ganhando o mar azul e nosparece cada vez menor.

Não demora muito e só podemos contemplar um pequeno ponto branco na linha remota e indecisa, onde o mar e o céu se encontram.

Quem observa o veleiro sumir na linha do horizonte, certamente exclamará: "já se foi".

Terá sumido? Evaporado? Não, certamente. Apenas o perdemos de vista. O barco continua do mesmo tamanho e com a mesma capacidade que tinha quando estava próximo de nós. Continua tão capaz quanto antes de levar ao porto de destino as cargas recebidas.

O veleiro não evaporou, apenas não o podemos mais ver. Mas ele continua o mesmo. E talvez, no exato instante em que alguém diz: "já se foi", haverá outras vozes, mais além, a afirmar: "lá vem o veleiro"!!!

Assim é a morte.

Quando o veleiro parte, levando a preciosa carga de um amor que nos foi caro, e o vemos sumir na linha que separa o visível do invisível dizemos: "já se foi".

Terá sumido? Evaporado? Não, certamente. Apenas o perdemos de vista.

O ser que amamos continua o mesmo, suas conquistas persistem dentro do mistério divino.

Nada se perde, a não ser o corpo físico de que não mais necessita. E é assim que, no mesmo instante em que dizemos: "já se foi", no além, outro alguém dirá : "já está chegando". Chegou ao destino levando consigo as aquisições feitas durante a vida.

Na vida, cada um leva sua carga de vícios e virtudes, de afetos e desafetos, até que se resolva por desfazer-se do que julgar desnecessário.

A vida é feita de partidas e chegadas. De idas e vindas.

E o que para uns parece ser a partida, para outros é a chegada.

Assim, um dia, todos nós partimos como seres imortais que somos, todos nós ao encontro Daquele que nos criou."

Assim é a morte.

"Quando observamos, da praia, um veleiro a afastar-se da costa, navegando mar adentro, impelido pela brisa matinal, estamos diante de um espetáculo de beleza rara.

O barco, impulsionado pela força dos ventos, vai ganhando o mar azul e nosparece cada vez menor.

Não demora muito e só podemos contemplar um pequeno ponto branco na linha remota e indecisa, onde o mar e o céu se encontram.

Quem observa o veleiro sumir na linha do horizonte, certamente exclamará: "já se foi".

Terá sumido? Evaporado? Não, certamente. Apenas o perdemos de vista. O barco continua do mesmo tamanho e com a mesma capacidade que tinha quando estava próximo de nós. Continua tão capaz quanto antes de levar ao porto de destino as cargas recebidas.

O veleiro não evaporou, apenas não o podemos mais ver. Mas ele continua o mesmo. E talvez, no exato instante em que alguém diz: "já se foi", haverá outras vozes, mais além, a afirmar: "lá vem o veleiro"!!!

Assim é a morte.

Quando o veleiro parte, levando a preciosa carga de um amor que nos foi caro, e o vemos sumir na linha que separa o visível do invisível dizemos: "já se foi".

Terá sumido? Evaporado? Não, certamente. Apenas o perdemos de vista.

O ser que amamos continua o mesmo, suas conquistas persistem dentro do mistério divino.

Nada se perde, a não ser o corpo físico de que não mais necessita. E é assim que, no mesmo instante em que dizemos: "já se foi", no além, outro alguém dirá : "já está chegando". Chegou ao destino levando consigo as aquisições feitas durante a vida.

Na vida, cada um leva sua carga de vícios e virtudes, de afetos e desafetos, até que se resolva por desfazer-se do que julgar desnecessário.

A vida é feita de partidas e chegadas. De idas e vindas.

E o que para uns parece ser a partida, para outros é a chegada.

Assim, um dia, todos nós partimos como seres imortais que somos, todos nós ao encontro Daquele que nos criou."

quinta-feira, 26 de junho de 2014

Pais, os primeiros catequistas

Pais, os primeiros catequistas


Os primeiros catequistas são os pais. Os pais são os educadores naturais e os filhos deveriam aprender a conhecer a Deus  no colo dos pais. Será difícil levar alguém para Deus se isso não for feito, em primeiro lugar, pelos pais.A melhor maneira de educar, também na fé, é pelo exemplo. Se os pais rezam, os filhos aprender a rezar; se os pais vivem conforme a lei de Deus, os filhos também vão viver assim, e isso se desdobra em outros exemplos. Os genitores precisam rezar com os filhos desde pequenos, cultivar em casa um lar católico, com imagens de santos, o crucifixo nas paredes, etc.; tudo isso vai educando os filhos na fé. 

Cabe aos pais educarem suas crianças, incutindo-lhes o amor incondicional a Deus, pois são eles os grandes responsáveis também pela educação espiritual de seus filhos e por tal serão cobrados.Deus deu as pais a missão de formarem uma verdadeira família cristã e eles não devem delegar ou se omitir  de tão sublime compromisso.
"Ensina à criança o caminho que ela deve seguir; mesmo quando envelhecer, dele não se há de afastar."( Provérbio 22,6)

Peçamos a Deus para que todos os pais e mães se conscientizem de que seus filhos são bençãos em suas  vidas e para que recebam cada criança desde o dia da sua concepção com muita alegria e fé, confiando na intercessão da virgem Maria para que Ela os acompanhem na difícil porém sublime tarefa que é a paternidade e a maternidade.

Face de Cristo - resplandecei em nós!

Emília Briand

terça-feira, 24 de junho de 2014

A FORÇA DO EXEMPLO (DOS PAIS E ORIENTADORES)

A FORÇA DO EXEMPLO
(DOS PAIS E ORIENTADORES)


PRIMEIRA PARTE: TODO EXEMPLO CONSTRÓI OU DESTRÓI

UMA TAREFA URGENTE E DIFÍCIl

 A formação dos filhos no lar é uma tarefa, ao mesmo tempo, urgente, insubstituível
e difícil. O Papa João Paulo II dedicou, ao longo do seu pontificado, uma especial atenção
ao matrimônio e à família, vistos com olhos cristãos como "um dos bens mais preciosos da
humanidade"1
. Incansavelmente recordou que a família "é a célula primeira e vital da
sociedade", de modo que "o bem da sociedade e da Igreja está profundamente ligado ao
bem da família"2
. E, dentro dessa perspectiva, quis dar uma especial ênfase à função
educadora dos pais: "Gerando no amor e por amor uma nova pessoa, que traz em si a
vocação ao crescimento e ao desenvolvimento, os pais assumem por isso mesmo o dever
de ajudar eficazmente a viver uma vida plenamente humana [...]. Com confiança e
coragem, devem formar os filhos para os valores essenciais da vida humana"3
.

 Essa ação formativa dos pais desdobra-se em múltiplas facetas. Nestas páginas, vamos centrar-nos numa só delas, que é, sem dúvida, a primordial: o exemplo. "O melhor
educador é o exemplo. Aprende-se melhor pela intuição e experiência. É necessário que os
pais vivam primeiro aquilo que pretendem que os filhos vivam depois [...]. Os pais
precisam [...] irradiar com alegria o calor da vivência cristã. Assim os filhos se sentem
contagiados". As virtudes dos pais são o modelo fundamental para os filhos. Esses deverão
aprender a viver as virtudes humanas e cristãs, praticadas pelos pais,"de forma
insubstituível, no próprio lar: honestidade, solidariedade, respeito, sinceridade, lealdade,
fortaleza, laboriosidade, constância, fidelidade, prudência, justiça, temperança, castidade,

desprendimento, sobriedade, humildade e tantas outras" . Assim se expressa um recente 
documento – excelente – sobre a pastoral familiar 4
 O panorama é muito sério, Causa até vertigem. Mas esse dever de dar exemplo é 
um dever ao qual os pais não podem furtar-se. Porque nada nem ninguém o poderá suprir. 
Quando já se viveu uma vida longa e, por bondade de Deus, se pôde apreciar o impacto 
decisivo (o mais decisivo de todos!) que o exemplo dos bons pais (e dos avós!) produziu 
nos filhos, essa necessidade do exemplo deixa de ser uma bela teoria, para tornar-se uma 
prioridade irrenunciável. 
 Penso agora, por exemplo, em experiências vividas muitas vezes por nós, os 
sacerdotes, que temos função de orientar as almas. Talvez sejam episódios menores, mas 
são significativos, histórias simples de gente boa que – por algum tempo, mais ou menos 
longo – andara afastada de Deus, meio perdida, fria ou extraviada, e que um bom dia, 
movida pela graça, voltou-se com todo o coração para Deus e, juntamente com a fé 
reencontrada, reconstruiu a harmonia familiar, ou abandonou uma conduta pessoal ou 
profissional indigna de um cristão...
Quantas vezes a explicação dessa mudança vinha expressada com palavras como as 
seguintes: – O senhor sabe, minha mãe era muito religiosa, ela nos ensinou a rezar desde 
crianças, não passava uma noite sem que viesse fazer conosco as orações, e eu guardo dela 
a lembrança do amor a Jesus na Eucaristia, da confiança que tinha em Nossa Senhora – ela 
nos incentivava a beijar a pequena imagem do quarto ao chegarmos a casa –, da paz com 
que confiava as nossas saídas à rua, sempre potencialmente perigosas, ao Anjo da Guarda... 
Rezava e amava. Rezava, amava, sacrificava-se e era feliz... Quando morreu, cheia de paz 
na alma, essas lembranças afloraram de dentro de mim como um jato de luz...., e "senti", 
com uma clareza e uma força incrível, que ela estava certa e eu devia mudar... 
 Outros foram "salvos" – foi Deus que os salvou por esse meio – pela lembrança do 
avô, cristão a toda a prova, trabalhador honestíssimo e incansável para tirar a família da 
pobreza e oferecer-lhe um futuro melhor: – "Nunca lhe ouvi uma queixa. Tinha tanta fé em 
Deus, que a sua confiança na Providência podia quase enxergar-se e tocar-se com as mãos. 
Quando ele me dizia: – "Vá com Deus", eu sempre sentia um arrepio porque, o senhor sabe, ele o dizia com tanta convicção, com tanta verdade! Agora, depois de tantos tombos, 
fracassos e decepções, eu vejo: Ele é que estava certo!... Lembro-me muito dele, isso me 
faz sentir uma necessidade imensa de Deus, porque Deus... , eu o deixei estacionado no 
acostamento da vida. 
QUATRO IMAGENS SIMBÓLICAS 
 Na primeira parte deste livrinho, pareceu-me oportuno começar ajudando os 
leitores a "despertar" a consciência sobre a importância do seu exemplo. 
Acabamos de citar a frase que diz que "o melhor educador é o exemplo". Um antigo 
aforismo confirma que "é com o exemplo que Deus constrói, ou o Inimigo destrói". Por 
isso, porque tudo isso é verdade, precisamos abrir bem os olhos e fazer um exame de 
consciência. Não é possível viver fazendo de conta que, na realidade, a nossa influência 
sobre os filhos – e, em geral, sobre os que convivem conosco – é pequena, que tem pouco 
peso. Não é verdade! Nenhuma atitude nossa é neutra. Sempre faz bem ou faz mal, mesmo 
quando nada fazemos ("mas..., se eu não fiz nada!"), porque quase sempre as nossas 
omissões são a ausência de um bem necessário que deveríamos ter feito aos outros. 
Para esse exame de nós mesmos, vamos recorrer a um sistema que pode ser útil: 
olhar-nos no espelho de quatro imagens simbólicas utilizadas por Cristo para ilustrar, entre 
outras coisas, o valor do exemplo como foco de irradiação benéfica sobre a vida dos 
outros, especialmente sobre a vida daqueles que Deus nos confiou de maneira direta. São a 
imagem da luz, a imagem do sal, a imagem do fermento e a imagem do pastor. 
 Sobre cada uma delas projetaremos alguns flashes que despertem a nossa 
consciência e nos ajudem a fazer um esboço do nosso auto-retrato moral nesta matéria do 
exemplo. Talvez o auto-retrato nos cause um certo arrepio. Demos, então, graças a Deus, 
que não permitiu que continuássemos guiando os filhos com os olhos vendados. 
Feito esse exame prévio – com algum detalhe e diversas avaliações, algumas delas 
"quentes" e eventualmente “ardidas” –, passaremos para a segunda parte destas 
considerações, dedicada a uma reflexão mais aprofundada sobre as "forças do exemplo", 
ou seja, sobre as condições necessárias para que o exemplo seja, realmente, um 
instrumento eficaz para a formação dos filhos. Finalmente, a terceira e última parte estará dedicada à consideração das "três grandes tochas do exemplo cristão" (na hora veremos 
quais são), que contemplaremos encarnadas na vida grande e santa do Papa João Paulo II, 
que foi pai de uma família de milhões de filhos e orientador do mundo inteiro e, por isso, 
não hesito em propô-lo como modelo de pais e orientadores. 
 Acrescentarei ainda, nesta apresentação do plano geral da obra, que, embora todas 
as páginas focalizem o exemplo dos pais, procurarei referir-me com freqüência àqueles 
outros que têm também o dever de dar exemplo a adolescentes e jovens, ainda que em 
outro nível (nem sempre muito inferior ao dos pais), como são os mestres, os pastores de 
almas, os orientadores educacionais e psicológicos, etc. Desejaria, porém frisar, com todas 
as minhas forças, que nada nem ninguém pode substituir – salvo em casos muito 
excepcionais – a força do exemplo dos pais. Se este faltar, todos os outros exemplos 
ficarão enfraquecidos ou anulados. 

A IMAGEM DA LUZ 
AS OBRAS ACIMA DAS PALAVRAS 
 Vós sois a luz do mundo [...]. Brilhe a vossa luz diante dos homens, para que vejam 
as vossas boas obras e glorifiquem vosso Pai que está nos céus (Mat 5, 14.16). 
 A luz entra pelos olhos. O que os olhos enxergam em plena claridade fala por si, 
não precisa de palavras nem, muito menos, de "palavreado" para se explicar. 
 Assim é o bom exemplo, e assim o apreciaram sempre os grandes homens, 
sobretudo os santos. Já Santo Inácio de Antioquia, o bispo mártir do século II, enquanto era 
conduzido a Roma para ser atirado aos leões, escrevia aos Efésios: "É melhor calar-se e ser 
do que falar e não ser. É maravilhoso ensinar, quando se faz o que se diz [...]. Aquele que 
compreende verdadeiramente a palavra de Jesus pode entender o seu silêncio [ou seja, o 
que os seus exemplos "dizem" sem palavras]; e então será perfeito, porque atuará de 
acordo com a sua palavra, e se manifestará também mediante o seu silêncio [mediante o 
que faz sem falar]"5
.O doce Santo Antônio de Pádua adotava um tom santamente irado quando falava 
do exemplo: "É viva a palavra quando são as ações que falam. Cessem, peço, os discursos, 
falem as obras. Estamos saturados de palavras, mas vazios de obras" 6
. Hoje, a pedagogia 
científica insiste cada vez mais no valor insubstituível da chamada educação invisível 
7
; da 
força exemplar das convicções e das atitudes que as encarnam. 
 A imagem da luz é simples. A boa luz permite enxergar bem, sem confusões; 
mostra perigos que a sombra ocultaria; ilumina referenciais da paisagem e dos caminhos 
que a noite encobriria; a luz também aquece, estimula a vitalidade e favorece a alegria. 
Poderíamos dizer que os que irradiam a claridade do bom exemplo têm todas essas 
características da luz. 
EU SOU LUZ OU SOMBRA? 
 Tendo isso em mente, tentemos fazer o nosso exame de consciência, partindo de 
uma pergunta desafiadora. Eu sou luz ou sombra? O leitor quer enfrentá-la com coragem? 
Pois então, veja, só para exemplificar, alguns daqueles flashes, "lampejos" esclarecedores 
de que acima falávamos: 
– Se eu sou uma pessoa sincera, constante, organizada, leal à palavra dada e fiel 
aos compromissos, sou luz. Os outros – filhos alunos, etc. – , junto de mim, vêem claro e 
sentem-se seguros. Mas se sou pessoa mentirosa, inconstante, desordenada e volúvel, sou 
sombra. Os que dependem de mim ficam confusos, inseguros, não conseguem avaliar o 
alcance das minhas palavras, das minhas atitudes, das minhas promessas; em suma, não 
podem contar comigo como um farol orientador nem como um apoio. 
 – Se eu sou pessoa com ideais nobres e definidos na vida, pessoa que tem valores 
positivos – ânsias de fazer o bem – , que vibra com eles, que procura praticá-los; se sou 
pessoa cheia de fé e de esperança e posso dizer, como Jesus, eu sei de onde venho e para 
onde vou, então sou luz, mais ainda, sou reflexo da Luz com maiúscula, sou sinalização 
divina, foco cristão que orientará outras vidas. Mas se sou pessoa cética, agnóstica, cheia 
de incertezas e de pessimismo, convencida de que neste mundo nada há de bom, tudo é 
interesseiro, os valores são imaginários e os ideais tolices; se me julgo realista porque 
capitulo perante os interesses egoístas da terra e sou incapaz de ver, além deles, outra 
finalidade para a vida, então sou uma sombra mais daninha que uma cascavel oculta nas 
cobertas, e as primeiras vítimas podem ser os que mais amo. 
– Se eu sou um lutador que detesta o conformismo e a acomodação, um coração 
que sempre quer puxar a vida para patamares mais elevados e perfeitos – para aspirações 
nobres, para virtudes, para maiores quilates de amor e amizade – ; se detesto a 
mediocridade, se vibro com ânsias de justiça, se arquiteto sonhos realistas para tornar o 
mundo mais fraterno e belo e os demais mais felizes, então, com certeza, sou luz. Se, 
porém, cochilo na rede da canseira moral e do desencanto; se resmungo mais do que 
animo, se tenho alma, coração, atitudes, palavras e gestos desbotados pela frustração; se 
faço troça dos sonhadores sacrificados, se tenho pena dos que "ainda" acreditam no amor, 
na verdade, na justiça e no bem, então eu sou, com certeza, uma treva miserável. 
– Se eu vejo, antes de mais nada, o lado positivo das coisas; se os meus 
comentários, em casa e fora de casa, sem serem ingênuos, são sempre estimulantes; se sou 
conhecido como aquela pessoa que sempre acolhe, que sempre está disposta a ajudar, que 
sempre anima, que sempre sorri, que alegra qualquer ambiente, então eu sou uma luz que 
concentra as sete cores da alegria. Mas se pertenço ao rol daqueles que, mal aparecem em 
casa, ou se sentam à mesa, ou entram na sala de aula, iniciam uma nova era glacial, 
apagam o sorriso dos outros ("fechou o tempo" – dizem deles); se a minha característica é 
a irritação, a impaciência e o mau humor; se reclamo de tudo e de todos; se acho tudo 
ruim; se não agradeço nada; se tenho pena de mim mesmo e ando com complexo de vítima 
– então, meu amigo, então eu sou uma sombra pior que as que Dante pinta no Inferno. 
 Guardemos estas amostras e passemos para uma segunda imagem. 
A IMAGEM DO SAL 
 Vós sois o sal da terra. Se o sal perder o sabor, com que lhe será restituído o 
sabor? Para nada mais serve senão para ser lançado fora e calcado pelos homens (Mat 5, 
13).
Os ouvintes de Cristo podiam entender estas palavras, como nós, igualmente, pois 
sabemos qual é a utilidade do sal. Resume-a com simplicidade este pensamento de São 
Josemaria Escrivá: "Sal da terra. – Nosso Senhor disse que os seus discípulos – tu e eu 
também – são sal da terra: para imunizar, para evitar a corrupção, para temperar o mundo. 
– Mas também acrescentou «quod si sal evanuerit...» – que se o sal perde o seu sabor, será 
lançado fora e pisado pelos homens..."
Há pessoas que, tendo uma vida comum, igual à de muitos outros, dão a tudo o que 
dizem e fazem o toque de um "sabor" diferente.
Os que com eles convivem e se relacionam 
captam, talvez de modo inconsciente, que tudo neles é atraente, porque está condimentado 
pela bondade, pelo amor, pela caridade, pela lealdade, pela serenidade, pela fé.
Era isso o que acontecia com os primeiros cristãos, como relata um antiqüíssimo 
escrito do século II, a Carta a Diogneto: "Os cristãos não se distinguem dos outros 
homens, nem por sua terra, nem por língua ou costumes. Com efeito, não moram em 
cidades próprias, nem falam língua estranha, nem têm algum modo especial de viver [...]. 
Vivendo em cidades gregas e bárbaras, conforme a sorte de cada um, e adaptando-se aos 
costumes do lugar quanto à roupa, ao alimento e ao resto, testemunham um modo de vida 
singular e admirável [...]. Casam-se como todos e geram filhos, mas não abandonam os 
recém-nascidos. Põem a mesa em comum, mas não o leito; estão na carne, mas não vivem 
segundo as paixões da carne; moram na terra, mas têm a sua cidadania no céu; obedecem 
às leis estabelecidas, mas com a sua conduta ultrapassam as leis; amam a todos, ainda que 
sejam perseguidos por todos [...]. Em poucas palavras, assim como a alma está no corpo, 
assim estão os cristãos no mundo" (nn. 5 e 6). 
Fica patente nessa apologia que os primeiros cristãos eram, como Cristo desejava, o 
sal da terra. O seu "modo de vida singular e admirável", o seu exemplo – fruto palpável de 
sua fé e do seu amor – atraía os corações mais nobres dentre os pagãos. 
Mas não nos esqueçamos de que Cristo falou também do sal que perde o sabor, esse 
sal que, quando se estraga, não só deixa os alimentos insípidos, como pode vir a produzir 
náuseas. Talvez nos lembremos de umas palavras bastante fortes do Apocalipse, que Jesus 
dirige a uma comunidade em que começava a haver cristãos mornos, tíbios, dizendo-lhes – 
é duro! – que lhe provocavam ânsias de vômito. Trata-se de um trecho da carta dirigida à 
igreja de Laodicéia, muitas vezes citada nas obras de espiritualidade: Conheço as tuas 
obras: não és nem frio nem quente. Oxalá fosses frio ou quente! Mas, como és morno, nem 
frio nem quente, estou para te vomitar da minha boca (Apoc 3, 15-16). 
 Nem frio nem quente. Na vida de um cristão morno, tudo é insípido, tudo tem o 
mau sabor de sal corrompido. Assim acontece, infelizmente, com o amor decadente, 
desleixado e rotineiro dos esposos, dos pais, esse amor que, por não se renovar com 
detalhes de delicadeza, criatividade e abnegação, foi ficando encardido, esgarçado, e 
acabou tendo cheiro de mofo, para não dizer odor de cadáver. 
São Josemaria Escrivá dizia: "Fujamos da rotina como do próprio demônio", e 
qualificava a rotina de "abismo, sepulcro", armazém de coisas mortas 9
. A rotina não é só o 
túmulo do amor dos esposos. Também o trabalho feito sem amor, sem perfeição e capricho 
nos detalhes, sem espírito de serviço (pense no trabalho no lar), fica sendo como uma 
comida insossa e azedada... O "exemplo" de pais assim, espiritualmente mais "mortos" do 
que "vivos", é natural que não atraia nem faça bem algum. Como seria triste, ou melhor, 
trágico, que houvesse filhos que pensassem: – "Eu não quero ser como os meus pais! Eles 
me fizeram desacreditar do casamento, do amor, da família, da vida". Como seria amargo 
ter tido pais, mestres, pastores de almas, que foram incapazes de nos fazer sentir o gosto de 
Deus e, com Ele, as alegrias verdadeiras da vida! 
A IMAGEM DO FERMENTO 
 O Reino dos céus é comparável ao fermento que uma mulher toma e mistura em 
três medidas de farinha e que faz fermentar toda a massa (Mat 13, 33). 
Esta imagem é importante, sobretudo nos tempos atuais. Lembra-nos que o mundo 
é uma "massa" carente, quase inteiramente, da qualidade do bom pão das virtudes cristãs, 
da consistência e do sabor da verdade e da lei de Deus. Por isso, o exemplo dos cristãos 
responsáveis, no seu ambiente é decisivo. Para transformar a massa em pão de Deus, o 
fermento precisa ter uma força e uma eficácia capazes de levantá-la. Uma força que só 
Cristo pode dar. É algo que, apontando-o agora, veremos mais em profundidade na 
segunda e na terceira parte destas páginas.
Ms não podemos deixar de constatar desde já que vivemos, de fato, numa sociedade 
cada vez mais massificada, em que o ambiente materializado e incrédulo que nos cerca 
despersonaliza as pessoas; massificando-lhes a cabeça, os costumes, os gostos e os vícios, 
até quase anular a personalidade.Cria, em série, adolescentes e jovens consumistas e 
hedonistas. Basta abrir os olhos para perceber que a "cultura global de massa" robotiza a 
juventude. Se não houver educadores-fermento, cheios da vitalidade do ideal cristão, a 
inércia cega dos adolescentes que não pensam (talvez porque nunca viram nem aprenderam 
nada melhor por parte dos que deviam educá-los) os colocará na boca do lobo,da "cultura ambiente"
materialista e pagã.
Sob a influência crescente da mídia, do marketing internacional, dos impérios 
jornalísticos, da propaganda dominada pela ditadura do lucro – interesses de empresas, de 
laboratórios, de companhias globais; império econômico do lazer; da indústria da droga e 
da pornografia... –, tudo se globaliza. E vai sendo também cada vez mais forte sobre a 
juventude e, em geral, sobre a massa, a influência, não menos ditatorial, das ideologias 
predominantes (sobretudo do laicismo anti-religioso, dos resíduos imuno-resistentes do 
marxismo, do hedonismo consumista e das diversas formas de esoterismo e de "mística" 
New Age). 
Nada mais fácil, nesse clima envolvente, que tornar-se massa. Nada mais fácil que 
aceitar, sem anti-corpos de idéias, de doutrina, de cultura e de espírito crítico, os valores 
(os contravalores) da maioria que segue a corrente. Nada mais fácil – é só deixar-se puxar 
pelo cabresto – que adotar os hábitos sociais comuns e mergulhar bem cedo, já na infância 
e na adolescência, nos vícios generalizados (álcool, drogas, obsessões "eletrônicas", 
aberrações sexuais), enquanto leituras, programas de tv, "mestres", etc, vão injetando na 
"veia" todos os preconceitos contra as atitudes cristãs fundamentais, os valores éticos 
básicos, as evidências da lei natural sobre a vida, a morte, o amor e a família, valores – 
infelizmente – nunca conhecidos com seriedade, nunca aprendidos com profundidade. 
 "A pós-modernidade – afirma Víctor García Hoz – é um grande vácuo. A profusão 
de idéias contraditórias, o relativismo predominante em muitas ideologias e o pragmatismo superficial da sociedade atual, dão razão ao ditado de que o mundo de hoje, especialmente 
a juventude, sabe o que não quer, mas não sabe o que quer [...]. Os valores que apoiavam a 
vida humana foram rejeitados e não foram substituídos por outros.O pensamento da pós-modernidade vacila entre a melancolia  e o vazio"
Não feche os olhos! É em meio a essa massa desnorteada que se encontram os seus 
filhos, os seus alunos, os membros do seu rebanho de pastor. Muita boa gente, ao constatar 
isso, sofre, sofre muito. Mas, o que faz? O que fazemos? Lutamos, porventura, cada um de 
nós, por ser o fermento de que essa massa manipulada precisa para ganhar qualidade 
humana e cristã? Os nossos critérios e comportamentos têm a potência do fermento, capaz 
de levedar a massa e transformá-la em bom pão? 

Pense que é Deus quem lhe dirige, silenciosamente, estas interrogações. O que lhe 
vai responder? 

A IMAGEM DO PASTOR 
PASSOS QUE ASSINALAM O CAMINHO 
 Na belíssima parábola do Bom Pastor, Cristo reúne mensagens cheias de riqueza 
espiritual. É claro que a parábola é, em primeiro lugar, um auto-retrato de Cristo – o bom 
pastor que dá a vida pelas suas ovelhas (Jo 10, 11) – e, em segundo lugar, uma pauta para 
os pastores da Igreja. Mas as ricas virtualidades da palavra de Cristo atingem a todos, e, 
assim, a imagem do pastor que depois de conduzir todas as suas ovelhas para fora do 
aprisco, vai na frente delas, indicando-lhes o caminho com os seus passos, e as conduz à 
pastagem (cfr. Jo 10, 3 e 4), é especialmente ilustrativa para os que temos o dever de 
orientar e guiar. 
 A imagem do bom pastor lembra-nos, acima de tudo, a necessidade de ir na frente, 
marcando o rumo com os nossos passos, ou seja, com o nosso exemplo. Esse dever 
reveste-se de uma especial gravidade quando se trata dos pais. Assim o recordava São 
Josemaría Escrivá, numa homilia sobre a família: "Os pais educam fundamentalmente com 
a sua conduta. O que os filhos e as filhas procuram no pai e na mãe não são apenas uns 
conhecimentos mais amplos que os seus, ou uns conselhos mais ou menos acertados, mas 
algo de maior categoria; um testemunho do valor e do sentido da vida encarnado numa 
existência concreta, confirmado nas diversas circunstâncias e situações que se sucedem ao 
longo dos anos. 
" Se tivesse que dar um conselho aos pais, dir-lhes-ia sobretudo o seguinte: que os 
vossos filhos vejam – não alimenteis ilusões, eles percebem tudo desde crianças e tudo 
julgam – que procurais viver de acordo com a vossa fé, que Deus não está apenas nos 
vossos lábios, que está nas vossas obras, que vos esforçais por ser sinceros e leais, que vos 
quereis e os quereis de verdade. 
"Assim contribuireis da melhor forma possível para fazer deles cristãos 
verdadeiros, homens e mulheres íntegros, capazes de enfrentar com espírito aberto as 
situações que a vida lhes apresente, de servir aos seus concidadãos e de contribuir para a 
solução dos grandes problemas da humanidade, levando o testemunho de Cristo aonde 
quer que se encontrem mais tarde, na sociedade" 11
 Também o simbolismo do pastor nos sugere uma porção de perguntas. Formulemos 
umas poucas: 
– quando quero incutir nos meus filhos o dever de estudar e aproveitar o tempo, 
dou-lhes antes – e sempre – o exemplo pessoal de aproveitá-lo? (que não me vejam perder 
horas infinitas diante da televisão, ou em navegações inúteis na Internet, ou dormindo fora 
de horas); 
– quando exijo ordem nas roupas, prateleiras, armários e horários, esforço-me 
primeiro por ser eu mesmo mais ordenado nos meus papéis, contas bancárias e cartões, 
prazos, livros e gavetas, roupas, etc, e na distribuição do meu tempo? 
– se incentivo os filhos a serem generosos e respeitosos para com os outros, começo 
dando eu exemplo de generosidade para com eles e para com todas as pessoas que 
precisam do meu tempo ou da minha ajuda material ou espiritual; e, se lhes peço respeito, 
adianto-me antes a respeitá-los (e nunca os humilho com as minhas "broncas", nem os 
ridicularizo, nem os rebaixo com comparações e censuras acachapantes)? Eles, além disso, 

me vêem tratar com deferência todas as pessoas, de qualquer nível e condição social, sem 
discriminações? 
 – quando os incentivo a praticar a religião, a ser bons cristãos, por acaso eles 
contemplam em mim uma religiosidade sincera, quer porque lhes peço o que 
habitualmente já pratico (não só ocasionalmente e com as desculpas – que eles não 
engolem – de que sou um adulto ocupado e não tenho tempo); quer porque a minha 
religiosidade não consiste apenas numas práticas formais, mas consta de práticas vivas 
(oração, confissão, Missa e comunhão freqüente, leituras formativas...), das quais se nota 
que tiro luzes e forças para o dia a dia, e se percebe que é precisamente da minha 
religiosidade sincera que nascem uma maior alegria, mais paciência, boa disposição e 
carinho mais delicado para com todos? 
 É muito certa a comparação que se faz no "Diretório de pastoral familiar", antes 
citado: "Os caminhos educacionais são semelhantes às trilhas nas florestas: não bastam os 
sinais indicadores; é preciso um guia, que vá à frente e mostre, com a sua experiência, as 
passagens mais seguras, os lugares menos perigosos, as picadas mais diretas. Da mesma 
forma, a alegria, a paz e todos os valores de um lar têm de encontrar a sua fonte na 
vivência dos próprios pais" 
TAMBÉM HÁ LOBOS E MERCENÁRIOS 
 A parábola do Bom Pastor fala, por contraste, do mercenário: O mercenário, que 
não é pastor, a quem não pertencem as ovelhas, quando vê que o lobo vem vindo, 
abandona as ovelhas e foge; e o lobo rouba e dispersa as ovelhas (Jo 10, 12). 
 Cristo nos lembra que, ao lado dos bons pastores, existem os mercenários que 
fogem dos lobos. Seria muito penoso que os pais, os pastores de almas e os educadores 
encarnassem a figura covarde do mercenário que se omite, que foge de enfrentar os 
problemas difíceis das crianças, adolescentes e jovens e os abandona à mercê dos lobos. 

Mas mais penoso ainda seria que encarnassem a figura do lobo. E fariam isso, 
infelizmente, os que, chamados por Deus para serem pastores, em vez de edificar, 
destruíssem com os seus maus exemplos. 
 Podem ser chamados de lobos – por dura que pareça a expressão – os pais e 
educadores que, com as suas próprias mãos, isto é, com os seus maus conselhos e os seus 
péssimos exemplos, empurram os filhos e educandos para a desorientação, o erro, a má 
conduta, a confusão religiosa, espiritual e moral. 
Fazem isso, sem dúvida, os que se gabam, diante dos filhos ou dos alunos, de 
desprezar a religião e a Igreja, e não se cansam de expelir sarcasmos contra a fé e a moral 
"tradicional"; os que exibem exemplos de mau comportamento pessoal, ou de falta de 
escrúpulos nos negócios, ou, então, péssimos exemplos de infidelidade, justificada em 
nome dos direitos do egoísmo (de um egoísmo mais forte que o amor conjugal e o carinho 
pelos filhos, um egoísmo que não hesita em provocar separações traumáticas com a única 
mira de buscar a "felicidade" pessoal ao preço da infelicidade da família). Esse tipo de 
"exemplo" diabólico tem o nome de "escândalo". 

Parecido com esse é o mal provocado por um lobo aparentemente mais manso; 
chame-o de raposa, se quiser. Refiro-me ao mau exemplo que muitas mães dão às filhas 
em matéria de moda, de compras descontroladas, de dependência viciada das telenovelas e 
bingos e, em geral, de futilidade e frivolidade mundana. Dirão que não é nada, que são 
bobagens. Também era nada, aparentemente, a "vovozinha" de Chapeuzinho vermelho, 
coitada, mas tinha dentes grandes e afiados, prontos para matar. 
 Creio que faria muito bem a essa mães "inconscientes" pegar num bom catecismo, e 
recordar, em relação à moda, um ponto fundamental da doutrina cristã sobre o nono 
mandamento da Lei de Deus: "A pureza de pensamento e de coração exige o pudor, que 
preserva a intimidade da pessoa. Jesus disse que o homem que olhar para uma mulher, 
desejando-a, já pecou com ela no seu coração. Por isso, a mulher tem o dever de cooperar 
com esse preceito vestindo-se com pudor e modéstia, sem pretextos de arte, moda e 
beleza"
Tudo isso é pecado de "escândalo" (induzir os outros a pecar), e, quando de trata de 
gente ainda imatura, não se pode esquecer o que Cristo disse sobre esse mal: Se alguém 
fizer cair em pecado um destes pequenos que crêem em mim, melhor fora que lhe atassem 
no pescoço uma mó de moinho e o lançassem ao fundo do mar. Ai do mundo por causa dos 
escândalos! São inevitáveis, mas ai do homem que os causa! (Mat 18, 6-7). O Catecismo 
da Igreja Católica, ao recordar este ensinamento de Jesus, frisa especialmente que "o 
escândalo é grave quando é dado por aqueles que, por natureza ou por função, devem 
ensinar e educar os outros" (n. 2285). 
 Mas, ao lado do escândalo, que transforma pais e educadores em lobos 
depredadores, há uma outra atitude que também causa muito dano: é a dos pais e 
educadores que, sem dar maus exemplos nem maus conselhos, simplesmente se omitem e 
fogem, como o mercenário, amedrontados e sem ação, perante as dificuldades que o 
ambiente opõe à educação dos adolescentes e jovens nos nossos dias: quando vê que o lobo 
vem vindo, abandona as ovelhas e foge. 
 Essas omissões e fugas, na linguagem clássica cristã, denominam-se "respeitos 
humanos". "Respeitos humanos" que consistem no receio, na vergonha de sermos 
considerados diferentes da maioria; no pavor de "chocarmos com o ambiente" e de que nos 
julguem atrasados, ridículos, carolas ou defasados em relação à evolução dos tempos, e 
insensíveis aos progressos dos costumes e da modernidade. 
Comentando essa covardia, que se inibe e cede perante o erro, dizia São Josemaria 
Escrivá: "Assusta o mal que podemos causar, se nos deixarmos arrastar pelo medo ou pela 
vergonha de nos mostrarmos como cristãos na vida diária". E acrescentava: "É verdade que 
nós, os filhos de Deus, não devemos servir ao Senhor para que nos vejam..., mas não nos 
há de importar que nos vejam, e muito menos podemos deixar de cumprir porque nos estão 
vendo!" 14
 Não "podemos deixar de cumprir" o dever de ensinar o que é certo (indo na frente 
com o nosso exemplo), de alertar nitidamente – dando também nós o exemplo – sobre o 
que está errado (mesmo que quase todo o mundo o julgue normal), de não autorizar – com 
carinho, mas com firmeza – diversões, viagens em grupo, espetáculos, baladas, modos de namorar..., que são ofensas a Deus (mesmo que passemos por intransigentes obsoletos); de 
ensinar e exigir com carinho a disciplina de horários e tarefas, necessária para que os filhos 
e os alunos não caiam numa vida desregrada... 
A luta não é fácil. Precisa ser travada com coragem e confiança em Deus. E com a 
pureza de quem age sob o olhar de Deus e não buscando a aprovação dos homens. Não nos 
esqueçamos de que hoje não há outro remédio senão enfrentar a pressão consumista e 
hedonista que domina a sociedade, e que ceder a caprichos e abusos, por medo de que "os 
outros" critiquem ou zombem, só faz mal aos filhos, e pode destruir-lhes o caráter e a alma. 
O pastor não pode fugir. 
Vale a pena pensar em todas estas coisas que – como dizíamos – são como um 
primeiro exame, uma análise prévia, antes de entrarmos mais a fundo na consideração das 
raízes, dos alicerces mais profundos do exemplo. Mas, além de fazermos os exames de 
consciência acima sugeridos, será bom levantar o coração a Deus, e animar-nos com estas 
palavras de um grande e santo educador: "Com a tua conduta..., mostra às pessoas a 
diferença que há entre viver triste e viver alegre; entre sentir-se tímido e sentir-se audaz; 
entre agir com cautela, com duplicidade – com hipocrisia! – , e agir como homem simples 
e de uma só peça. – Numa palavra, entre ser mundano e ser filho de Deus" 

SEGUNDA PARTE: AS "FORÇAS" DO EXEMPLO 
 A primeira parte desta obra, como acabamos de recordar, foi um convite para o 
exame de consciência, especialmente para a análise das falhas e omissões que se possam 
dar no campo do dever de dar exemplo aos filhos e, em geral, à juventude que devemos 
orientar. 
 Esta segunda parte quer ser outro tipo de apelo à responsabilidade de pais e 
educadores, uma pancada na porta da consciência, da inteligência e da vontade de muitos 
cristãos que têm boas intenções e bom coração, mas que não conseguem dar exemplo 
eficaz e se sentem fracassados (com razão!). Procuraremos ver que esse fracasso acontece quase sempre porque lhes falta o brilho da luz, o sabor do sal e a força do fermento. Por 
isso, o exemplo que desejariam dar tem a fraqueza de um remédio "vencido", que já não 
possui a virtude do princípio ativo que deveria fortalecer ou curar. 
 E, quais são essas "forças"? Vou resumi-las em duas, inspirando-me na expressão 
utilizada por João Paulo II numa famosa encíclica: o esplendor da verdade e o esplendor 
da virtude. A cada um desses dois "esplendores" dedicaremos um item especial: mais 
amplo ao primeiro, mais breve ao segundo. 
Parece-me necessário incluir, nestes pontos, algumas digressões doutrinais 
relativamente extensas, que não creio que nos afastem do tema, pois, pelo contrário, podem 
levar-nos a enxergar melhor e superar a miopia. Pense que, na raiz dos nossos 
comportamentos e atitudes, estão sempre convicções, idéias, filosofias de vida, influências 
nem sempre conscientes de certos modos de pensar. Por isso, julgo que não perderemos o 
tempo dedicando algumas reflexões a idéias (e a ideologias) que são de uma candente 
atualidade e que influenciam muito a juventude. 
I. O ESPLENDOR DA VERDADE 

NÉVOAS QUE MATAM 
 Começarei lembrando um episódio real. Encontrava-me há alguns anos numa 
reunião de trabalho em Roma, quando uma manhã recebemos uma notícia chocante. Um 
acidente causara a morte de um excelente colega, um sacerdote inglês chamado Philip. 
 Estando na Irlanda, durante uns dias de formação mais intensa – a formação 
permanente de que todos os padres precisam –, father Philip aproveitou um intervalo de 
descanso para dar, com um companheiro de curso, um passeio pelo campo contíguo à casa, 
um pasto verde, ondulado, típico das terras da Irlanda. Inopinadamente, baixou uma névoa, 
que se foi adensando, de modo que os dois colegas mal conseguiam ver-se, embora 
continuassem a conversar. Devagar, confiando no terreno conhecido, foram dando a volta 
para regressar. Num dado momento, porém, o colega percebeu que father Philip não 
respondia. Estranhou, chamou por ele várias vezes. Silêncio. Correu o mais que pôde, naquela escuridão, para pedir ajuda, e acabaram por encontrá-lo. Escorregara, sem 
perceber, e despencara num barranco escarpado, que a névoa lhe ocultou. Acharam-no 
morto. Deus sabia que era a hora de tomá-lo para sempre em seus braços. 
 Lembrei-me do bom father Philip, pensando que, se a neblina já causou muitas 
mortes físicas, causa ainda mais mortes espirituais. 
 O mundo atual anda confuso, já o recordávamos na primeira parte. A verdade e os 
valores estão ocultos as olhos de muitos, como se uma forte cerração os envolvesse. Tudo 
parece difuso, impreciso, discutível, sem contornos claros, na gangorra da dúvida. Há 
verdades mutiladas que andam de braço dado com erros (meio Cristianismo, meio 
espiritismo, meio esoterismo, meio hinduísmo, meio ateísmo). Há valores morais 
transtornados, que deixam esbatidas e cada vez menos perceptíveis as fronteiras entre o 
bem e o mal. Ainda é um valor a família? E o casamento? E a fidelidade? E que dizer da 
ética nos negócios e na política? E – no terreno religioso – continuam válidas a missa e a 
confissão? Porventura o catecismo não está ultrapassado quando declara que "o pecado 
carnal contra a natureza brada aos céus", ou quando afirma que, para se poder comungar 
dignamente, é preciso confessar antes individualmente todos os pecados graves de que se 
tiver consciência? 

Ao constatar, entre os jovens estudantes, essas confusões que grassam no terreno 
adubado da ignorância religiosa e dos erros morais predominantes, muitas vezes me ocorre 
dizer-lhes, de maneira gráfica, que não se pode viver com "uma nuvem na cabeça". Não é 
possível ter bom rumo na vida com neblina em vez de idéias, com cerração em vez de luz. 
Quem é que consegue avançar pelo caminho da vida sem referenciais claros sobre o que é 
verdadeiro e o que é falso, o que é certo e o que é errado? 
Mas a verdade é que a fonte do mal, responsável por essas nuvens nas cabeças 
juvenis ainda não formadas, são as nuvens instaladas no pensamento e na sensibilidade dos 
que deveriam formá-los. Aquele meu colega, por causa da névoa, despencou sozinho num 
barranco mortal. Os pais, os educadores e os pastores de almas desorientados, impregnados 
de equívocos e lacunas, nunca vão despencar sozinhos: arrastarão atrás de si filhos, alunos, 
fiéis cristãos que Deus lhes confiou. 

É muito importante, portanto, que, abandonando qualquer leviandade mental, 
tomemos consciência de que, tal como forem as nossas idéias (claras, escuras, frívolas, 
vazias ou aberrantes), assim serão as orientações que dermos. Faz-nos uma falta tremenda 
possuir verdades-luz, idéias-mestras, convicções assumidas e arraigadas na vida, porque 
delas – ainda que não nos apercebamos disso– brota espontaneamente o exemplo, tudo o 
que, positiva ou negativamente, irradia com a força do exemplo: o que dizemos, o que 
fazemos, o nosso modo de reagir perante fatos, notícias, artigos de jornal, idéias novas; o 
que aconselhamos aos filhos sobre os seus problemas, o que nos guia nas crises 
familiares... É também das nossas convicções que brota o que louvamos, o que 
escolhemos, o que nunca largamos porque o julgamos prioritário, e aquilo que 
descuidamos sem remorso, porque não achamos que tenha importância. Tudo isso se 
traduz diariamente – através de cada gesto, expressão do rosto, trejeito, comentário, 
atitude, irritação ou alegria – em bom ou mau exemplo. Convençamo-nos, pois, de que o 
bom exemplo está vinculado, muito mais do que imaginamos, ao fato de que o esplendor 
da verdade (e da bondade) ilumine a nossa mente e o nosso coração. Quem não for capaz 
de enxergar isso, além de se enganar redondamente, desertou da sua responsabilidade de 
educador. 
REFLETIR A VERDADE SOBRE DEUS 
 Comecemos por abrir o Evangelho e focalizar uma mulher perdida no nevoeiro da 
vida: a samaritana (Jo 4, 1 seg.). Jesus vê-a chegar ao poço de Jacó, junto do qual ele se 
sentara num meio-dia tórrido. Fatigado pelo caminho e sedento, pede-lhe de beber e ela 
recusa. 
 A cena é tão rica de detalhes e sugestões, que já deu assunto para livros inteiros. 
Aqui apenas focalizaremos uns retalhos da conversa. O Evangelho mostra-nos a samaritana 
como uma mulher vivida – nada a deteve na procura da felicidade (Cinco maridos tiveste, e 
o que agora tens não é teu, disse-lhe Jesus) –, apresenta-a como uma pessoa amargurada e 
frustrada que, minada pelo vazio interior, começa a abrir uma frestinha da alma à 
esperança que Jesus lhe oferece: – Se conhecesses o dom de Deus e quem é que te diz "dá-
me de beber", tu lhe pedirias e ele te daria água viva [...]. Quem beber da água que eu lhe 
darei, nunca mais terá sede... 

Pouco a pouco, com carinho e paciência, Jesus vai descerrando os ferrolhos que 
trancavam aquela pobre alma, e ajuda-a a perceber que, no fundo, tinha uma infinita 
necessidade de Deus. Se conhecesses o dom de Deus...! – assim começara a falar-lhe Jesus; 
depois, acrescentará: Vós [os samaritanos] adorais o que não conheceis; e acabará, enfim, 
rasgando diante dela o horizonte maravilhoso das almas que conhecem a Deus e, por isso, 
se tornam verdadeiros adoradores, que amam, que mudam de vida, que servem a Deus em 
espírito e em verdade. Profundamente emocionada, feliz, a mulher corre a comunicar a sua 
alegre descoberta aos parentes e vizinhos. Contagiados pelo seu entusiasmo, muitos 
samaritanos daquela cidade – diz o Evangelho – acreditaram em Jesus. 
 Se nós soubéssemos escutar, perceberíamos, também agora, que Cristo continua a 
dizer-nos: –Se conhecesses o dom de Deus! E experimentaríamos um estremecimento na 
alma ao escutar de novo o som irresistível destas suas palavras: – Eu sou a verdade (Jo, 
14, 6). – Eu sou a luz do mundo; aquele que me segue não andará em trevas, mas terá a 
luz da vida (Jo 8, 12). 
Nós, os cristãos, os católicos, desde que fomos iniciados na fé, que Deus já 
infundira na nossa alma com o Batismo, confessamos que Jesus é o Verbo divino, a 
segunda pessoa da Santíssima Trindade, que se fez carne e habitou entre nós (Jo 1, 14); e a 
cada Natal lembramos comovidos este mistério; da mesma forma que, na Semana Santa, 
revivemos o amor ilimitado que levou Deus feito homem a morrer na Cruz por nós.

Quando rezamos as invocações tradicionais diante do Santíssimo Sacramento exposto, 
dizemos: "Bendito seja Jesus Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro homem". E, assim, 
sabendo, como sabemos, que Ele é Deus e, portanto, que Ele é a Verdade, somos impelidos 
a cultivar ânsias de conhecer essa Verdade, a única que esclarece e salva. 
 Se tivéssemos fé, morreríamos de pena se Cristo viesse em pessoa ao nosso 
encontro e nos repetisse o que disse a Filipe na Última Ceia: Há tanto tempo que estou 
convosco e ainda não me conheces? (Jo 14, 9)? Não haveríamos de reconhecer que tem 
toda a razão? 
É justamente este nosso desconhecimento, esta nossa ignorância, o que nos torna 
incapazes de projetar sobre os outros a luz de Cristo e de guiá-los por ela. E assim ficamos sendo cegos que guiam outros cegos (Mat 15, 14). Quer que os seus filhos se queixem 
disso, no dia do juízo? 
PROCURAR O ROSTO DE CRISTO 
 Constatando essas deficiências, tão generalizadas entre os católicos atuais, tão 
lamentáveis nas famílias e nas escolas, compreende-se bem que o Papa João Paulo II 
colocasse, como eixo do programa da Igreja para o terceiro milênio, "procurar o rosto de 
Cristo" 16, pois esse é o ponto de partida de qualquer esperança de melhora do homem e da 
sociedade. 
 "Certamente – escrevia o Papa ao começar o milênio – não nos move a esperança 
ingênua de que possa haver uma fórmula mágica para os grandes desafios do nosso tempo; 
não será uma fórmula que nos há de salvar, mas uma pessoa e a certeza que nos infunde: 
Eu estarei convosco! 

"Sendo assim, não se trata de inventar um programa novo. O programa já existe: é o 
mesmo de sempre, expresso no Evangelho e na Tradição viva. Concentra-se, em última 
análise, no próprio Cristo, a quem temos de conhecer, amar e imitar" 17
 Na prática, isso quer dizer que precisamos levar muito a sério a formação, e a 
oração, que é amizade e trato com Cristo, porque só tratando-o e amando-o é que 
chegamos a conhecê-lo bem e a "sentir" a sua verdade. "Seguir Cristo – dizia São 
Josemaría Escrivá –: este é o segredo. Acompanhá-lo tão de perto, que vivamos com Ele, 
como aqueles primeiros doze, tão de perto, que com Ele nos identifiquemos [...] Neste 
esforço de identificação com Cristo, costumo distinguir como que quatro graus: procurá-
lo, encontrá-lo, tratá-lo, amá-lo [...]. Procuremos o Senhor com fome". 18
 Procuremos, como? Empenhando-nos na melhora efetiva da nossa formação cristã, 
o que significa não ficarmos em meros desejos, mas tomar decisões práticas de nos 
dedicarmos diariamente, com constância "profissional", à leitura e meditação do 
Evangelho (de todo o Novo Testamento), gastando nisso pelo menos cinco minutos por 
dia, até nos familiarizarmos com ele, "entrando" na vida de Jesus e dos Apóstolos. 
Também significa tomar a decisão de fixar horários diários e semanais para outras leituras 
pausadas – lendo, relendo, estudando, anotando – de livros do Antigo Testamento, de obras 
sólidas de doutrina católica e de espiritualidade (não de "novidades" frívolas e discutíveis, 
que debicamos por moda ou curiosidade). 
A seguir – e sem a menor pretensão de indicar uma lista completa –, sugiro alguns 
títulos de obras sobre doutrina católica, que se têm demonstrado muito úteis para uma 
formação básica completa de pais, pastores der almas e educadores, bons instrumentos para 
aprender e ensinar: 
– Em primeiro lugar, ainda que seja como um "curso superior" de alto nível, o 
Catecismo da Igreja Católica, Edição Típica Vaticana, Ed. Vozes e Loyola, 1999. É uma 
obra imprescindível em todo o lar cristão, para resolver dúvidas e esclarecer idéias (possui, 
no final, um índice de matérias excelente) e para um estudo mais elevado das questões 
relacionadas com a fé e a moral católica.
– O Compêndio do Catecismo da Igreja Católica, promulgado pelo Papa Bento 
XVI em 28 de junho de 2005, e recomendado por ele com estas palavras: "O Compêndio, 
que agora apresento a toda a Igreja, é uma síntese fiel e segura do Catecismo da Igreja 
Católica. Contém de forma concisa todos os elementos essenciais e fundamentais da fé da 
Igreja, constituindo, como tinha desejado meu Predecessor [João Paulo II], uma espécie de 
vademecum, que dá a possibilidade às pessoas, crentes e não-crentes, de abarcarem numa 
visão de conjunto o panorama inteiro da fé católica". A edição brasileira foi lançada pela 
CNBB e Ed. Loyola em julho de 2005. 
– Enrique Pèlach: Catecismo breve, Quadrante, São Paulo 1997: 
– Leo Trese: A fé explicada, 5ª edição, Quadrante, São Paulo 1995, livro de teologia 
para leigos muito completo – talvez o melhor existente no seu gênero – , acessível a todos 
e altamente recomendável, quer para a formação pessoal, quer para a preparação de aulas e 
palestras de doutrina. 
– Ricardo Sada, Alfonso Monroy e outros autores: os três volumes dos Cursos de 
Teologia Dogmática, Teologia Moral, Sacramentos, Ed. Rei dos Livros, Lisboa, 1989, 
também acessíveis a todos, dotados de excelente linguagem pedagógica, e muito úteis para 
o estudo e o ensino da doutrina católica. 
– J. Pérez de Urbel: A vida de Cristo, Quadrante, 3ª edição, São Paulo 1999: uma 
leitura amena, que é como a chave para abrir a porta da compreensão dos Evangelhos. 
Como é importante conhecer o exemplo e os ensinamentos de Cristo, com o auxílio de 
historiadores e comentaristas de alto nível e boa didática, como é o caso desse autor. 
"Cristo, o Filho de Deus feito homem – diz o Catecismo da Igreja (n. 65) – , é a Palavra 
única, perfeita e insuperável do Pai. Nele o Pai disse tudo, e não haverá outra palavra senão 
esta". 
Naturalmente, esta lista, com os anos, precisará de ser completada e atualizada. 
"IRRADIAR O CONHECIMENTO DO ESPLENDOR DE DEUS" 
 Sobre os frutos de uma fé esclarecida, há umas palavras belíssimas de São Paulo: 
Deus que disse: "Das trevas brilhe a luz", é também aquele que fez brilhar a luz em nossos 
corações, para que irradiássemos o conhecimento do esplendor de Deus, que se reflete na 
face de Cristo (2 Cor, 4, 6). 
 Permita-me repisar esta grande verdade: a fé viva, convicta, é o sangue nas veias do 
exemplo. Sem assimilar o "esplendor de Deus", sem absorver a fundo as grandezas e as 
luzes da fé "que se refletem na face de Cristo", será inútil tentar atrair os filhos, alunos, 
paroquianos com palavras e conselhos. Eles perceberão que o nosso exemplo é um 
fantoche vazio e que, por isso, as nossas palavras são ocas. 
 Por que é que hoje, mais do que nunca, o nosso exemplo precisa ter alicerces muito 
fortes de doutrina? 
 Em primeiro lugar, porque, hoje, o escuro é mais escuro do que nunca. A virulência 
das idéias, valores, critérios de vida e condutas não-cristãs e até mesmo anticristãs é, 
atualmente, mais poderosa e envolvente do que jamais o foi ao longo de dois mil anos de 
Cristianismo.
Creio que, nos nossos dias, é mais válida do que nunca a imagem simbólica de 
Santa Catarina de Sena, a donzela frágil e forte, toda chama de amor e coragem, que 
iluminou a Igreja no século XIV. No seu célebre livro O Diálogo, compara o mundo "dos 
mundanos", dos que vivem afastados de Cristo (o "mundo" que hoje encontramos em todos os cantos), a um rio poluído, mas que atrai fortemente. Os que estão mergulhados nele 
chamam – vociferando, esbaldando-se e cantando – os outros; e estes acabam por atirar-se 
às águas, como que atraídos por um ímã maligno, e se deixam arrastar pela correnteza, 
como se isso fosse a alegria de viver. Todos acabam afogados na imundície e perdidos para 
sempre. Só uma ponte permite atravessar o rio e salvar-se: Cristo, o "pontífice", o fazedor 
da única ponte que leva da terra para o céu: – Eu sou o caminho, a verdade e a vida (Jo 14, 
6). . 
 Não aduzi essa imagem gratuitamente. Todos, mas especialmente a nossa 
juventude, estão submergindo nesse rio com uma facilidade excessiva (o rio do hedonismo, 
dos caprichos banais, do consumismo, do álcool e das drogas, do sexo desregrado, da 
violência...). Não podemos esquecer que, até faz apenas uns quarenta anos, os valores 
cristãos iluminavam, com naturalidade, o pensamento dos católicos e das sociedades de 
maioria cristã. Grande parte das pessoas, evidentemente, não eram santas, mas tinham as 
idéias claras, sabiam o que as salvava e as perdia. A "cultura cristã" penetrava nelas como 
que por osmose e, ainda que não seja o ideal ser um "cristão osmótico", isso oferecia-lhes, 
no entanto, um salva-vidas na hora da crise. Nos momentos dramáticos e sofridos da vida, 
aquelas verdades do catecismo, aprendidas em quase toda escola pública ou privada 
(naquele tempo em que eram raros os pais católicos – e sobretudo as mães – sem noção dos 
valores, e os "professores de religião" semeadores de descrença e erros); nessa hora da 
crise, dizia, as verdades respiradas "no ar", guardadas e enraizadas inconscientemente no 
fundo do coração, emergiam, como passarelas de acesso à ponte de Cristo, que lhe permitia 
sair facilmente dos podres do rio e atravessá-lo até as alturas da verdade e do bem. 
Hoje isso não se dá. Com isso não se pode contar. A situação atual (não se trata de 
lamentos saudosistas, mas de sentir o tamanho da nossa responsabilidade) é exatamente a 
contrária, tal como a descrevia o cardeal Ratzinger, em 18 de abril de 2005, na homilia da 
Missa inaugural do Conclave que iria elegê-lo como Papa. Citando e comentando um texto 
de São Paulo, que acabava de ser lido nessa Missa, dizia: 
"Em que consiste ser crianças (imaturas) na fé? Responde São Paulo: significa ser 
batidos pelas ondas e levados ao sabor de qualquer vento de doutrina... (Ef 4, 14). Uma 
descrição muito atual. Quantos ventos de doutrina conhecemos nestes últimos decênios, 
quantas correntes ideológicas, quantos modos de pensamento... A pequena barca do  24
pensamento de muitos cristãos foi não raro agitada por estas ondas – lançada dum extremo 
ao outro: do marxismo ao liberalismo, até ao ponto de chegar à libertinagem; do 
coletivismo ao individualismo radical; do ateísmo a um vago misticismo religioso; do 
agnosticismo ao sincretismo e por aí adiante. 
"Todos os dias nascem novas seitas e cumpre-se assim o que São Paulo disse sobre o 
engano dos homens, sobre a astúcia que tende a induzir ao erro (cf. Ef 4, 14). Ter uma fé 
clara, segundo o Credo da Igreja, é freqüentemente catalogado como fundamentalismo, ao 
passo que o relativismo, isto é, o deixar-se levar ao sabor de qualquer vento de doutrina, 
aparece como a única atitude à altura dos tempos atuais. Vai-se constituindo uma ditadura 
do relativismo que não reconhece nada como definitivo e que usa como critério último 
apenas o próprio “eu” e os seus apetites. 
 "Nós, pelo contrário, temos um outro critério: o Filho de Deus, o verdadeiro homem. É 
Ele a medida do verdadeiro humanismo. Não é «adulta» uma fé que segue as ondas da 
moda e a última novidade; adulta e madura é antes uma fé profundamente enraizada na 
amizade com Cristo. É essa amizade que se abre a tudo aquilo que é bom e que nos dá o 
critério para discernir entre o que é verdadeiro e o que é falso, entre engano e verdade". 
Esse é, sem dúvida, motivo suficiente para que todos – pais, mestres e pastores de 
almas – se empenhem, com viva responsabilidade, para que a luz da doutrina – a doutrina 
cristã por eles assimilada – brilhe nos lábios deles com uma claridade nítida, porque a 
conhecem e amam; e brilhe através de um exemplo tão coerente com a doutrina, que seja 
capaz de contrabalançar e expelir para fora da vida dos jovens a agressividade das trevas 
do ambiente. Creio que é aplicável a todos os que têm uma responsabilidade especial de 
dar exemplo aquilo que São João Maria Vianney, o Cura d´Ars, dizia aos sacerdotes: – 
"Dai-me um padre santo, e tereis um povo bom. Dai-me um padre bom, e tereis um povo 
morno. Dai-me um padre morno, e tereis um povo mau". Onde diz "padre", ponha "pai", 
"mãe", "mestre"... E onde diz "povo", ponha "filho", "aluno", "orientando"
Vamos fazer um pouco de exame. Permita-me o leitor pegar num espelho, colocá-lo 
bem na sua frente, e pedir-lhe que se mire nele e seja sincero, mais uma vez, respondendo 
intimamente às perguntas que faço a seguir. Esclareço que vou perguntar quase somente 
aos pais (ainda que a maior parte dos quesitos possa servir para educadores, especialmente  25
os que dirigem instituições católicas de ensino ou lecionam nelas); e que as diversas 
perguntas, mesmo que ocupem algumas páginas, são apenas umas poucas entre mil: 

OLHANDO-NOS NO ESPELHO DE DEUS 
 – Jesus diz: Que adianta alguém ganhar o mundo inteiro, se perde a sua alma? 
(Mat 16, 26). Os seus filhos, que vêem os pais tão preocupados em que "ganhem o mundo 
inteiro", ou seja, em que tenham sucesso profissional e social, sentem em vocês , pais, uma 
preocupação, no mínimo igual, pelas suas almas? "Sentem" que os pais sofrem mais se os 
vêem cair em pecado mortal, se os vêem fracassar na fidelidade matrimonial, do que se os 
vêem falhar no vestibular, ou num concurso público ou num negócio? 
 – Jesus diz: Vinde, benditos de meu Pai! ... Pois eu estava com fome e me destes de 
comer; estava com sede e me destes de beber [...]. Todas as vezes que fizestes isso a um 
destes mais pequenos, que são meus irmãos, foi a mim que o fizestes![...]. E, em 
contrapartida: Afastai-vos de mim, malditos!...Pois eu estava com fome, e não me destes de 
comer...etc. Todas as vezes que não fizestes isso a um desses mais pequenos, foi a mim que 
o deixastes de fazer! (Mat 25, 34-45). 
Pais, será que, neste mundo interesseiro e ferozmente competitivo (ambicioso e 
invejoso), vocês ensinam os seus filhos a não ser egoístas, a sentir e praticar a 
solidariedade com os outros, especialmente os mais necessitados? Ensinam-lhes que vale 
mil vezes mais participar de uma iniciativa semanal de voluntariado do que todas as 
"baladas" do mundo? Ensinam-lhes que é mil vezes mais maravilhoso dedicar um feriado 
longo a um projeto social entre os pobres, os deficientes, os doentes, os anciãos 
abandonados, que passar esse feriado amontoados com outros vinte rapazes e moças numa 
casa de praia, entre bafos de álcool, maconha, cocaína e promiscuidade sexual?... Mas, será 
que vocês, pais, têm moral para ensinar? Será que dão exemplo? Os filhos vêem, 
porventura, em vocês essa generosidade e esse desprendimento? (Quero deixar claro que, 
ao dizer isso, não me estou esquecendo de que muitos pais e mães, graças a Deus, vão na 
frente, dando o sangue em muitas obras sociais, de caridade, de promoção, de misericórdia, 
às quais se dedicam com grande amor e alegria cristã e sem poupar sacrifícios. É justo 
lembrar isso). 
  26
 – A nossa fé católica nos diz, como um claro reflexo do mistério da Última Ceia e 
da Paixão, Morte e Ressurreição de Cristo: "A Missa torna presente o sacrifício da cruz 
[...], de modo que o único e definitivo sacrifício redentor de Cristo se atualiza 
incessantemente no tempo [...]. Este sacrifício é tão decisivo para a salvação do gênero 
humano, que Jesus Cristo o realizou e só voltou ao Pai depois de nos ter deixado o meio 
para dele participarmos como se tivéssemos estado presentes [...] O sacrifício eucarístico – 
a Missa – está particularmente orientado para a união íntima dos fiéis com Cristo por meio 
da comunhão [...]. Cristo se oferece como alimento..."19
 A pergunta, agora, é: – Os filhos "percebem" que os pais têm consciência da 
grandeza sublime da Missa, de que cada Missa (por cima das circunstâncias periféricas, 
como o jeito do padre, o interesse ou tédio da homilia, a beleza ou cacofonia dos 
cânticos...) é a presença do máximo ato de amor de Deus por nós, o ápice do amor, o cume 
da entrega de Jesus Cristo aos homens? Vêem nos pais uma fé e um amor à Missa e, em 
geral, à Eucaristia, que arrepia a pele da alma? Ou só os enxergam como cumpridores mais 
ou menos formalistas de um rito tradicional, ao qual acodem friamente, cheios de críticas 
sobre as falhas da igreja e do padre na celebração? 
 – O Catecismo da Igreja Católica, reafirmando o ensinamento multissecular da 
Igreja, diz: "A confissão individual e íntegra e a absolvição constituem o único modo 
ordinário pelo qual o fiel, consciente de pecado grave, se reconcilia com Deus e com a 
Igreja [...]. O fiel tem obrigação de confessar, na sua espécie e número, todos os pecados 
graves de que se lembrar após diligente exame de consciência, cometidos depois do 
batismo e ainda não diretamente acusados em confissão individual" 20
 Pais, vocês podem dizer que os filhos os vêem amar e praticar freqüentemente 
esse Sacramento da Reconciliação, que nos oferece a maravilha inefável de um Deus 
misericordioso que perdoa? Eles “sentem" que vocês são delicados e não vão comungar 
sem confessar-se, depois de uma briga ofensiva, ou de um ostensivo abuso de bebida, ou de uma crítica cruel a uma pessoa ausente? Detectam em vocês mudanças (para melhor) 
depois de cada uma das suas confissões? 
 – O Papa Bento XVI, ao encerrar, no dia 29 de maio de 2005, em Bari, o Congresso 
Eucarístico Nacional Italiano, evocou um episódio comovente das primeiros séculos do 
cristianismo: o dos mártires de Abitene, no Norte da África. No ano de 304, o imperador 
romano Diocleciano proibiu aos cristãos, sob pena de morte, entre outras muitas coisas, 
reunir-se aos domingos para celebrar a Eucaristia. Em Abitene, foram detidos num só 
domingo 49 cristãos que, reunidos na casa de um tal Otávio Félix, celebravam a Eucaristia. 
Julgados em Cartago e condenados a torturas atrozes e à morte, quando os juízes lhes 
perguntaram por que se expuseram a esses castigos, desobedecendo ao imperador, 
responderam singelamente: Sine dominico, non possumus! Sem o domingo, não podemos 
viver! 
 – Volto-me de novo para os pais. Será que os filhos vêem em vocês essa fidelidade 
ao "dia do Senhor" 21, esse sentido profundo da grandeza do domingo, desse dia dedicado a 
Deus, sobretudo pela participação comunitária na Missa? Ou percebem que qualquer 
desculpa, mesmo inconsistente (simples máscara da preguiça), serve para descumprir o 
preceito da Missa dominical? Se os pais têm dez desculpas, os filhos se sentirão 
justificados para terem cem. 
 – O Catecismo da Igreja Católica lembra um dever óbvio e gravíssimo dos pais: 
"Os pais são os primeiros responsáveis pela educação de seus filhos [...]. Pela graça do 
sacramento do matrimônio, receberam a responsabilidade e o privilégio de evangelizar os 
filhos. Por isso, os iniciarão desde tenra idade nos mistérios da fé [...]. A catequese familiar 
precede, acompanha e enriquece outras formas de ensinamento da fé [ ...]. Os pais têm o 
dever de escolher as escolas que melhor possam ajudá-los em sua tarefa de educadores 
cristãos" (nn. 2223-2229). 
Que vamos dizer a isso? Você, leitor que tem filhos, sente-se tranqüilo? O que o 
Catecismo diz é um retrato da sua dedicação responsável à formação cristã dos filhos? 
Pense e responda a Deus. Eu só quero acrescentar que é uma incoerência que pais católicos 
fervorosos, que dispõem de meios financeiros, escolham, dentre vários colégios de nível 
equivalente, aquele que socialmente é julgado "melhor" ou está na "moda", mesmo 
sabendo que ali se confundem e pervertem as consciências dos alunos com idéias errôneas, 
e não raramente (mesmo em centros de ensino médio e superior "católicos") se consegue a 
façanha de que boa parte dos alunos saia dali tendo perdido a fé. Não hesito em afirmar 
que os pais que, por vaidade social, colocam os filhos em colégios de moda que lhes 
prejudicam a alma, terão de prestar contas muito estritas a Deus.

O questionário poderia prolongar-se. Que diriam, por exemplo, se agora o Senhor 
lhes perguntasse o que fizeram para criar no lar – com as suas iniciativas, as suas devoções 
familiares, o seu exemplo – um clima intenso, inteligente, cálido, cheio de amor e devoção, 
para preparar e celebrar bem o Natal; para preparar e celebrar a Semana Santa e a Páscoa; 
para viver a devoção a Maria no mês de Maio – recitando, por exemplo, o terço em família 
– e a Novena da Imaculada? O que fizeram para lembrar com carinho, nas suas orações, os 
já falecidos; sempre presentes no lar?, e para comemorar outras grandes datas do Ano 
cristão...? E a bênção dos alimentos, é diária? E as imagens piedosas e artísticas – poucas, 
discretas – , que fazem entrar pelos olhos a lembrança de Jesus, de Maria, dos santos 
Anjos, dos nossos amigos os santos...? Talvez seja a hora de fazer um "congresso familiar", 
arregaçar as mangas e começar a acender em casa a lamparina da fé que acompanhe cada 
dia com umas poucas devoções constantes, e acompanhe os anos com práticas que façam 
reviver a vida de Cristo, ao ritmo do calendário litúrgico da Igreja. 
REFLETIR A VERDADE SOBRE O HOMEM 
 Se a verdade sobre Deus estiver obscurecida, ficará também encoberta a verdade 
sobre o homem. E é justamente sobre essa verdade que, na nossa sociedade paganizada, 
estão caindo as sombras mais daninhas. Não se trata de uma questão teórica. Se não 
soubermos ver com os olhos de Deus o que é o ser humano, os seus verdadeiros valores, o 
seu bem e o seu mal, o sentido da sua existência, não conseguiremos, nem sequer com a melhor das intenções, orientar – com a palavra e com o exemplo – os filhos, os alunos, os 
fiéis, de acordo com o esplendor da verdade de Deus. Com isso, todos eles ficarão 
abandonados aos erros e deturpações morais que corrompem a juventude, e seremos 
responsáveis por isso. 
 Qual é mesmo o sentido da vida humana? Quais são os valores que lhe dão 
autenticidade e grandeza? O que leva o homem a ser feliz, e o que o ilude com as miragens 
de satisfações efêmeras e traiçoeiras? O que constrói a personalidade de um filho de Deus 
e o que a destrói? 
 É importante insistir nestas questões, porque são decisivas. Da boa ou má 
orientação a respeito delas depende o futuro da juventude e da sociedade. Não é de 
estranhar, por isso, que João Paulo II se tenha empenhado, infatigavelmente, em dar  
doutrina clara, idéias claras (luz de Deus!) sobre as questões morais em que mais se 
desorienta e claudica o católico atual, sujeito à vertigem dos erros que pretendem gritar 
mais forte que a verdade. 
 Hoje são colocados diariamente sobre um pedestal, glorificados pelo materialismo 
laicista e incentivados pela mídia, comportamentos morais que destroem a dignidade do 
homem e da mulher, criados à imagem de Deus; que aviltam a grandeza do amor, a do 
sexo, a do casamento e a família, a do caráter sagrado da vida e da morte... Hoje todos 
falam dessas questões, essencialmente éticas, e, portanto, todos têm que tomar uma posição 
– um juízo de valor – a respeito delas. Conforme for essa posição, assim será o que as 
pessoas "passem" para os filhos e, em geral, para a juventude.... 
É importante não nos enganarmos, fazendo de conta que tudo está bem conosco, e 
perguntarmo-nos a sério: – Qual é a luz, qual é o referencial – como um farol potente à 
beira-mar – ao qual me reporto para emitir um parecer correto sobre esses temas 
candentes? Basta pensar no aborto, na clonagem, na eliminação do feto anencefálico, na 
fecundação in vitro, nas pesquisas com células-tronco embrionárias, nas manipulações 
genéticas, no uso de métodos artificiais de contracepção (quase todos abortivos), e no 
divórcio, nas relações pré-matrimoniais, na "pílula do dia seguinte", etc. 
 Antes de prosseguir, já me parece ouvir algum leitor precipitado, a gritar: – Só pelo 
modo de levantar essas questões, dá para perceber que o senhor é "conservador" (insulto, 
hoje, o pior possível), incapaz de acompanhar a evolução da ciência e dos costumes. 
 Caso realmente alguém pense assim, vou limitar-me a fazer-lhe a pergunta básica 
de toda a filosofia e de toda a ciência: – Por quê? 
 Sim. Por que acha isso? Quais são os seus parâmetros para dizer que uma atitude é 
certa ou errada, autêntica ou superada? Por outras palavras: quem e o que define o bem e o 
mal, o certo e o errado? Com que critérios devem ser definidos o bem e o mal? Pais e 
educadores, será que não percebem a enorme importância disso? Desculpem-me, portanto, 
se me estendo na análise de alguns aspectos do pensamento atual, e se afirmo que quem 
não esclarecer honestamente esses temas nunca será um bom educador. 

LIBERDADE E VERDADE 
 Sem meter-me agora em grandes filosofias, que ultrapassariam o escopo destas 
páginas (procurarei citar alguma bibliografia), vou começar dizendo que só podem ser 
dadas duas respostas às perguntas que fizemos acima. Vou repeti-las:– Quem é que define 
o bem e o mal, o certo e o errado? Com que critérios o bem e o mal devem ser definidos? 
 Uma primeira resposta diz que o referencial, o oráculo sobre o bem e o mal, a 
agulha magnética da bússola do comportamento, é a liberdade. Costuma-se partir da base 
de que não há valores absolutos nem verdades permanentes. Deus, caso exista, estaria 
ausente, desinteressado do mundo e não contaria para nada, a não ser para inspirar ideais 
vagos de bondade e justiça. Por isso, cada qual teria de escolher livremente o que achar 
certo ou errado e agir de acordo com a sua opinião (chamada, erradamente, de consciência 
pessoal 22). 
Rejeitam-se quaisquer princípios ou normas morais objetivos, absolutos e 
universalmente válidos. Se alguém achar subjetivamente certo um comportamento e não 
for contra a lei vigente no país (não importa se a lei é justa ou injusta), a sua conduta será 
boa e a consciência deverá ficar tranqüila. A "norma moral", em todos os casos, será o 
resultado da "sincera" opinião pessoal e, sobretudo, do "consenso" das opiniões da maioria 
numa determinada época, simples opiniões, condicionadas a determinadas circunstâncias 
históricas. Poucos anos depois, a opinião poderá ser diferente. Mais adiante, a "norma" 
moral considerada correta poderá até ser a contrária. 
 Já se vê que essa moral de "consenso" (que é a moral típica dos laicistas) só tem 
como referenciais, por um lado, o acordo social (aquilo que é socialmente aceito, sendo 
que a sociedade permissiva tende a ser cada vez mais concessiva com o erro e o mal); por 
outro lado, a ideologia dominante na mídia, ou seja, aquilo que jornais, revistas, tv, etc, 
apregoam como comportamento "normal", moderno, avançado; e, em terceiro lugar, as 
decisões majoritárias dos órgãos legislativos (Congresso, Parlamento, organismos das 
Nações Unidas). 
Só um ingênuo desconhece que essas opiniões "majoritárias" quase sempre 
começam por ser forjadas pela ação aguerrida de grupos de pressão e lobbies econômicos 
de "minorias". Essa propaganda das "minorias", encampada por ONGS agressivas e órgãos 
poderosos da mídia, devidamente "engraxados" com subvenções nacionais e estrangeiras, 
influencia fortemente o pensamento de uma massa ingênua e intelectualmente "rasa", e 
acaba por pressionar (política e economicamente) os organismos legislativos do país. 
 Já reparou que uma moral de "consenso", como a que hoje se afirma ser a única 
válida (execrando os que pretendem defender "princípios" intocáveis, como o direito à 
vida), leva a verdadeiras aberrações ("casamento" homossexual, eliminação de fetos e até 
de crianças já nascidas com algum defeito, etc.). Essa moral, sem afastar-se um milímetro 
da sua lógica intrínseca, pode achar, daqui por alguns anos (quando a sociedade tiver, 
como terá, predominância de velhos), perfeitamente "moral" e "legal" matar crianças 
sadias de dois, três ou mais anos (sempre que a morte delas seja "doce" e não haja parentes 
que vão sofrer), para desmanche e transplante de órgãos e tecidos em velhos doentes que 
querem sobreviver a custa do infanticídio. Bastará para tanto que se forje um "consenso". 
Pois bem, os pais que deixam os filhos entregues a todos os ventos sem rumo da 
liberdade, sem lhes terem dado noções para julgar a respeito da verdade e do bem, são 
cúmplices atuais ou potenciais dessas e outras possíveis aberrações. 
A essa filosofia de vida, que é a do subjetivismo e do relativismo moral, referia-se 
há pouco Bento XVI, falando precisamente da educação dos filhos no âmbito da família: 
"Um obstáculo particularmente insidioso na obra educativa é hoje a maciça presença em 
nossa sociedade e em nossa cultura desse tipo de relativismo que, ao não reconhecer nada 
como definitivo, só tem como medida última o próprio eu com seus gostos e que, sob a aparência da liberdade, se converte para cada um numa prisão, fazendo com que cada 
indivíduo se encontre fechado no seu próprio eu. Em um horizonte relativista assim não é 
possível uma autêntica educação. Sem a luz da verdade, antes ou depois toda a pessoa fica 
condenada a duvidar da bondade da sua própria vida e das relações que a constituem, da 
validade do seu compromisso para construir com os outros algo em comum" 23
 Com grande lucidez, Bento XVI mostra que o subjetivismo relativista, sem normas 
nem valores absolutos, fecha a pessoa no egoísmo, tornando-a prisioneira dos seus 
caprichos e prazeres, e, por isso mesmo, asfixiando-lhe a verdadeira liberdade e a 
capacidade de amar. A falsa liberdade, que faz de si mesma a lei (e à qual os egoístas 
chamam – como víamos – "a minha consciência”), é a que diz: "Quero porque quero" 
(porque me apetece e pronto); ao passo que verdadeira liberdade é a que diz: "Quero 
porque é bom, quero porque compreendi que é verdadeiro, quero porque agora sei que isso 
é o que a sabedoria e a bondade de Deus quer". Foi para isso, para achar a verdade e, 
dentro dela, o bem, que Deus nos deu a liberdade. 
 Veja como se expressa a esse respeito João Paulo II: "A liberdade foi dada ao 
homem pelo Criador simultaneamente como dom e como tarefa; com efeito, por meio da 
liberdade, o homem é chamado a acolher e a realizar o bem na sua verdade, escolhendo e 
exercendo o bem verdadeiro na vida pessoal e familiar [...]. A liberdade é autêntica na 
medida em que realiza o bem na verdade; só então ela é um bem. Se a liberdade deixa de 
estar ligada à verdade e começa a fazer-se depender de si mesma ["faço o que quero e 
porque quero" – dizíamos], colocam-se as premissas de nefastas conseqüências morais, 
cujas dimensões são às vezes incalculáveis" 

Toda a admirável encíclica Veritatis Splendor (O esplendor da verdade) de João 
Paulo II é uma reflexão profunda sobre as relações entre a liberdade e a verdade. 
Interessanos agora lembrar que esse documento começa comentando a passagem evangélica do 
diálogo do jovem rico com Jesus((Mat 19, 16-22) :Mestre, que devo fazer de bom para 
alcançar a vida eterna? Jesus responde: Por que me interrogas sobre o que é bom? Um só 
é bom [Deus]. Mas, se queres entrar na vida eterna, cumpre os mandamentos. O jovem 
pergunta quais são eles, e Jesus esclarece-o mencionando explicitamente os Dez 
Mandamentos. Como o rapaz diz tê-los cumprido desde a infância, Jesus olha para ele com 
afeto e lhe diz: – Se queres ser perfeito, desprende-te das coisas puramente materiais e; 
depois, vem e segue-me.
Dizíamos acima que há duas respostas sobre o porquê das qualificações morais: 
"isto é o bem, isto é o mal". Uma é a liberdade egoísta, arbitrária. A outra é a Vontade de 
Deus, a lei de Deus, seus mandamentos. Na mesma encíclica, lemos: "Deus, que é o único 
bom, conhece perfeitamente o que é bom para o homem e, devido ao seu mesmo amor o 
propõe nos mandamentos". 

 Sim. Há um referencial claro, que é o esplendor da verdade de Deus. Em matéria 
moral, o referencial são os mandamentos da Lei de Deus, proclamados no Sinai, que "nos 
ensinam a verdadeira humanidade do homem" e "enunciam as exigências do amor de Deus 
e do próximo" 26, mandamentos que resumem a Lei divina natural, válida para todos os 
povos e todas as crenças, e que foram elevados até o máximo nível do amor pelos 
ensinamentos e o exemplo de Cristo 27. Deus não nos deixou às escuras. Depois da vinda 
do nosso Salvador, Jesus Cristo, já não andamos mais às apalpadelas (cfr. Atos 17, 27), 
porque temos a luz da vida (Jo 8, 12). 
 Com toda a segurança, pois, podemos dizer com o Salmo: Lâmpada para os meus 
passos é a tua palavra, e luz no meu caminho (Salmo 119, 105). 
QUE FAZEM, PAIS E DUCADORES? 
 Não me importo de repetir, de voltar a dizer mais uma vez aos pais e educadores, 
que a sua responsabilidade de ser luz para a conduta dos jovens é imensa, e não hesito em 
afirmar que, muitas vezes, é questão de vida ou morte para os filhos e os educandos o fato 
de que vocês sejam como pedia São Paulo, filhos de Deus sem defeito, no meio de uma 
geração má e perversa, na qual brilhais como luzeiros no mundo, apegados firmemente à 
Palavra de vida (Filip 2, 15-16). 
 Deus faça que deixem de ouvir-se, em lares católicos, comentários do pai ou da 
mãe como os que, talvez caricaturizando um pouco, exemplifico a seguir: 
 – Afinal, ele tem o direito de ser feliz (estão a falar do filho que largou a mulher e 
os filhos porque se encantou com a secretária); 
 – Cada qual tem as suas idéias, os seus valores; o que importa é que seja sincero, 
que tenha boa vontade... (esses se esqueceram de que "o inferno está cheio de boas 
vontades"); 
 – Pois é! Realmente, os tempos mudam... , tudo é tão difícil! No caso dela até que, 
por exceção, se justificava abortar...; 
– Não precisa levar a religião tão a sério, filho, você está ficando fanático (quando, 
na realidade, o filho está apenas começando a cumprir, com constância, os deveres 
religiosos elementares de um católico, como ler a Bíblia, rezar todos os dias e ir à Missa 
aos domingos); 
– Fulano e Sicrana são malucos, já vão pelo terceiro filho! (Quando o genro e a 
filha, conscientes e generosos, querem assumir livremente uma família numerosa); 
– A minha filha está muito bem, é uma jóia: não bebe, não fuma, foi promovida no 
trabalho. Não há motivo para preocupações (mas está "casada" pela terceira vez, juntada 
com um divorciado, e com os dois filhos ao Deus-dará, que os avós cuidarão deles). 
Pais e educadores católicos – vou reperguntar –, vocês acreditam mesmo em Deus? 
Vocês acreditam mesmo que Cristo é a Verdade? Vocês têm consciência de que a luz da 
verdade de Cristo foi deixada por Jesus nas mãos da sua Igreja, para que a guardasse, a 
protegesse, aprofundasse nela e a transmitisse com limpidez em todas as épocas, em todas 
as circunstâncias? Vocês acreditam na promessa do Senhor, de que o Espírito Santo 
assistiria o Magistério autêntico da Igreja (que é muito mais do que a opinião pessoal de 
alguns eclesiásticos), garantindo que a Igreja de Deus vivo seria sempre, como dizia São 
Paulo, coluna e fundamento da verdade (I Tim 3, 15)? 
Então, por que parecem ficar tão alheados e são tão omissos? Tenham em conta que 
a verdade sobre o homem, quer dizer, os valores morais eternos sobre o homem criado por 
Deus, se estiverem bem arraigados em vocês e fundamentados na sólida doutrina, 
transparecerão em todos os aspectos da educação que proporcionem aos adolescentes e 
jovens. Por isso, também neste aspecto da "verdade sobre o homem" é preciso que se 
formem muito mais a sério, que estudem, que ganhem critérios e não fiquem satisfeitos 
com "achismos" e palpites. 
 Antes, ao falar da "verdade sobre Deus", citava alguns livros. Todos eles servem 
também para a formação dos critérios morais, "verdades sobre o homem". Mas, para 
completar os subsídios, não quero deixar de mencionar a boa ajuda que proporcionam, 
quando se deseja esclarecer dúvidas e conhecer argumentos em favor dos bons princípios 
éticos, vários sites, que recomendo, tendo em conta que hoje a Internet faz parte do 
cotidiano. Só vou citar alguns, entre muitos outros igualmente bons e plenamente 
sintonizados com o Magistério da Igreja: além do portal oficial da Santa Sé, riquíssimo de doutrina e informações – www.vatican.va –, podem-se encontrar documentos da Igreja, 
estudos e respostas a dúvidas doutrinais e morais em outros sites, como: www.zenit.org., 
www.presbiteros.com.br; www.quadrante.com.br, www.catholic.net; www.almudi.org , 
www.arvo.net e outros com os quais vários desses sites têm links. 
II. O ESPLENDOR DA VIRTUDE 
 A virtude é a segunda "força" do exemplo. É óbvio que a conduta virtuosa é um 
facho de luz mais importante que as palavras. Santo Antônio de Pádua dizia que virtudes 
como "a humildade, o desprendimento, a paciência e a obediência" são outras tantas 
"línguas", e que nós "falamos essas línguas quando os outros as vêem em nós mesmos" 28
Já nos ocupamos na primeira parte do exemplo que devemos dar, em geral, com a 
conduta; não se trata de repetir o que lá dizíamos. O que, sim, vamos fazer agora é 
considerar especificamente a irradiação das virtudes como tais, e isso impõe algumas 
reflexões. Desde já desejo advertir que, neste item, vou centrar-me nos pais. Mia uma vez, 
porém, lembrarei que a maioria das reflexões sobre o exemplo dos pais são aplicáveis – em 
maior ou menor grau – a todo o tipo de educadores e orientadores morais e espirituais. 
Como começo de reflexão, vale a pena recordar que é o próprio Cristo quem faz 
fincapé na importância das nossas virtudes para sermos "luz". Vós sois a luz do mundo [...]. 
Brilhe a vossa luz diante dos homens, de modo que vejam as vossas boas obras e 
glorifiquem o vosso Pai que está nos céus (Mat 5, 14-16). Jesus fala de "boas obras". E é 
bom ter presente que, no Novo Testamento – como um eco dessas palavras de Cristo –, as 
expressões obras da luz, frutos da luz e armas da luz, quase sempre se referem às virtudes, 
quer às virtudes "teologais" – fé, esperança, caridade (cfr. I Tes, 5, 4-5. 8; I Jo 2, 9-11) – , 
quer às "cardeais" ou virtudes humanas, opostas às trevas dos vícios (cfr. Rom 2, 19-22; 
Rom 13, 12-14; Efésios 5, 8-9). 
 Sobre as virtudes teologais, que são as máximas luminárias, refletiremos – através 
de um exemplo bem conhecido – na última parte desta obra. Agora vamos focalizar as 
virtudes humanas, que é preciso que os pais possuam e pratiquem, para assim poderem
inculcá- lá , contagiá-las aos filhos.Dessas virtudes, o Catecismo da Igreja diz: "As
virtudes humanas são atitudes firmes,disposições estáveis, perfeições habituais da
inteligência e da vontade que regulam nossos atos, ordenando nossas paixões e guiando-nos segundo a razão e a fé.Propiciam, assim, facilidade, domínio e alegria para levar uma
vida moralmente boa. Pessoa virtuosa é aquela que livremente pratica o bem" (n. 1804).
Todas as virtudes humanas, que são muitas, giram à volta das quatro virtudes cardeais:-isto é, "virtudes-eixo"-:prudência, justiça, fortaleza e temperança (nn. 1805-1809).
OSSOS DE VIDRO E ASA QUEBRADA

 Um filho ganha personalidade e consistência de caráter na medida em que adquire
as virtudes humanas. Elas – diz o Catecismo – "com o auxílio de Deus, forjam o caráter e
facilitam a prática do bem" (n. 1810).

 Sem virtudes humanas solidamente adquiridas, os filhos crescem como um garoto
doente do mal dos "ossos de vidro", que teve a desgraça de cair nas mãos de pais
irresponsáveis. Pode estar alimentado com capricho, vestido com o bom e o melhor,
educado com os melhores mestres. Se os pais não cuidam de amparar e "escorar" a
fragilidade do filho com as soluções médicas e tecnicamente mais eficazes, virá uma
fratura atrás da outra e, afinal, a incapacitação ou a morte. 

Há pais – mais uma vez, desculpem-me por ser tão claro – que criam os filhos para
que, muito cedo, acabem reduzidos a cacos. Dão-lhes (assim o julgam) o melhor possível
em tudo, menos na formação moral. Não cultivam neles, desde a primeira infância,
virtudes sérias, com o incentivo do seu exemplo constante e com o acompanhamento de
um "adestramento" prático, paciente, pedagogicamente acertado, incansável. Contentam-se
com ver que são "bons meninos", cheios de boa vontade e de bons sentimentos, ainda que
não tenham virtudes, e, assim, os deixam abandonados aos seus caprichos, molezas e
desordens, com "ossos de vidro" na alma, desde que tirem notas boas ou aceitáveis, não
apanhem doenças nem vícios maiores com os seus desregramentos, e não criem encrencas
por aí (gravidezes, etc.)

 Sem virtudes, a boa vontade e os bons sentimentos são como um pássaro de asa
quebrada. Uma das estórias mais lindas de Guimarães Rosa fala de um casal de garças alvíssimas, que apareciam, ano após ano, junto do riachinho Sirimim. Uma delas, atacada
por um bicho do mato, foi achada um bom dia, enroscada em folhagens e cipós, com uma
asa estraçalhada. "Durou dois dias. Morreu muito branca. Murchou" 29. Eu não gostaria
que esse fosse o epitáfio do filho de ninguém. Mas muitos pais o estão preparando.


OS DOIS TESTES DAS VIRTUDES

 Para que as virtudes dos pais tenham a força do exemplo, precisam de duas
condições ou, melhor, têm que passar por dois testes de autenticidade: o teste da prova e o
teste da unidade de vida. Explico-me.. 
De uma maneira surpreendente, o apóstolo São Tiago começa a sua Carta, que é 
palavra de Deus incluída no Novo Testamento, dizendo: Considerai uma grande alegria, 
meus irmãos, quando tiverdes de passar por diversas provações. Na realidade, nós 
desejaríamos que as provações fossem as menos possíveis. Mas São Tiago não pensa 
assim, porque sabe que as dificuldades que nos põem à prova e nos fazem sofrer podem 
derrubar-nos, mas – e isso é o que interessa – podem também ser o meio de temperar, de 
consolidar e fortalecer as nossas virtudes. E, por isso, acrescenta que a prova produz em 
vós a constância; e a constância deve levar a uma obra perfeita (Tiag 1, 2-4). 
 São Paulo é do mesmo parecer: Sabemos que a tribulação gera a constância, a 
constância leva a uma virtude provada e a virtude provada desabrocha em esperança 
(Rom 5, 3-4) 30
 Há coisa mais maravilhosa do que uma mãe sempre serena, com uma serenidade 
sorridente e ativa, que atravessa problemas financeiros, tribulações de saúde, preocupações 
com o marido e os filhos, sem mostrar abalo, infundindo sempre neles paz, segurança e 
uma visão esperançosa do futuro? Todos nós conhecemos e admiramos mães assim, 
forjadas na dificuldade como ouro testado no fogo (I Pedr 1, 7); generosas sem alarde, 
heróicas, cuja lembrança nos arranca lágrimas dos olhos. Vimo-las, por vezes, chegar ao 
extremo, à hora da morte, após longa e sofrida doença, derramando a mesma serenidade de 
sempre sobre os corações dos seus, esquecidas de si mesmas, consolando e animando a 
todos, e deixando atrás de si uma esteira de luz. Isto é que é "esplendor da virtude"! Isto é 
que é o exemplo que brota, como um manancial benfazejo, das virtudes "provadas"! 
 Não há virtudes fáceis. Não são luminosas as virtudes que aparecem nos momentos 
fáceis e desaparecem nos difíceis, como um estranho vaga-lume. 
 Mas também não há virtudes "especializadas", só para certos ambientes e 
determinadas ocasiões. Aqui temos que enfrentar-nos com o segundo teste, o da "unidade 
de vida". Infelizmente, não faltam pais que, quando estão com os amigos, os colegas de 
clube e as relações profissionais, praticam admiravelmente as virtudes da convivência. São 
amáveis, conversadores bem-humorados, prestativos, disponíveis. Chegam, porém, a casa, 
e parece que o mesmo homem virou "lobisomem": seco, taciturno, antipático, mal- humorado o, reclamando de tudo, isolado no seu jornal, na tv ou na Internet, incapaz de uma 
palavra ou de um gesto de carinho cálido. Que aconteceu? Que as "virtudes" exibidas em 
ambientes sociais eram isso: sociais, fachada inautêntica. 
Não esqueçam que os filhos vêem tudo desde crianças. Alguns lembram-se do 
título daquele velho filme italiano, "I bambini ci guardano", as crianças nos olham. É 
verdade. E não engolem truques. Eles percebem se o pai ou a mãe padecem do que São 
Josemaría Escrivá chamava a "esquizofrenia espiritual" 31, a dupla personalidade moral, e 
sentem repugnância quando, ao receberem conselhos deles, têm a impressão de que são 
como as palavras dos hipócritas de que Cristo falava, que dizem e não fazem (Mat 23, 3). 
Os filhos não querem pais que andem com passes de mágica trucados, para espectador ver, 
como os do David Copperfield na televisão, não querem pais que os envergonhem, por 
ostentarem virtudes aparentes, puramente formais e interesseiras, que em casa se apagam; 
querem pais que sejam sempre os mesmos, pois só o exemplo das virtudes praticadas a 
toda a hora, em todo o ambiente, em qualquer lugar, é digno de admiração e move à 
imitação.

PEQUENA REFLEXÃO SOBRE AS VIRTUDES CARDEAIS 
 Penso que, como simples amostra, podem-nos ajudar algumas pinceladas sobre as quatro virtudes cardeais. Serão rápidas, impressionistas, e mostrarão apenas umas poucas 
moedas do tesouro riquíssimo que guarda cada uma delas 32
 Prudência. Como ajuda e enche de segurança ter um pai que seja alegre, sensato e 
reflexivo! Que não improvise. Que não dê decepções a toda a hora, mudando de planos 
sem mais nem menos. Que não dê sustos por ter-se esquecido de controlar as contas 
bancárias, ou os prazos disto ou daquilo; que não precise ouvir aquelas palavras do Paraíso 
de Dante: "Siate, cristiani, a muovervi più gravi: non siate come penna ad ogni vento..." 
("Caminhai, cristãos, com mais ponderação: não sejais qual pena movida por qualquer 
vento...") 33
 Justiça. Como faz bem aos filhos ter um pai e uma mãe que cumprem o que 
prometem! Que não se desdizem, porque ficou mais difícil aquele passeio com os filhos e 
estão cansados e são comodistas. Que não tratam os filhos como números, com ordens 
genéricas, iguais para todos, como se o lar fosse um quartel, mas, como pede a justiça, 
tratam desigualmente os filhos desiguais (logicamente, não por mimo ou preferências 
injustas). Que, se fazem uma repreensão justa e prometem um pequeno ou médio castigo 
(castigo grande quase nunca se justifica), não amolecem, mas cumprem, sem deixar de 

cercar o filho punido da certeza de que é muito amado e só se quer o seu bem. 
 E fazem bem aos filhos outras "justiças" menores do cotidiano. Por exemplo, saber 
que os pais não se aproveitam nunca de um troco errado (devolvem ao caixa a diferença), 
nem dão jeitos para enganar e deixar de pagar uma entrada, que qualquer pessoa honesta 
paga. 
 Fortaleza. Bastaria lembrar-nos da mãe que admirávamos há pouco. Mas é também 
um exemplo maravilhoso viver num clima familiar em que não se ouvem queixas nem 
reclamações, nem gemidos. Em que ninguém se julga mártir ou vítima. Em que o pai, 
exausto, é capaz de ficar brincando com os filhos, interessando-se pelas suas pequenas 
problemáticas ou pelos seu sonhos e alegrias, e tudo isso sabendo oferecer a todos um 
sorriso afável, no meio da pena ou do esgotamento. Pais que sempre projetam a bela luz da 
paciência e da constância. 

Temperança. Que grande exemplo dão os pais que nunca são vistos, nem dentro 
nem fora de casa, nem nos dias de trabalho nem aos domingos e feriados, abusando da 
comida e da bebida! Que não se iludem, achando que vão enganar os filhos dizendo-lhes 
que se trata só de um "aperitivo" ou uma "cervejinha", de que precisam muito porque 
andam fatigados e faz bem para a saúde (quando os filhos os vêem claramente "altos", com 
a voz gosmenta e as pernas bambeando por excesso de álcool). Pelo contrário, como toca o 
coração ver uma mãe que habitualmente "gosta" do pedaço de carne que tem mais nervos e 
gorduras, ou ver o pai que "gosta" do cinema que a mãe adora..., mesmo em dias em que 
joga seu time. 
 E a temperança na tv e na Internet? Acham que os filhos são tolos? Em matéria de 
informática, quase sempre dão um solene "chapéu" nos pais, e descobrem muito facilmente 
(pois ainda não aprenderam a viver a virtude da discrição e a controlar a curiosidade) a 
quantidade de sites inconvenientes que o pai visitou, como se fosse um adolescente com 
obsessão sexual neurótica. 
E em matéria de humildade, que São Tomás de Aquino situa no âmbito da 
temperança? Como se nota a falta de humildade e como faz mal! Por isso, é tão formativo 
que os filhos percebam que os pais não se deixam arrastar por mesquinharias de 
susceptibilidade, por mágoas persistentes, por rancores e incapacidade de perdoar. Que 
nunca vejam os pais virando o rosto para ninguém, nem dominados por espírito de revide e 
vingança, nem falando com raiva do cunhado que fez isso ou da tia que fez aquilo... 
 Virtudes humanas! São tantas as que os pais deveriam cultivar, como uma lâmpada 
que brilha em lugar escuro... ( I Pedr 1, 19)! Cultivar virtudes e ensiná-las aos filhos, com 
a autoridade moral que dá o exemplo, é um empreendimento árduo, mas é decisivo, e, por 
isso, deve ser enfrentado pelos pais (tendo uma intensa vida interior, muita formação cristã, 
exame de consciência todas as noites, direção espiritual, etc.), e, com a graça de Deus, 
deve ser levado a termo. Oxalá os filhos, quando crescerem, possam dizer que nunca se 
apagou deles a imagem do pai, a imagem da mãe, e que até à velhice o pai e a mãe 
continuaram a iluminar-lhes a vida. 
Isto foi o que aconteceu a um amigo meu muito chegado. A imagem dos pais ficou-lhe gravada para sempre, como uma estrela orientadora. E veio a tomar uma consciência mais plena desta bela realidade quando aconteceu o fato que transcrevo a seguir, usando 
literalmente as palavras com que ele o descreveu: 
POR OCASIÃO DE UM CENTENÁRIO 
 – Meu pai morreu com 85 anos de idade, em 1987. Quando ia começar o ano de 
2002, filhos, netos, amigos e colegas da sua profissão jurídica resolveram honrar-lhe a 
memória, comemorando, com diversas celebrações – alhures, lá na terra onde ele nasceu e 
viveu –, o centenário do seu nascimento. Para uma dessas celebrações, ocorreu-me 
preparar umas palavras de público agradecimento – de gratidão filial –, sob o título: O que 
eu aprendi de meu pai. 
 Penso que pode ser esclarecedor acrescentar que redigi esse texto em cima da hora, 
deixando os dedos e o coração correrem espontaneamente pelo teclado do computador. Tal 
como o texto surgiu e foi lido na cerimônia, transcrevo-o a seguir: 
 "– De meu pai, eu aprendi o valor da simplicidade. Lembrando-me dele, 
compreendo muito bem que essa virtude amável é o segredo da autêntica grandeza. 
 "– De meu pai aprendi o que significa respeito profundo por cada ser humano. Para 
ele, um ajudante de pedreiro ou uma humilde faxineira tinha tanto ou mais valor que o 
presidente de uma grande companhia. E, no seu escritório de advogado-tabelião, o 
problema dos limites da minúscula horta de dona Maria "pesava" tanto como a constituição 
de uma grande sociedade. 
"– Ao pensar no meu pai, ainda hoje fico comovido toda vez que me recordo do 
respeito que tinha pelos seus seis filhos. Não os dominava nem os descurava: educava-os 
dentro de profundos valores cristãos (em comunhão estreita com a mãe), mas sempre 
respeitando-lhes as opções, as preferências, as escolhas nobres, a vocação, a liberdade 
responsável. 
 "– De meu pai aprendi que não há alma tão amável como aquela que possui, no seu 
fundo mais íntimo, o tesouro da humildade. E que não existe coisa mais ridícula que o 
inchaço do orgulhoso, os ares de grandeza do convencido e a correria ansiosa do 
ambicioso. Eu diria que ele somente conheceu aquelas pequeninas vaidades, minúsculas e 
até infantis, que são características dos verdadeiramente humildes.
"– De meu pai aprendi também a alegria única que proporcionam as coisas mais 
singelas do mundo, como as festas familiares, as tradições do lar, os passeios no campo, a 
observação dos pássaros, das árvores, dos plantios e das pastagens, os "bate-papos" com os 
amigos, e as leituras repousadas de livros bons. 
 "– De meu pai aprendi que certas nuvens escuras, que poderiam toldar seriamente o 
convívio familiar, podem dissipar-se ou atenuar-se muito com uma pitada de bom humor 
sem ácido e sem fel. 
 "– De meu pai aprendi que é possível viver uma longa vida sem guardar nem uma 
migalha de ódio, de inveja ou de rancor, movido apenas pelo impulso permanente da 
bondade. 
 "– De meu pai aprendi que o coração só se sente bem com a verdade, e que a menor 
mentira incomoda e faz mal. 
 "– De meu pai aprendi o que é ser amigo dos amigos, apenas pela alegria de tê-los e 
de ficar feliz vendo que estão contentes. 
 "– De meu pai aprendi a amar a natureza, como um espelho de Deus, que jamais se 
esgota nem cansa. 
 "– De meu pai aprendi a grandeza de sermos fiéis aos autênticos valores e 
convicções. Vendo-o, aprendi que, debaixo de Deus, há infinitas maravilhas; mas que por 
cima ou à margem de Deus não há nenhuma, pois Ele é "toda" a maravilha e sem Ele 
nenhuma o é... 
 "– De meu pai aprendi como é grande e cativante o homem que vive a fé com a 
mesma naturalidade com que respira, sem exibicionismos nem retórica, mas também sem 
respeitos humanos nem receio de se mostrar como cristão 
 "– De meu pai aprendi como é belo não se preocupar nem um pouquinho com o 
que os outros possam pensar ou dizer, quando se possui um coração reto, uma intenção 
pura e a boa vontade... 
 "– De meu pai aprendi... tantas coisas! Perdão. Desde o início destas evocações, eu 
deveria ter dito tudo de maneira diferente. Eu deveria ter dito: – De meu pai eu poderia ter 
aprendido tantas coisas boas! E de minha mãe, que mereceria uma evocação igual. Que 
Deus me perdoe por não ter sabido fazê-lo como eles mereciam!"... 
Estas foram as palavras lidas naquela homenagem. Relendo-as depois – comentava 
ainda o meu amigo –, dei-me conta de que, ao escrevê-las de uma tirada – deixando os 
dedos e o coração correrem espontaneamente pelo teclado do computador –, não percebi que só fiquei falando do exemplo. Isto me tem ajudado a valorizar o exemplo, como a 
melhor herança que os pais podem deixar aos filhos. 

TERCEIRA PARTE: TRÊS GRANDES TOCHAS DO EXEMPLO 
O "EDUCADOR DO MUNDO" 
 Quando estava cruzando o limiar do terceiro milênio, João Paulo II, olhando para o 
futuro, escrevia: "Começa um novo século e um novo milênio sob a luz de Cristo. Nem 
todos, porém, vêem essa luz. A nós cabe a tarefa maravilhosa e exigente de ser o seu 
«reflexo»"34
 Estou convencido de que João Paulo II foi escolhido por Deus para ser, na época 
atual, um poderoso reflexo da luz de Cristo. Por isso o escolhi como figura-símbolo desta 
terceira parte da obra, pois ele foi, e continua a ser para o mundo, uma tocha poderosa das 
virtudes cristãs, e especialmente das três virtudes teologais: fé, amor (caridade) e 
esperança. 
Talvez, ao ler isto, alguém pergunte: – Se, até aqui, estivemos considerando 
sobretudo o exemplo dos pais, por que vai falar agora do Papa? Não poderia escolher 
figuras de pais – desses pais e mães que deixaram testemunhos extraordinários de 
santidade – como símbolos das virtudes da fé, esperança e caridade? 
Eu responderia dizendo que sim, poderia, e até pensei inicialmente em fazer isso. 
Mas não o fiz. A razão é que vejo em João Paulo II – como apontava no início destas 
páginas –, a figura de um autêntico pai, considerado, sentido e amado como tal por milhões 
de pessoas de todas as idades, crenças, raças e continentes. Quando ele morreu, não foram 
só os católicos que se sentiram "órfãos". Foram muitíssimos, mesmo descrentes, os que 
experimentaram um estranho vazio, como se, no mundo, se tivesse apagado de repente um 
clarão deslumbrante de fé, de amor e de esperança, clarão de que o mundo, a sociedade, as 
famílias, sentem uma falta imensa e dolorosa. 
Ficou-nos, no entanto, o seu exemplo, e creio que vale a pensa contemplá-lo 
atentamente. Aos pais e orientadores peço-lhes que se olhem neste espelho e permitam que 
o seu reflexo entre na sua alma... Não duvidem de que vão "enxergar" muitas coisas que 
lhes abrirão os olhos e os interpelarão. 
A maioria dos leitores, quando estas páginas vierem à luz, ainda terá ecoando no 
seu coração a emoção daqueles dias de fins de março e começos de abril de 2005, em que o 
mundo inteiro, através de uma cobertura sem precedentes da televisão, acompanhou, hora 
após hora, num recolhimento reverente e comovido, a agonia e a morte de João Paulo II. 
Todos contemplamos, pasmados, aquela "imensa multidão silenciosa e orante", de que 
falava o Cardeal Ratzinger na homilia das exéquias do Papa falecido, e com todos eles nos 
sentíamos fundidos, irmanados nos mesmos sentimentos de agradecimento, admiração e 
carinho por João Paulo II. 
 Todos estávamos tomados pela certeza de que acabava de entrar na Casa do Pai um 
homem de Deus. Daí os pedidos espontâneos, dirigidos aos cardeais: "Santo subito!", 
"Santo, já!". 
Vamos chegar-nos agora a essa luz, procurando que atinjam o nosso coração os 
seus reflexos de fé, de amor e de esperança. 
UMA TOCHA DE FÉ 
 O instinto do povo não se enganava quando, desde o início de seu pontificado, via 
no Papa Wojtyla um homem de Deus. A fé notava-se-lhe no calor sereno e viril da voz, no 
olhar profundo, afetuoso e calmo, na paz com que abraçava o seu serviço sacrificado e 
incansável e com que aceitava as adversidades, doenças e dores como vindas da mão de 
Deus. 
 Pode-se dizer que a fé – uma fé segura, sólida e feliz – lhe saía por todos os poros 
do corpo e da alma. Acreditava mesmo em Deus, acreditava mesmo em Jesus Cristo, único 
Salvador do mundo; acreditava plenamente no chamado de todos à salvação que está em 
Cristo Jesus; acreditava, com confiança de filho, na intercessão da santíssima Virgem  45
Maria, em cujos braços maternos se abandonara muito cedo, declarando-se Totus tuus! –
"Todo teu!". 

A ORAÇÃO, ESPELHO DA FÉ 
 Diz-se, com toda a razão, que a oração é o espelho da fé. É pela oração que a alma 
se une a Deus, em inefável intimidade; é pela oração amorosamente contemplativa que os 
traços de Cristo se imprimem na alma; é pela oração que os olhos vêem o mundo, a 
história, os homens – cada homem – com a própria visão de Deus; e é pela oração que se 
pode chegar a dizer, como São Paulo: Eu vivo, mas já não sou eu; é Cristo que vive em 
mim. A minha vida presente, na carne, eu a vivo na fé no Filho de Deus, que me amou e se 
entregou por mim (Gál 2, 20). 
 Pois bem, João Paulo II vivia literalmente mergulhado na oração. E isso, mesmo 
para os que o ignoravam, se notava de uma forma indisfarçável. Desde o início do seu 
pontificado – continuando, aliás, com seus antigos hábitos de padre e de bispo – , 
levantava-se às 5,30 horas e, depois de se arrumar, ia imediatamente à capela para fazer 
mais de uma hora de oração íntima, ajoelhado diante do sacrário, perante um crucifixo e 
uma imagem da Virgem Negra de Czestokowa 35
No seu penúltimo livro, Levantai-vos! Vamos! 36
, o próprio Papa fala da alegria de 
ter a capela tão perto das dependências onde trabalhava: "A capela fica tão próxima para 
que na vida do bispo tudo – a pregação, as decisões, a pastoral – tenha início aos pés de 
Cristo, escondido no Santíssimo Sacramento [...]. Estou convencido de que a capela é um 
lugar de onde provém uma inspiração particular. É um privilégio enorme poder habitar e trabalhar no espaço dessa Presença, uma Presença que atrai, como um potente ímã". 
"Todas as grandes decisões – comentava um dos seus ajudantes – tomava-as de joelhos 
diante do Santíssimo Sacramento". 
A capela era, realmente, o ímã constante, irresistível, do dia-a-dia de João Paulo II. 
Na capela, além da oração matutina e da celebração da Santa Missa, rezava todos os dias a 
Liturgia das Horas. Na capela, muitas vezes, das 9,30 às 11,00 horas, se dedicava a 
escrever, anotando sempre no cabeçalho de cada folha uma oração abreviada, uma 
jaculatória. Na capela, guardava o que ele chamava a "geografia da sua oração", pois, no 
interior da parte de cima do genuflexório, as freiras que cuidavam da casa pontifícia 
deixavam centenas de folhas datilografadas, com pedidos de oração pessoal enviados por 
carta ao Papa por fiéis de todo o mundo, intenções pelas quais fazia questão de rezar. 
Conta-se que um dos seus secretários, o Pe. John Magee, procurou certa vez o Papa nos 
seus aposentos e não o encontrou. Foi-lhe indicado que o procurasse na capela, mas não o 
viu. Sugeriram-lhe, então, que olhasse melhor, e lá descobriu efetivamente o Papa, 
prostrado no chão, em adoração, diante do Sacrário. 
 Esse clima de oração estendia-se, como uma onda cálida, a todas as atividades do 
dia. João Paulo II rezava constantemente: entre as diversas reuniões, a caminho das 
audiências, no carro, num helicóptero... Num terraço do Palácio Apostólico, onde mandara 
colocar as catorze estações da Via Sacra, praticava essa devoção todas as sextas-feiras do 
ano e, na Quaresma, todos os dias. Rezava o terço em diversos momentos da jornada, até 
completar o Rosário. Um detalhe simpático: só dedicava ao descanso, após o almoço, uns 
dez minutos; depois dos quais, enquanto outros repousavam, passeava pelos jardins do 
Vaticano rezando o terço 37
COM OS OLHOS DA FÉ 
 A oração, a intimidade com Deus, é a condição imprescindível para que 
permaneçam abertos e penetrantes os olhos da fé. Na Missa inicial do Conclave, a 18 de 
abril de 2005, o cardeal Ratzinger dizia uma verdade grande e simples: "Quanto mais 
amamos Jesus, tanto mais o conhecemos". E na Missa de exéquias, o mesmo cardeal dizia: 
"O amor de Cristo foi a força dominante em nosso querido Santo Padre. Quem o viu rezar, 
quem o viu pregar, sabe disso". 
 Isso explica a serena firmeza com que João Paulo II se empenhou sem descanso, ao 
longo dos seus vinte e seis anos de pontificado, em aprofundar na autêntica doutrina 
católica – muitas vezes chegando, como exímio filósofo e teólogo que era, a 
profundidades deslumbrantes – e em difundi-la por todo o mundo. A fé, enraizada no 
amor, dava-lhe autenticidade. Todos sabiam que pregava sobre aquilo em que firmemente 
acreditava, sobre aquilo que vivia, sobre aquilo que sinceramente amava e sentia, quer 
fossem as verdades da fé relativas ao Redentor do homem, ao Espírito Santo, à Eucaristia, 
ao sacramento da Reconciliação, ao sentido do sacerdócio, ao Ecumenismo, à missão 
maternal de Maria..., quer às verdades morais que exprimem o plano de Deus sobre a 
família, sobre o amor humano e o sexo, sobre a dignidade inviolável da vida desde o 
primeiro instante da concepção até à morte natural, sobre o valor permanente dos 
Mandamentos do Decálogo, etc.38
 Muitos experimentavam o impacto dessas verdades, e mudavam. Outros, vibravam 
com elas e admiravam o Papa, mesmo que não se decidissem a praticá-las. Alguns, 
desorientados, as contestavam. Mas afora uns poucos sectários, todos – a começar pelos 
não-católicos e os não-crentes – captavam que o Papa tinha, nas suas falas, a transparência 
de Deus, a "longitude de onda" da Palavra de Deus. Era como se vissem nele, feito 
realidade, o louvor que Cristo dirigiu a Pedro em Cesaréia de Filipe: Feliz és Simão, filho 
de Jonas, porque não foi a carne nem o sangue que te revelou isto, mas meu Pai que está 
nos Céus (Mat 16, 17), bem como a oração que Jesus fez por Pedro, o primeiro Papa, na 
Última Ceia: Simão..., eu roguei por ti, para que a tua fé não desfaleça; e tu, uma vez 
convertido, confirma os teus irmãos (Luc 22, 32). 
COM A FORTALEZA DA FÉ 
 A fé, quando autêntica, é uma certeza amorosa que, depois de elevar até Deus a 
alma agradecida, se aninha no coração e o torna capaz de amar a todos. Aí está a diferença 
entre fé e fanatismo, entre convicção e "fundamentalismo". O fanático, o fundamentalista 
exasperado, não é capaz de compreender os que não pensam como ele; despreza-os e chega 
a odiá-los. 
 Pelo contrário, quem tem a alma iluminada pela fé de Jesus Cristo só sabe amar e, 
como ama loucamente Jesus, que veio ao mundo, como Ele dizia a Pilatos, para dar 
testemunho da verdade (Jo 18, 37), conjuga em perfeita harmonia a firmeza na fé (sem 
"espaço para cedências nem para um recurso oportunista à diplomacia humana" 39), com a 
compreensão e o afeto sincero para com os que divergem e erram. A afirmação da sua fé 
nunca foi, em João Paulo II, uma imposição irada, mas um convite, como o que marcou o 
início do seu pontificado: "Não tenhais medo! Abri as portas a Cristo!" 
 Assim foi João Paulo II, forte na fé – como pedia Pedro, de quem foi sucessor (I 
Pedro 5, 9) –, "com uma fé corajosa e sem medo, uma fé temperada na provação, pronta 
para seguir com generosa adesão qualquer chamado de Deus"40; e, ao mesmo tempo, um 
homem de braços abertos, disposto incansavelmente a sofrer todas as dificuldades, e até 
mesmo vexames e desprezos (como sucedeu, por exemplo, com alguns episódios 
indelicados na Nicarágua marxista, em Cuba e na Grécia), para avançar passo a passo, sem 
nunca desfalecer, pelo caminho do diálogo com os representantes das outras confissões 
cristãs, com os não-cristãos e com os não-crentes. 
 Numa breve biografia sobre João Paulo II, o então cardeal Ratzinger terminava com 
estas palavras: "Hoje também os espíritos críticos sentem com uma clareza sempre maior 
que a crise do nosso tempo consiste na «crise de Deus», no desaparecimento de Deus do 
horizonte da história humana. A resposta da Igreja deve ser uma só: falar sempre menos de 
si mesma e sempre mais de Deus, dando testemunho dEle e sendo a porta para Ele. Este é o 
verdadeiro conteúdo do pontificado de João Paulo II que, com o passar dos anos, torna-se 
sempre mais evidente"

E eu perguntaria aos pais e educadores: – Vocês, com a sua fé amada, aprofundada, 
cultivada e vivida, são mesmo uma "porta" por onde Cristo pode entrar e "ficar morando" 
(cfr. Jo 14, 23) na vida dos seus filhos e orientados, ou até agora foram mais um muro 
opaco que uma porta aberta e iluminada? Que Deus os ajude a tirar conclusões! 
UMA TOCHA DE CARIDADE 
"AMOU ATÉ O FIM" 
 Os últimos anos, meses e dias de João Paulo II evidenciaram de uma maneira 
impressionante e crescente, aos olhos de todos, que aquele ancião doente, combalido, 
encurvado, sofredor, cada vez mais limitado, depois de ter dado a vida inteira ao serviço de 

. Deus e de seus irmãos, os homens, estava disposto a entregar até a última gota, até o último 
alento, enquanto Deus não viesse buscá-lo. 
 Seguindo as pegadas de Cristo, decidiu-se a levar a sua caridade, o seu amor, até ao 
extremo, como Jesus, de quem diz o Evangelho que, tendo amado os seus que estavam no 
mundo, amou-os até o fim (Jo 13, 1). 
 Ele próprio deixara escritas no seu testamento, no ano 2000, as seguintes palavras: 
"Segundo os desígnios da Providência, foi-me concedido viver no difícil século que está 
ficando no passado, e agora, no ano em que a minha vida alcança os oitenta anos, é 
necessário perguntar-me se não chegou a hora de repetir com o bíblico Simeão: «Nunc 
dimittis» [refere-se à oração do ancião Simeão que, no dia da apresentação do Menino 
Jesus no Templo, diz a Deus que agora já o pode levar em paz deste mundo: cfr. Luc 2, 
29]". O escrito continua: "No dia 13 de maio de 1981, o dia do atentado contra o Papa 
durante a audiência geral na Praça de São Pedro, a Divina Providência salvou-me 
milagrosamente da morte. O mesmo único Senhor da vida e da morte prolongou-me esta 
vida e, em certo sentido, voltou a dar-ma de novo. A partir desse momento, pertence-lhe 
ainda mais [...]. Peço-lhe que me chame quando Ele quiser. «Se vivemos, vivemos para o 
Senhor; e se morremos, morremos para o Senhor... Somos do Senhor (cf. Rom 14,8)». 
Espero que, até que possa completar o serviço petrino [de sucessor de Pedro] na Igreja, a 
Misericórdia de Deus me dê forças para este serviço". 

E assim foi. A sua entrega foi como a de uma lamparina que se extingue só depois 
de se consumir inteiramente. Mas, à medida em que sua vida se ia apagando, o seu amor 
resplandecia com mais força. Quem não se lembra do seu derradeiro esforço por se 
comunicar, por levar a Palavra aos fiéis, naquele dia de abril em que, o rosto emoldurado 
pela janela de onde tinha falado tantas vezes, só pôde abrir a boca para exprimir 
silenciosamente a dor, a agonia, as lágrimas silenciosas de um pastor esgotado, que já não 
mais conseguia articular uma palavra? 
 Deixou-nos assim um reflexo extraordinário da imagem do Bom Pastor, que dá a 
vida pelas suas ovelhas (Jo 10, 11). A homilia das exéquias recordava essa figura 
evangélica, em que João Paulo II ficava retratado: "Foi sacerdote até o final, porque 
ofereceu a sua vida a Deus por suas ovelhas e por toda a família humana, numa entrega cotidiana ao serviço da Igreja e, sobretudo, nas duras provas dos últimos meses. Assim se 
converteu em uma só coisa com Cristo, o Bom Pastor que ama as suas ovelhas". 
"AQUELE QUE DÁ A VIDA PELOS SEUS AMIGOS" 
 Eis outras palavras de Cristo, na Última Ceia, que ajudam a captar essa tocha de 
caridade: Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida pelos seus amigos (Jo 15, 
15). 
 Cristo deu a vida com a sua dedicação infatigável aos homens – Não vim para ser 
servido, mas para servir e dar a vida para salvação de muitos (cfr. Mat 20, 28) –, mas a 
sua entrega chegou ao ápice no sacrifício da Cruz. Com efeito, foi na Cruz, quando já do 
corpo dilacerado escorriam as últimas gotas do sangue derramado para a remissão dos 
pecados (Mt 26, 28), que Jesus pôde dizer: Tudo está consumado! (Jo 19, 30). Nos últimos 
anos, João Paulo II foi-se configurando, cada vez mais plenamente, com Jesus sofredor, 
com a sua Paixão e Morte. Viveu uma intensa "consciência" do valor salvador da Cruz , 
que ele sempre amara: "Nunca me aconteceu – escrevia – colocar com indiferença a minha 
Cruz peitoral de bispo. É um gesto que sempre acompanho com a oração. Há mais de 
quarenta e cinco anos que a Cruz pousa em meu peito, ao lado do meu coração. Amar a 
Cruz quer dizer amar o sacrifício" 

À medida que os seus sofrimentos físicos foram aumentando, até envolvê-lo, por 
assim dizer, como uma espessa malha torturante, o Papa foi compreendendo com mais 
profundidade que a sua dor, em união com a de Jesus crucificado, seria, por desígnio 
divino, a nova forma de cumprir a missão de pastor de um rebanho imenso, espalhado pelo 
mundo – os católicos, os cristãos, todos os homens –, um rebanho que se debate no meio 
dos perigos, incertezas e ameaças do nosso tempo em crise. 
 Deixemos a palavra, mais uma vez, ao cardeal Ratzinger, na homilia das exéquias 
de João Paulo II: "Precisamente nessa sua comunhão com o Senhor que sofre, o Papa 
anunciou, infatigavelmente e com renovada intensidade, o Evangelho, o mistério do amor 
até o fim". E, a seguir, o cardeal citava palavras do próprio João Paulo II no seu último 
livro Memória e Identidade (págs. 189-190): "Cristo, sofrendo por todos nós, conferiu um 
novo sentido ao sofrimento, introduziu-o em uma nova dimensão, em uma nova ordem: a 

. do amor... É o sofrimento que queima e destrói o mal com a chama do amor, e até do 
pecado tira um florescimento multiforme de bem". 
 É tocante perceber como João Paulo II ia crescendo nessa profunda visão 
sobrenatural. Após a queda no banheiro, em 28 de abril de 1994, com graves fraturas, 
sofreu uma nova intervenção cirúrgica na Policlínica Gemelli, que, no entanto, não pôde 
resolver satisfatoriamente o problema. Passou, então, a usar bengala. As dores não 
cederam, ao contrário. Os movimentos tornaram-se mais trôpegos e penosos. 
Quando voltou a dirigir-se aos fiéis presentes na Praça de São Pedro, à hora do 
Ângelus, em 29 de maio, agradeceu publicamente a Cristo e Maria o "dom do sofrimento", 
que via como "um dom necessário". Explicava-lhes, falando especialmente às famílias: 
"Meditei vezes sem conta sobre tudo isso durante a minha estadia no hospital... 
Compreendi que tenho de conduzir a Igreja de Cristo até este terceiro milênio através da 
oração, de vários programas de atuação, mas vi que não é suficiente: tem de ser guiada 
pelo sofrimento, pelo ataque de há treze anos [o atentado de Ali Agca] e por este novo 
sacrifício [...]. O Papa tinha de ser atacado, o Papa tinha de sofrer, de modo que todas as 
famílias e o mundo pudessem ver que existe um Evangelho mais grandioso: o Evangelho 
do sofrimento, pelo qual se prepara o futuro, o terceiro milênio das famílias, de cada 
família e de todas as famílias"

No dia primeiro de abril, pressentindo-se um próximo desenlace, o Arcebispo 
Angelo Comastri, Vigário para o Estado da Cidade do Vaticano e grande amigo do Papa, 
foi chamado com urgência ao quarto do pontífice agonizante. Diante dele, como comentou 
depois pela Rádio vaticana, experimentou uma emoção indescritível: "Ao vê-lo no leito do 
sofrimento, disse-lhe: «És verdadeiramente o Vigário de Cristo até o final, na paixão que 
estás vivendo, de modo tão edificante que comove o mundo». O Papa – continuou a narrar 
–, com a sua dor, escreveu a encíclica mais bela da sua vida, fiel a Jesus até o final", a 
"encíclica nunca escrita" 44
A sua morte assombrou o mundo, pois viu nela um "Evangelho da vida". O Papa 
alegre, que amou entranhadamente a juventude, soube pouco antes de expirar que 
multidões de jovens rezavam e velavam a sua agonia ao pé da sua janela, e então disse, 
com um fio de voz quase imperceptível: "Vi ho cercato, adesso siete venuti da me, e per 
questo vi ringrazio" ("Eu procurei vocês, jovens, agora vocês vieram ter comigo; e por isso 
lhes agradeço"). Foram as últimas palavras audíveis que pronunciou. 
 Interrompo o relato para fazer outro breve parêntese, pois não consigo continuar 
sem dirigir-me de novo aos pais cristãos, e perguntar-lhes: – Os vossos filhos, podem 
admirar em vocês a alegria no meio da dor, do sacrifício e da doação generosa, sem 
sombras de queixas egoístas? Podem assombrar-se ao admirar a paz serena de uns pais que 
amam a Deus e nEle confiam, de uns pais que se abandonam plenamente à sua santa 
Vontade, e por isso nunca perdem nem a boa disposição nem o sorriso, mesmo em meio ao 
maior sofrimento?... Continuemos. 
"A MIM O FIZESTES" 
 A tocha ardente e clara do exemplo de caridade de João Paulo II ficaria incompleta 
se não fizéssemos pelo menos uma alusão a um dos empenhos mais característicos do seu 
pontificado: a veneração, o imenso respeito, o amor pela "dignidade do homem, de cada 
homem, de cada mulher". Extasiava-se ao pensar no "milagre da pessoa, da semelhança do 
homem com Deus Uno e Trino"45. Tinha assimilado plenamente as palavras de Cristo: 
Tudo o que fizestes a um destes meus irmãos mais pequeninos, foi a mim que o fizestes 
(Mat 25, 40). 
 Daí a sua defesa vigorosa da vida, desde que começa a alvorecer recém-concebida; 
daí a fortaleza com que se opôs a qualquer destruição ou rebaixamento do ser humano 
como se fosse um objeto, desde as manipulações genéticas e experiências destrutivas de 
embriões e fetos, e o uso do corpo como mero instrumento de prazer, até a defesa da morte 
natural digna – de que deu exemplo com a sua própria morte –, que rejeita como uma 
indignidade a eutanásia direta, expediente egoísta e cômodo de uma sociedade hedonista 
que só pensa em livrar-se de problemas do modo mais expeditivo. 
 Sofria ao observar que, na sociedade materializada atual, "o homem ficou só", e que 
a sua liberdade divinizada, transformada num ídolo sem Deus, sem verdades nem valores 

 firmes, acaba por ser uma fonte de "nefastas conseqüências morais, cujas dimensões são às 
vezes incalculáveis"46
 Só sabia ver as pessoas, cada uma delas, sob a luz de Deus. "Eu simplesmente rezo 
por todos cada dia. Basta encontrar uma pessoa, para que ore por ela, e isso facilita sempre 
o contacto [...]. Sigo o princípio de acolher cada um como uma pessoa que o Senhor me 
envia e que, ao mesmo tempo, me confia" 47
 E como reagiu quando se tratou de um assassino a soldo, que friamente fez tudo 
para matá-lo, que ficou frustrado ao ver que o Papa sobrevivia ao atentado e que jamais 
esboçou sequer um pedido de perdão? O seu amor não mudou. O valor que dava a cada 
pessoa humana não mudou, e até mesmo atingiu o cume do amor, conseguindo perdoar de 
todo o coração, devolver bem por mal, amor por ódio, bondade por maldade. Desde o 
primeiro instante, após o atentado, perdoou Mehmet Ali Agca e rezou por ele. Voltou a dar 
o perdão publicamente, na primeira audiência que pôde ter com os fiéis. Foi visitá-lo na 
prisão e ofereceu-lhe o seu abraço sincero. Várias vezes, como contava o seu secretário 
particular, Mons. Stanislaw Dziwisz, "recebeu a mãe e os familiares de Agca e perguntava 
freqüentemente por ele aos capelães da prisão" 48
 Esta é, mais uma vez, a luz de Cristo, a tocha fascinante do amor cristão, irradiando 
sobre o mundo inteiro pelo exemplo, pela chama de amor de um homem de Deus: Senhor 
– perguntou a Jesus o "primeiro Pedro" –, quantas vezes devo perdoar ao meu irmão, 
quando ele pecar contra mim? Até sete vezes? Respondeu Jesus: «Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete»" (Mat 18, 21-22). 
UMA TOCHA DE ESPERANÇA 
AINDA QUE ATRAVESSE O VALE ESCURO, NÃO TEMEREI... 
 Desde que iniciou a sua preparação para o sacerdócio, Karol Wojtyla foi colocado 
por Deus numas circunstâncias dramáticas, em que só podia ser fiel à sua vocação 

"atravessando o vale escuro", como diz o Salmo 23. A sua terra, a Polônia, esteve 
dominada durante boa parte do século XX pelas duas "ideologias do mal"49 que mais 
acirradamente se propuseram aniquilar o Cristianismo: o nazismo e o marxismo-leninismo. 
A "aventura" heróica, empolgante, que significou para o seminarista, o padre e o bispo 
Wojtyla a vida no ambiente de guerra, de ditaduras e perseguições desencadeadas por essas 
duas ideologias, está bem descrita nas boas biografias já existentes50
 O perigo nazista foi derrotado em 1945, mas a sombra do marxismo totalitário e 
ateu cresceu e pairou opressivamente sobre a Polônia dominada, e ameaçava o mundo 
inteiro até a sua decomposição e queda, acontecida no final dos anos oitenta. 
 Contudo, quase vinte anos antes dessa falência do "comunismo real", outras 
sombras escuras estavam surgindo, densas e igualmente agressivas contra Cristo e a sua 
Igreja, contra a fé e a moral cristãs: as sombras do materialismo hedonista e consumista do 
ocidente, cada vez mais alicerçado na ideologia laicista, que hoje ataca a Igreja quase com 
a mesma ferocidade ideológica que o nazismo e o marxismo. 
No seu livro evocativo Memória e identidade, João Paulo II comenta que, após 
cessarem os campos de extermínio – os campos de concentração nazistas e os gulag 
comunistas – , assistimos hoje ao "extermínio legal de seres humanos concebidos e ainda 
não nascidos; trata-se de mais um caso de extermínio decidido por parlamentos eleitos 
democraticamente, que apelam para o progresso civil das sociedades e da humanidade 
inteira. E não faltam outras formas graves de violação da Lei de Deus; penso, por exemplo, 
nas fortes pressões [...] para que as uniões homossexuais sejam reconhecidas como uma 

forma alternativa de família, à qual competiria também o direito de adoção. É lícito e 
mesmo forçoso perguntar se aqui não está atuando mais uma ideologia do mal, talvez mais 
astuciosa e encoberta, que tenta servir-se, contra o homem e contra a família, até dos 
direitos humanos" 51
 A essa realidade, é preciso somar o fato de que João Paulo II assumiu a cátedra de 
Pedro em tempos (que se vêm prolongando, em parte, até aos nossos dias) em que a crise 
do chamado "falso pós-Concílio" grassava na Igreja, gerando um ambiente amplamente 
estendido de desorientação doutrinal, disciplinar e moral, em que não faltavam erros graves 
e rebeldias mesmo entre os eclesiásticos, os religiosos e as religiosas. 
 O quadro seria de molde a fazer encolher os ânimos e suscitar uma visão pessimista 
do futuro. Pois bem, é justamente sobre essas sombras de fundo que resplandece mais, com 
fulgor de santidade, a esperança alegre, serena e segura que animou, em todos os 
momentos, a alma e o trabalho de João Paulo II, até ao dia da sua morte. Nunca se viu nele 
um gesto de desalento, uma lamúria, um comentário negativo ou amargo. Viu-se sempre, 
pelo contrário, um otimismo juvenil, criativo, inabalável, fundamentado numa fé 
igualmente jovem, renovada e inquebrantável. 
NÃO TENHAIS MEDO: ABRI AS PORTAS A CRISTO! 
 O otimismo do Papa não era coisa temperamental, nem uma "posição" adotada para 
ajudar os fiéis a superar tempos difíceis. Era a manifestação da esperança sobrenatural 
cristã, que vive apoiada em Deus. Essa esperança possuía raízes profundamente fincadas 
na alma de João Paulo II. 
Todos os que vivemos, de perto ou de longe, a surpresa da eleição de João Paulo II, 
guardamos a lembrança do dia 22 de outubro de 1978, data do início solene do seu 
pontificado. Como nos dias da sua morte, uma multidão apertava-se na Praça de São Pedro. O Papa começou a pronunciar a sua homilia, no meio de um silêncio total. Pouco 
depois de iniciá-la, os fiéis sentiram um estremecimento no coração, porque João Paulo II, 
esboçando um leve sorriso, encarou o povo de frente e, com um ar jovial, seguro, tranqüilo, 
lançou com voz clara e forte um apelo: – "Não tenhais medo! Abri as portas ou, melhor, 
escancarai as portas a Cristo!" 
 Esse apelo, que conclamava os católicos e os homens de boa vontade a olhar para o 
futuro com esperança, tornou-se para o Papa como que o "refrão" do seu pontificado. 
Dezesseis anos mais tarde, em 1994, ele mesmo glosava essas palavras numa entrevista 
concedida ao jornalista Vittorio Messori, transcrita no livro Cruzando o limiar da 
esperança 

"Não tenhais medo!, dizia Cristo aos Apóstolos (Lc 24, 36) e às mulheres (Mt 28, 
10), depois da Ressurreição [...]. Quando pronunciei essas palavras na praça de São Pedro, 
não podia dar-me conta plenamente de quão longe elas acabariam por levar-me a mim e à 
Igreja inteira. O seu conteúdo provinha mais do Espírito Santo, prometido pelo Senhor 
Jesus aos Apóstolos como Consolador, do que do homem que as pronunciava. Todavia, 
com o passar dos anos, eu as recordei em várias circunstâncias. Tratava-se de um convite 
para vencer o medo na atual situação mundial [...]. Talvez precisemos mais do que nunca 
das palavras de Cristo ressuscitado: "Não tenhais medo!". Precisa delas o homem [...], 
precisam delas os povos e as nações do mundo inteiro. É necessário que, em sua 
consciência, retome vigor a certeza de que existe Alguém que tem nas mãos a sorte deste 
mundo que passa; Alguém que tem as chaves da morte e do além; Alguém que é o Alfa e o 
Ômega da história do ser humano. E esse Alguém é Amor, Amor feito homem, Amor 
crucificado e ressuscitado. Amor continuamente presente entre os homens. É Amor 
eucarístico. É fonte inesgotável de comunhão. Somente Ele é que dá a plena garantia às 
palavras: «Não tenhais medo»." 
 É emocionante verificar que a mesma esperança da primeira mensagem de João 
Paulo II animou a sua última mensagem. No domingo, dia 3 de abril de 2005, o arcebispo 
Sandrini leu à multidão congregada na praça de São Pedro a última alocução preparada 
com antecedência pelo Papa, que falecera no dia anterior. Era seu desejo pronunciá-la no 
encontro tradicional da hora do Angelus desse dia (hora do Regina Caeli, pois era tempo 
pascal): "...À humanidade – dizia – , que às vezes parece perdida e dominada pelo poder do mal, do egoísmo e do medo, o Senhor ressuscitado oferece a sua misericórdia como dom 
do seu amor que perdoa, reconcilia e reabre o ânimo à esperança. É um amor que converte 
os corações e doa a paz. Quanta necessidade tem o mundo de compreender e acolher a 
Divina Misericórdia! Senhor, que com a vossa morte e ressurreição revelais o amor do Pai, 
nós acreditamos em Ti e hoje te repetimos com confiança: «Jesus, confio em Ti! Tem 
misericórdia de nós e do mundo inteiro!»". A mensagem terminava convidando a 
"contemplar com os olhos de Maria o imenso mistério desse amor misericordioso que brota 
do coração de Cristo". 
OS SEGREDOS DA ESPERANÇA 

A Epístola aos Hebreus diz que "a fé é o fundamento da esperança" (Hebr 11, 1). 
Assim foi, sem dúvida, na vida de João Paulo II. 
 No livro Cruzando o limiar da esperança, o Papa perguntava-se: "Por que não 
devemos ter medo?". E respondia: "Porque o ser humano foi redimido por Deus [...]. Deus 
amou tanto o mundo que entregou o seu Filho Unigênito (Jo 3, 16). Esse Filho continua na 
história da humanidade como Redentor. A revelação divina perpassa toda a história do ser 
humano e prepara o seu futuro... É a luz que resplandece nas trevas (cfr. Jo 1, 5). O poder 
da Cruz de Cristo e da sua Ressurreição é maior que todo o mal de que o homem poderia 
e deveria ter medo" – conclui, grifando explicitamente a última frase 53
 Na verdade, é nesta última frase que se encerra todo o segredo da esperança cristã. 
O biógrafo George Weigel, referindo-se a um comentário feito pelo dissidente jugoslavo 
Milovan Djilas, no sentido de que aquilo que mais lhe havia impressionado no Papa fora 
perceber que era um homem totalmente destemido, esclarecia o verdadeiro caráter dessa 
coragem: "Trata-se de uma audácia inequivocamente cristã. Na fé cristã, o medo não é 
eliminado, mas transformado através de um encontro pessoal profundo com Cristo e com a 
sua Cruz. A Cruz é o lugar em que todo o medo humano foi oferecido pelo Filho ao Pai, 
livrando-nos a todos do medo" 54
 Alguns anos depois, em 2005, João Paulo II corroborava essa interpretação. No 
livro Memória e Identidade, diz: "Porventura não é o mistério da Redenção [da Cruz, da 
Morte e da Ressurreição de Cristo] a resposta ao mal histórico que retorna, sob as mais 
variadas formas, nos acontecimentos do homem? Não será a resposta também ao mal do 
nosso tempo? [...]. Se olharmos, com olhos mais clarividentes, a história dos povos e das 
nações que passaram pela prova dos sistemas totalitários e das perseguições por causa da 
fé, descobriremos que foi então precisamente que se revelou com clareza a presença 
vitoriosa da Cruz de Cristo [...], como promessa de vitória [...]. Se a Redenção constitui o limite divino posto ao mal, isso se verifica apenas porque nela o mal é radicalmente 
vencido pelo bem, o ódio pelo amor, a morte pela ressurreição" 55. Cristo vence o mundo 
do mal, do pecado, vence o Inimigo, vence a morte. E a sua vitória é nossa: Esta é a vitória 
que vence o mundo, a nossa fé (I João 5, 4). 

Com essa mesma esperança bem fundada, o Papa entrava – e nos ajudava a entrar 
com ele – no novo milênio, oferecendo-nos, na Carta apostólica Novo millennio ineunte 
("No início do novo milênio"), de 6 de janeiro de 2001, todo um programa vibrante e 
otimista para o período que se iniciava. Também nessa Carta, a alegre esperança brotava da 
fé em Cristo Redentor, ressuscitado, vivo, que "não nos deixou órfãos" (cfr. Jo 14, 18), que 
nos prometeu "estar conosco todos os dias até o fim do mundo" (cfr. Mat 28, 20). "Agora é 
para Cristo ressuscitado que a Igreja olha", escrevia. "Passados dois mil anos sobre esses 
acontecimentos (Paixão, Morte e Ressurreição de Cristo), a Igreja revive-os como se 
tivessem sucedido hoje. No rosto de Cristo, ela – a Esposa – contempla o seu tesouro, a sua 
alegria [...]. Confortada por essa experiência revigoradora, a Igreja retoma agora o seu 
caminho para anunciar Cristo ao mundo no início do terceiro milênio: Ele é o mesmo 
ontem, hoje e sempre (Hebr 13, 8)" (n. 28). 
UM LUMINOSO AMANHECER 
 Quem lê esse documento (e é importante relê-lo e meditá-lo muitas vezes!), pode 
ter inicialmente a impressão de um excesso de otimismo. O Papa fala com tanto 
entusiasmo do futuro da Igreja! Vê o mundo como um mar aberto diante dos cristãos, 
imenso, fabuloso, um mar para o qual Cristo acena, enquanto olha para nós e nos lança 
para ele com a mesma palavra de ordem que dirigiu a Pedro, pescador, no mar da Galiléia, 
após uma noite triste de fracassos: Duc in altum! – Avança para águas mais profundas e 
lança as tuas redes para a pesca! (Luc 5, 3-4). 
 Esperança não é ilusão. Otimismo não é fechar os olhos e achar que tudo é azul. O 
Papa João Paulo II tinha – já o dissemos antes – plena consciência da presença abundante 
do mal no nosso mundo, da grande quantidade de joio, de planta daninha, misturada no 
meio do bom trigo. Mas não se esquecia de que Jesus, com a parábola do trigo e o joio (cfr. 
Mat 13e, 24 ss.), quis garantir-nos que haverá trigo e promessa de belas colheitas até o fim 
do mundo. O pessimista vê o joio. O otimista vê o trigo, e sente a responsabilidade de 
cuidá-lo, aumentá-lo, estendê-lo, fazê-lo crescer. "O modo como o mal cresce e se 
desenvolve no terreno sadio do bem – escreve o Papa Wojtyla – constitui um mistério; e 
mistério é também aquela parte de bem que o mal não conseguiu destruir e que se propaga 
apesar do mal, e cresce no mesmo terreno [...]. O trigo cresce juntamente com o joio e, vice-versa, o joio com o trigo. A história da humanidade é o palco da coexistência do bem 
e do mal. Isto significa que, se o mal existe ao lado do bem, então está claro que o bem, ao 
lado do mal, persevera e cresce".56
 Da mesma forma, na Carta Mane nobiscum Domine para o Ano da Eucaristia 
(2005), João Paulo II reafirmava o otimismo da Carta do novo milênio, sem deixar de 
registrar o fato de que o mal, não só não diminuiu, como até parece ter crescido sob vários 
aspectos, desde que o novo milênio começou. Evocava as celebrações do Jubileu do ano 
2000 e dizia: "Sentia que essa ocasião histórica se delineava no horizonte como uma 
grande graça. Não me iludia, por certo, com a idéía de que uma simples passagem 
cronológica, ainda que sugestiva, pudesse por si mesma comportar grandes mudanças. Os 
fatos, infelizmente, encarregaram-se de pôr em evidência, depois do início do milênio, uma 
espécie de crua continuidade dos acontecimentos precedentes e, com freqüência, dos piores 
dentre esses". Mas nem por isso deixava de incentivar os cristãos a "testemunhar com mais 
força a presença de Deus no mundo", e proclamava, "mais convencido que nunca", a 
certeza de que Cristo "está no centro, não apenas da história da Igreja, mas também da 
história da humanidade" e de que, por isso, só "nEle o homem encontra a redenção e a 
plenitude" 57
 João Paulo II já está com Deus, na vida que não morre mais. Mas a sua esperança 
continua a ser luz que ilumina os olhos da alma e enche de coragem o coração. O novo 
Papa Bento XVI sente-se devedor dessa esperança e quer ser o novo porta-voz dela. Na sua 
primeira mensagem, dirigida na Capela Sixtina aos cardeais que o elegeram, a vinte de 
abril de 2005, disse: "Tenho a impressão de sentir a mão forte do meu Predecessor, João 
Paulo II, que estreita a minha. Parece que vejo os seus olhos sorridentes e que ouço as suas 
palavras, dirigidas neste momento particularmente a mim: «Não tenhais medo!». 
 A bandeira da esperança de João Paulo II continua desfraldada: "Sigamos em frente 
com esperança", repete-nos. "Diante da Igreja abre-se um novo milênio como um vasto 
oceano onde se aventurar com a ajuda de Cristo. O Filho de Deus, que se encarnou há dois 
mil anos por amor do homem, continua também hoje em ação [...]. Agora Cristo, por nós 
contemplado e amado, convida-nos uma vez mais a por-nos a caminho [...], convida-nos a 
ter o mesmo entusiasmo dos cristãos da primeira hora. Podemos contar com a força do 

mesmo Espírito que foi derramado no Pentecostes e nos impele hoje a partir de novo 
sustentados pela esperança, que não nos deixa confundidos (Rom 5, 5)" 58
 Eis uma grande lição de esperança. Também neste ponto, antes de encerrar a 
reflexão, desejaria abrir um pequeno parêntese, para pedir a Deus que nos conceda, como 
um dom precioso da sua graça, muitos pais, pastores de almas e mestres capazes de 
acolher e acalentar no coração essa chama de esperança cristã que João Paulo II nos legou. 
Oxalá se multipliquem, por bondade de Deus, os pais e mestres que se decidam a "pôr-se a 
caminho" e se empenhem em colaborar eficazmente, com o seu exemplo e a sua palavra, 
no surgimento de uma nova leva de filhos de Deus, de homens e mulheres "novos" – 
purificados das dúvidas e confusões dos últimos quarenta anos – que sejam verdadeira luz, 
que sejam sal e fermento divino, e saibam imprimir o "rosto de Cristo" neste mundo nosso! 
 **** 
 No verão de 1997, João Paulo II convidou a passar uns dias com ele, em 
Castelgandolfo, um casal de amigos poloneses, velhos companheiros de luta pela fé e pela 
liberdade, Piotr e Teresa Malecki. "O quarto deles – relata George Weigel – ficava mesmo 
por baixo do seu e, todas as manhãs antes de amanhecer, sabiam pelo baque surdo da sua 
bengala que já se tinha levantado. Certo dia, à hora do café da manhã, o Papa perguntou lhes se o barulho os incomodava. Responderam-lhe que não, pois de qualquer forma já 
tinham de se levantar para a missa. «Mas, Wujek – perguntaram –, por que você se levanta 
tão cedo?» 
 "Porque – disse Karol Wojtyla, 264º bispo de Roma – gosto de contemplar o 
amanhecer"59
 . 
 *** 
 Ao Papa João Paulo II podem-se aplicar, com toda a razão, as palavras com que, 
certa vez, Cristo fez a breve biografia de São João Batista: João era uma lâmpada que 
ardia e iluminava (cfr. Jo 5, 35). 
 Não será a hora de pedir a intercessão dele, diante de Deus, para que algum dia 
essas palavras possam aplicar-se também aos pais e orientadores que leram estas páginas, 
e, de modo geral, a todos nós? 

FIM