Que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro?
Os cristãos devem ser homens de Deus e mostrar à sociedade que só o progresso material não é capaz salvar a alma humana
Uma das grandes preocupações dos papas do último século foi com a construção, na sociedade, de uma necessária "hierarquia dos valores", a fim de lembrar o homem de sua vocação para a eternidade e de sua grande nobreza enquanto imago Dei – "imagem de Deus" (Gn 1, 27).
Era o progresso técnico e científico que inquietava sobremaneira o espírito dos Sumos Pontífices. E não porque a Igreja Católica fosse contrária ao desenvolvimento dos povos ou à descoberta de novas ferramentas para integrar os homens. Como ensinou o Concílio Vaticano I, sobre a relação entre fé e razão, "a Igreja, longe de opor-se ao estudo das artes e das disciplinas humanas, favorece-as e promove-as de todos os modos"01.
O que se percebia, porém, era que, ao lado da lâmpada, do automóvel e do telefone, a sociedade vivia em permanente crise espiritual. Ao lado de tantas invenções e descobertas importantes, havia uma filosofia anunciando que Deus teria morrido e que o homem deveria procurar não mais a santidade de uma vida justa, mas a frivolidade de uma vida cheia de prazeres e satisfações mundanas.
O Papa Leão XIII, ainda em 1890, notou a discrepância entre o desenvolvimento material e o espiritual das nações. Na encíclica Sapientiae Christianae, reconheceu um relativo "progresso nas comodidades corporais e extrínsecas", mas alertou: "Toda essa natureza sensível, a abundância de meios, as forças e as riquezas, se podem gerar comodidades e aumentar a serenidade da vida, não poderão nunca satisfazer a nossa alma, criada para coisas mais altas e com mais gloriosos destinos". Mostrando como os "bens da alma" se escureciam cada vez mais entre os homens, sua advertência se revestiu de caráter profético: "Assaz catástrofes nos apresentou já o século em que vamos, e quem sabe as que estão ainda por vir!", exclamava o Pontífice, como que já antevendo as tragédias que atravessaram praticamente todo o século XX.
E mesmo depois de tanta destruição, seja em consequência das duas grandes guerras mundiais, seja pela ascensão do socialismo ao poder, os apelos da Igreja à conversão da humanidade não cessaram; ao contrário, intensificaram-se ainda mais. A Igreja tinha consciência que, mais que recuperar os países devastados pela guerra, era preciso resgatar o homem do profundo abismo existencial no qual se tinha lançado. Como apontou com precisão o Papa Pio XII, a era técnica estava levando "a cabo sua monstruosa obra de transformar o homem em um gigante do mundo físico, em detrimento de seu espírito, reduzido a pigmeu do mundo sobrenatural e eterno"02.
A exortação de seu sucessor, o beato papa João XXIII era que se devia reconhecer uma justa "hierarquia dos valores". A televisão, o celular, o computador e a Internet, bem como os inúmeros avanços científicos logrados nos últimos anos "constituem sem dúvida elementos positivos" de nossa civilização, porém "não são, nem podem ser, valores supremos; em comparação destes, revestem essencialmente um caráter instrumental"03.
Reconhecer a natureza instrumental de nosso progresso material significa dizer que só quando o homem olha para o Céu pode edificar nesta terra "uma cidade fiável", como indica o Papa Francisco, na encíclica Lumen Fidei. Para isto, os cristãos precisam oferecer o seu testemunho, demonstrando com suas próprias vidas como gozam dos bens terrestres: vislumbrando os dons celestes. Mais do que qualquer coisa, o cristão católico deve ser um homem de oração. Permanecendo em constante diálogo com o Senhor, poderá conservar dentro de si a graça divina, o desejo de fazer sempre a Sua vontade e de irradiar a Palavra de Deus às outras pessoas.
Onde a sociedade se esquece desta Palavra, com efeito, não há progresso algum, não há sequer verdadeira civilização. O homem é unidade de corpo e alma – corpore et anima unus – e esta tende inevitavelmente para o Senhor, longe do qual encontrará apenas trevas. Ecoam fortes no decorrer dos séculos as palavras de Jesus: "Que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro se perder a sua vida?" (Mt 16, 26).
Por Equipe Christo Nihil Praeponere
Os cristãos devem ser homens de Deus e mostrar à sociedade que só o progresso material não é capaz salvar a alma humana
Uma das grandes preocupações dos papas do último século foi com a construção, na sociedade, de uma necessária "hierarquia dos valores", a fim de lembrar o homem de sua vocação para a eternidade e de sua grande nobreza enquanto imago Dei – "imagem de Deus" (Gn 1, 27).
Era o progresso técnico e científico que inquietava sobremaneira o espírito dos Sumos Pontífices. E não porque a Igreja Católica fosse contrária ao desenvolvimento dos povos ou à descoberta de novas ferramentas para integrar os homens. Como ensinou o Concílio Vaticano I, sobre a relação entre fé e razão, "a Igreja, longe de opor-se ao estudo das artes e das disciplinas humanas, favorece-as e promove-as de todos os modos"01.
O que se percebia, porém, era que, ao lado da lâmpada, do automóvel e do telefone, a sociedade vivia em permanente crise espiritual. Ao lado de tantas invenções e descobertas importantes, havia uma filosofia anunciando que Deus teria morrido e que o homem deveria procurar não mais a santidade de uma vida justa, mas a frivolidade de uma vida cheia de prazeres e satisfações mundanas.
O Papa Leão XIII, ainda em 1890, notou a discrepância entre o desenvolvimento material e o espiritual das nações. Na encíclica Sapientiae Christianae, reconheceu um relativo "progresso nas comodidades corporais e extrínsecas", mas alertou: "Toda essa natureza sensível, a abundância de meios, as forças e as riquezas, se podem gerar comodidades e aumentar a serenidade da vida, não poderão nunca satisfazer a nossa alma, criada para coisas mais altas e com mais gloriosos destinos". Mostrando como os "bens da alma" se escureciam cada vez mais entre os homens, sua advertência se revestiu de caráter profético: "Assaz catástrofes nos apresentou já o século em que vamos, e quem sabe as que estão ainda por vir!", exclamava o Pontífice, como que já antevendo as tragédias que atravessaram praticamente todo o século XX.
E mesmo depois de tanta destruição, seja em consequência das duas grandes guerras mundiais, seja pela ascensão do socialismo ao poder, os apelos da Igreja à conversão da humanidade não cessaram; ao contrário, intensificaram-se ainda mais. A Igreja tinha consciência que, mais que recuperar os países devastados pela guerra, era preciso resgatar o homem do profundo abismo existencial no qual se tinha lançado. Como apontou com precisão o Papa Pio XII, a era técnica estava levando "a cabo sua monstruosa obra de transformar o homem em um gigante do mundo físico, em detrimento de seu espírito, reduzido a pigmeu do mundo sobrenatural e eterno"02.
A exortação de seu sucessor, o beato papa João XXIII era que se devia reconhecer uma justa "hierarquia dos valores". A televisão, o celular, o computador e a Internet, bem como os inúmeros avanços científicos logrados nos últimos anos "constituem sem dúvida elementos positivos" de nossa civilização, porém "não são, nem podem ser, valores supremos; em comparação destes, revestem essencialmente um caráter instrumental"03.
Reconhecer a natureza instrumental de nosso progresso material significa dizer que só quando o homem olha para o Céu pode edificar nesta terra "uma cidade fiável", como indica o Papa Francisco, na encíclica Lumen Fidei. Para isto, os cristãos precisam oferecer o seu testemunho, demonstrando com suas próprias vidas como gozam dos bens terrestres: vislumbrando os dons celestes. Mais do que qualquer coisa, o cristão católico deve ser um homem de oração. Permanecendo em constante diálogo com o Senhor, poderá conservar dentro de si a graça divina, o desejo de fazer sempre a Sua vontade e de irradiar a Palavra de Deus às outras pessoas.
Onde a sociedade se esquece desta Palavra, com efeito, não há progresso algum, não há sequer verdadeira civilização. O homem é unidade de corpo e alma – corpore et anima unus – e esta tende inevitavelmente para o Senhor, longe do qual encontrará apenas trevas. Ecoam fortes no decorrer dos séculos as palavras de Jesus: "Que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro se perder a sua vida?" (Mt 16, 26).
Por Equipe Christo Nihil Praeponere
Nenhum comentário:
Postar um comentário