sexta-feira, 1 de março de 2013

O encontro com Jesus

O encontro com Jesus
22 fevereiro, 2013

“No dia seguinte , João estava lá, de novo, com dois dos seus discípulos. Vendo Jesus caminhando, disse: “Eis o Cordeiro de Deus”! Os dois discípulos ouviram esta declaração de João e passaram a seguir Jesus. Jesus, voltou-se para trás e, vendo que eles seguiam, perguntou-lhes: “Que procurais?” Eles responderam: “Rabi (que quer dizer Mestre), onde moras? Ele respondeu: “Vinde e vede”! Foram, viram onde morava e permaneceram com ele aquele dia. Era por volta das quatro horas da tarde. André, irmão de Simão Pedro, era um dos dois que tinham ouvido a declaração de João e seguido Jesus. Ele encontrou primeiro o próprio irmão, Simão, e lhe falou: “Encontramos o Cristo!” (que quer dizer Messias). Então conduziu-o até Jesus, que lhe disse, olhando para ele: “Tu és Simão, filho de João. Tu te chamarás Cefas!” (que quer dizer Pedro).”
Os quatros evangelistas contam o chamado dos primeiros discípulos. Enquanto os demais evangelistas (cf.Mt 4,18-22; Mc 1,16-20; Lc 5,1-11) descrevem o encontro com Jesus, quando os apóstolos estavam no trabalho, João mostra a vocação destes no prolongamento do ministério de João Batista. Este “cede” generosamente a Jesus seus próprios discípulos, com uma frase que os anima a segui-lo, quando, pela segunda vez, dá testemunho a seu respeito.
Os discípulos descobrem o mistério de Cristo e sua mensagem, decidindo-se a segui-lo. Tudo começa com uma testemunha qualificada, que aqui é João Batista: “Eis o cordeiro de Deus” (Jo 1,36). Em seguida começa um caminho de verdadeiro discípulo: “Passaram a seguir Jesus” (Jo 1,37). De fato, seguir a Jesus é ser discípulo. O resultado é uma experiência pessoal de comunhão com o Mestre: “Foram, viram onde morava e permaneceram com ele aquele dia” (Jo 1,39). O encontro deixou lembranças inesquecíveis: “Era por volta das quatro horas da tarde”, relembra João, quando encontraram Jesus. Deus faz as suas escolhas até confundindo os sábados entendidos (cf. 1Cor 1,27).
O diálogo entre Jesus e os discípulos aprofunda o sentido da identidade de Cristo, chamando-os a uma experiência de vida com ele. Nasce espontaneamente a comunicação da experiência feita, na conversa de André com seu irmão Simão: “Encontramos o Cristo!” (Jo 1,41). Daí para frente, a missão se espalhou, pelo testemunho da fé, que há de chegar aos confins da terra.
Impressiona fortemente a pessoa de Jesus e sua grande humanidade, que vai ao encontro das grandes aspirações das pessoas. Quem quiser saber quem é Jesus, descubra-o através do comportamento das pessoas que se encontram com ele. Conhecer o seu mistério é observar o mundo que o circunda e descobrir seu modo de se relacionar com as pessoas. É necessário entrar na casa do senhor, aceitar o seu convite, acostumar-se com seu jeito de viver, acolher o dom de sua presença.
O mesmo chamado se repete na história da igreja e com cada pessoa. Há um encontro que provoca mudança radical em nossa vida, do jeito imprevisível de Deus agir. Ele pode servir-se de pessoas e situações semelhantes a João Batista: nossos pais, um sacerdote um livro, um retiro, mas é sempre o mesmo Senhor que chama.
Trata-se de uma diálogo que dura a vida inteira. No texto que meditamos, Jesus fala, pela primeira vez, no Evangelho de São João, e abre a boca para fazer uma pergunta: “Que procurais?”. Em outros momentos essenciais e densos , Jesus faz a mesma pergunta: no início de sua Paixão (Jo 18,4-7) e quando parece a Maria Madalena (Jo 20,15).
Como todos nós desejamos a felicidade e a realização, é necessário fazer o caminho da sadia ansiedade pelo Reino de Deus, sabendo que o Reino é uma verdadeira paixão, que acompanha o ministério público de Jesus. Seguir a Jesus é levar-lhe todas as nossas perguntas e inquietações, sem receio. João Paulo II, em sua primeira visita à América Latina, assim descreveu a fidelidade, pregando sobre “A Virgem fiel”:
A primeira dimensão da fidelidade de Maria se chama busca. Maria foi fiel, antes de mais, quando, com amor, se pôs a buscar o sentido profundo do Desígnio de Deus nela e para o mundo. “Como poderá ser ?”, perguntou ela ao Anjo da Anunciação. Já no Antigo Testamento, o sentido desta busca se traduz numa expressão de rara beleza e de extraordinário conteúdo espiritual: “buscar o Rosto do Senhor”. Não haverá fidelidade se na raiz não houver esta busca ardente, paciente e generosa; se no coração do homem não se encontrar uma pergunta para a qual só Deus tem a resposta, ou melhor dizendo, para a qual só Deus é a resposta.
Há um caminho a percorrer: as muitas perguntas existentes no coração humano devem ser escolhidas e acolhidas; não tenhamos medo de perguntar a Jesus ou às pessoas que por ele nos são envidas. Busquemos respostas consistentes, mesmo quando as perguntas nos assustam ou assustam nossos interlocutores. A igreja não teme o confronto: sincero dom de quem quer sinceramente buscar e encontrar a verdade.
O desejo de Deus está escrito no coração do homem, já que o homem é criado por Deus e para Deus; e Deus não cessa de atrair o homem a si, e somente em Deus o homem há de encontrar a verdade e a felicidade que não cessa de procurar: “O aspecto mais sublime da dignidade humana está nesta vocação do homem à comunhão com Deus. Este convite que dirige ao homem, de dialogar com ele, começa com a existência humana. Pois se o homem existe, é porque Deus o criou por amor, por amor, não cessa de dar-lhe o ser, e o homem só vive plenamente, segundo a verdade, se reconhecer livremente este amor e se entregar ao seu Criador” (Catecismo da igreja Católica 27).
D. Alberto Taveira – Arcebispo de Belém-PA

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