Santa Catarina de Sena
A – SUA VIDA
1) - Nascimento e primeiros anos
Catarina Benincasa nasceu na aldeia de Fontebranda (Sena-Itália), a 25 de Março de 1347. Era filha de Giácomo Benincasa e de Mona Lapa. Este casal teve 25 filhos, sendo a nossa Santa o 23 ou 24 (nasceram duas gémeas). Entre todos os seus irmãos, Catarina, foi a única dos filhos que sua mãe pôde amamentar com o leite materno. Seu pai, que exercia a procissão de tintureiro, embora não fosse rico, gozava dum modesto rendimento, era muito trabalhador e dedicado à família.
Filha duma família cristã, principiou, desde tenra idade, a sentir grande tendência para a vida de piedade. Aos 5 anos, subia as escadas de joelhos, rezando a cada degrau, uma Ave-maria. Aos 6 anos, o Senhor quis mimoseá-Ia com a sua primeira manifestação sensível: Cristo aparece-lhe sentado num trono, revestido com resplandecentes ornamentos pontificais, tendo a cabeça cingida com uma tiara papal, abençoando-a com a mão direita. Aos 7 anos, fez voto de virgindade, e aos 12, segundo o costume do país e da época, apesar de ser muito criança, seus pais pensaram em casá-la, mas recusou energicamente o matrimónio. No entanto, levada pelos falsos conselhos duma irmã, começou por se deixar mundanizar.
Este período parece ter sido curto. Tratava-se apenas de imperfeições de criança; chorou-o arrependida, durante vários anos. Depois, intensificando as suas penitências, fixou-se numa espécie de vida religiosa, fazendo, mais tarde, os três votos religiosos, que viveu intensamente, apesar de sempre ter vivido no mundo. Durante muitio tempo não tomou outro alimento, excepto pão e ervas cruas.
2) - É recebida na Ordem Terceira ou Laicado de S. Domingos
Enquanto pensava na vida religiosa das grandes Ordens, S. Domingos apareceu-lhe e prometeu-lhe, que, mais tarde ia ser recebida na sua grande família espiritual. Na cidade de Sena havia um numeroso grupo de Terceiras dominicanas, as quais, embora usassem o hábito da Ordem, (chamavam-se Mantellate), viviam em suas próprias casas. Aos 16 anos, depois de muitas instâncias, Catarina foi recebida na Ordem Terceira de S. Domingos, indo-se juntar ao grupo das Mantellate.
As aspirações da nossa Santa foram assim realizadas em plena conformidade com o género de vida que já se havia proposto. Doravante, passou a encerrar-se num pequeno quarto, que lhe fora designado, vivendo aí como eremita, unicamente ocupada das coisas de Deus, saindo apenas à igreja e ainda para orar. Empregava a noite e o dia em colóquios divinos para orar o mais tempo possível. Chegou a dormir apenas meia hora em cada noite.
Catarina era estimulada, no meio deste ambiente, por graças sobrenaturais, sendo visitada pelo próprio Cristo, e também pelos conselhos e exortações dos dominicanos.
3) - Sua vida apostólica
Aos 20 anos, o Senhor ordenou-lhe se dedicasse ao apostolado e daí em diante levasse uma vida mais activa, sem afrouxar a sua intensa vida de oração. Desde então multiplica as suas obras de caridade. Socorre os pobres, cuida dos doentes, manifestando, sobretudo, uma acrisolada abnegação durante o tempo em que a peste invadiu a Itália. Exorta os ímpios à emenda de vida, extingue vinganças e ódios, etc., etc.
Depois de ter obtido a perfeição na fé, pede ao Senhor a perfeição na caridade. Desde então, quantos dela se aproximavam, sem excepção de ninguém, notavam que os acontecimentos exteriores, contradições e sofrimentos, de maneira alguma perturbavam a sua alma. Amava a todos, com um coração verdadeiramente maternal.
4) - Seu entranhável amor à Igreja
Uma das principais características que manifestou em sua vida foi o seu amor e fidelidade à Igreja. Naquele tempo, em que a terrível peste corporal assolava por toda a parte e uma outra peste espiritual, não menos deplorável, provocavam uma enorme decadência no seio da Igreja, Catarina sentiu-se impelida a usar de entranhas maternais para com todos e especialmente para com os doentes fisicamente e também a servir-se da sua intervenção diplomática e política a favor do maior bem da Igreja e da paz entre os Estados. Esta grande actividade foi desenvolvida por Santa Catarina, sob a influência do seu confessor, Beato Raimundo de Cápua, O. P., a partir de 1375 ou 1376. O Papa Gregório XI, à semelhança dos seus predecessores, desde 1309, passara a residir, desterrado, na cidade francesa de Avinhão. As questões da Igreja interessavam intensamente a Catarina. Chegou mesmo a pedir uma cruzada ao Papa Gregório XI, que a decretou (1373), e cuja promulgação, em Itália, foi confiada ao Beato Raimundo. Infelizmente, a guerra entre a República de Florença e a Santa Sé, tornaram esta cruzada pacífica impossível. Este Papa tinha tal confiança na nossa Santa, que a fazia muitas vezes falar em pleno consistório dos cardeais.
Foi a Avinhão, junto de Gregório XI, acompanhada de 22 de seus discípulos (homens e mulheres), convencer o velho Papa a voltar para Roma. As suas súplicas e rogos foram ouvidos: Gregório XI abandonou Avinhão dirigindo-se para Roma, a 13 de Setembro de 1377. E isto, apesar das suas repugnâncias pessoais, da agitação política na Itália e da sua avançada idade. Todos estes pretextos foram vencidos, graças às instâncias de Catarina. Desde que regressou a Roma, a sua acção requerida pelo mesmo Papa, como mensageira da paz e do bem da Igreja, continuou a manifestar-se.
Morto este Papa em 19 de Março de 1378, sucede-lhe Urbano VI. Santa Catarina, que já o conhecia, quando era arcebispo de Arenza, principia a contactar com ele que, apesar do seu áspero temperamento e embora se tratasse duma mulher com fama de santidade, solicita a sua ajuda para bem da Igreja.
A 20 de Setembro de 1378, principiava o grande Cisma do Ocidente que ela profetizara. O anti-papa Clemente VII instalava-se
5) - Seus fenómenos místicos extraordinários
Os fenómenos místicos tornaram-se cada vez mais maravilhosos na vida da Santa senense: visões, êxtases, comunhão milagrosa, etc.
O seu jejum de 55 dias contínuos, na Quaresma de 1371, durou desde o Domingo da Paixão até à festa da Ascensão. Neste período de tempo, foi-lhe impossível tomar qualquer género de alimento, excepto a Sagrada Eucaristia, mantendo-se sempre alegre e com perfeita saúde. Aprendeu milagrosamente a ler.
Um dia, suplicando ao Senhor para lhe tirar o seu coração, Cristo apareceu-lhe e Catarina sente que Ele lho havia tirado e lho leva; dois dias depois, o Senhor volta, trazendo-lhe um coração vermelho e brilhante.
Aproximando-se dela e abrindo-lhe o peito, diz-lhe: «Minha filha, há dias, tirei-te o teu coração; agora dou-te o Meu, que doravante te vai servir em vez do teu». Ela, que antes costumava dizer: «Senhor, dou-vos o meu coração», desde então passou a dizer: «Meu Deus, dou-vos o Vosso coração».
Em princípios de 1375, quando pregava uma mística cruzada na cidade de Pisa, intensificava-se no seu íntimo uma profunda devoção à Paixão do Senhor e uma viva aspiração pelo martírio. No 4º Domingo; da Quaresma desse ano, dia 1 de Abril, após o seu confessor ter celebrado missa na Igreja de Santa Cristina daquela cidade, e ter-lhe dado a comunhão, a nossa Santa, como de costume, ficou em profundo êxtase. Voltando a si, chamou o Beato Raimundo, e diz-lhe em voz baixa: «Sabei, Padre que pela misericórdia do Senhor Jesus, possuo em meu corpo as suas chagas».
De facto, havia recebido os estigmas dolorosos da Paixão, mas, segundo a sua narração e a seu pedido, ao ser atingida por cinco raios de sangue, que saíam das chagas do Crucificado, suplicou-lhe que não ficassem visíveis em seu corpo, pois bastava que as trouxesse invisivelmente impressas em sua carne. Então os cinco raios de sangue mudaram-se subitamente em cinco raios brilhantes, atingindo-lhe as mãos, os pés, e o lado. Confessou que sentia uma dor intensíssima, permanecendo vários dias como agonizante. Já anteriormente havia recebido uma chaga (também invisível) na mão direita.
Cristo tinha prometido desposá-la na fé. Este matrimónio místico realizou-se na terça-feira de Carnaval, 2 de Março de 1376. O Senhor dirigiu-lhe estas palavras: «Já que por Meu amor renunciaste a todos os prazeres do mundo e só em Mim te queres regozijar, resolvi desposar-te na fé e celebrar solenemente contigo as minhas bodas...».
E colocou um anel de ouro no dedo da sua esposa.
B – MESTRA DE VIDA ESPIRITUAL
Na família dos Benincasa não houve tempo para aprender a ler. Mas Nosso Senhor, que a levava por caminhos extraordinários, ensinou-a, como já ficou dito, a ler e a escrever. Isto teve lugar durante o curto espaço de um êxtase. Afirmou-o uma testemunha do processo de Canonização, a qual diz que Catarina, ao sair do êxtase, redigiu algumas linhas dirigidas a D. Estêvão de Sena: «Saibas, meu querido filho, que esta carta é a primeira que escrevo em toda a minha vida».
O Senhor ia-a dotando de graças extraordinárias que iriam permitir cumprisse perfeitamente a sua missão para bem da Igreja «Corpo Místico de Cristo» cujos sofrimentos a dilaceravam. Para Catarina «a Igreja era o próprio Cristo», a Igreja não tinha a Paz interna e externa.
Assim lho dissera Jesus: «Minha filha bem-amada, dei-te uma vida nova. A minha graça transbordando, para o teu corpo, comunicar-lhe-á um modo de existência extraordinário e obrarás prodígios maravilhosos... A tua linguagem será outra, o teu espírito esclarecido. Viajarás; viverás entre a multidão; alguns enviar-tos-ei a ti outros enviar-te-ei a eles. Levarás o meu nome aos nobres e aos clérigos e aos Pontífices. Governarás o povo cristão a fim de que a tua fraqueza confunda os orgulhosos. Por tisalvarei muitas almas. Não temas nada, eu estou contigo».
Em parte já o vimos quando falámos da paz que estabeleceu entre cidades em guerra, da influência que exerceu para que o Papa deixasse Avinhão e viesse para Roma, sede da Cristandade. «Voltai-vos todos para Roma... É Cristo que o quer! Assim virá a verdadeira paz...».
Santa Catarina pouco escreveu pelo seu próprio punho; não lhe era possível pela maneira extraordinária de escrever.
1) - Cartas
Com efeito ditava as suas numerosas e variadas cartas, simultaneamente a dois ou três secretários. Ditava sem interrupção e sobre assuntos diferentes e a pessoas também diferentes: ao Papa, a Cardeais, a eclesiásticos e a leigos de ambos os sexos. Totalizam mais de 400 (5 volumes), sem investigar e sem que frase alguma seja inútil. Terminava-as com esta fórmula: «Permanecei na santa e doce dilecção de Deus. Doce Jesus, Jesus amor». Através delas foi uma insigne directora de almas a quem os seus dirigidos chamavam a «santa» a «dolcíssima Mamma».
2) - Orações
São em número de 26. Foram pronunciadas por Santa Catarina e escritas pelos seus discípulos. Datam dos últimos anos da sua vida, e, repletas de unção e fervor, revelam a profunda intimidade que alimentava com Deus, Jesus e a Virgem Maria.
3) - O Diálogo
Porém, a obra mais extraordinária é o Diálogo, inteiramente ditado em êxtase e contém o que o eterno Pai se dignou camunicar-lhe nesses momentos.
Foi composto no espaço de 5 dias e calcula-se que tenha levado uma média de 5 horas de ditado cada dia. Começou-o num sábado, 9 de Outubro de 1378, e provavelmente estava terminado no dia 13 desse mês.
Santa Catarina não deu, em rigor; um título à sua obra. Os contemporâneos chamaram-lhe: Tratado da Divina Providência ou Livro da Misericórdia e deram-lhe o subtítulo de: Livro da Doutrina Divina.
O assunto são quatro pedidos que ela dirige a Deus Pai:
1) - Para si: Adquirir o conhecimento da verdade;
2) - Para o mundo: Que Deus fizesse misericórdia ao mundo;
3) - Para a Santa Igreja: a) - Que Deus viesse em auxílio da Igreja; b) - Que a sua Providência se estenda a todas as coisas;
Com o andar dos tempos o Diálogo teve numerosíssimas edições e traduções, mesmo em português, assim como as Orações e as Cartas, pelo menos em parte.
A sua doutrina não foi adquirida, mas infusa; ela foi mais mestra do que discípula.
C – SANTA MORTE
Morreu em Roma, em
«Jamais homem algum falou assim; - diziam os Cardeais – não é uma mulher que fala; é o Espírito Santo que fala pela sua boca».
No cumprimento da missão que Deus lhe confiara, - disse o P. Monléon, O. P. - manifestou-se «como redentora do Pontificado e defensora da Igreja; pacificadora de povos, e unificadora de antagonismos; promotora de cruzadas e condutora de multidões; directora de almas e mestra de santidade; restauradora da moral pública, da justiça social e da piedade familiar; doutora do estudo teológico, da vida mística, do gosto literário e do renascimento das artes...».
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terça-feira, 2 de setembro de 2014
Santa Catarina de Sena
segunda-feira, 1 de setembro de 2014
Revelações de Deus Pai à Santa Catarina de Sena
"Homens da Galiléia, porque ficais aí a olhar para o céu? Esse Jesus que vos acaba de ser arrebatado para o céu voltará do mesmo modo que o vistes subir para o céu. (At 1,11) "
SANTA CATARINA DE SENA
Revelações de Deus Pai à Santa Catarina de Sena
Todos os sofrimentos que o homem suporta ou pode nesta vida são insuficientes para satisfazer pela menor culpa.
Sendo Eu um bem infinito, a ofensa cometida contra Mim pede satisfação infinita. Desejo que o compreendas os males desta existência não são punições, mas correção a filho que ofende.
Assim, a satisfação se dá pelo amor, pelo arrependimento e pelo desprezo do pecado.
Esse arrependimento é aceito em lugar da culpa e do reato (Pena devida a culpa do pecado), não pela virtude dos sofrimentos padecidos, mas pela infinitude do amor.
Foi quando ensinou Paulo, ao afirmar: "Se eu falasse a língua dos anjos, adivinhasse o futuro, partilhasse os meus bens com os pobres, e entregasse meu corpo às chamas, mas não tivesse a caridade, tudo isso nada valeria". (1 Cor. 3,3).
O glorioso apóstolo faz ver que os gestos finitos são insuficientes para punir ou satisfazer, sem a força da caridade.
Como percebes, as mortificações são coisas finitas e como tais hão de ser praticadas. São meios, não finalidades.
Filha, fiz-te ver que a culpa não é reparada neste mundo pelo sofrimento, suportados unicamente como sofrimento, mas sim pelos sofrimentos aceitos com amor, com desejo, com interna contrição.
Não basta a força da mortificação; ocorre o anseio da alma.
O mesmo acontece aliás com a caridade e qualquer outra virtude, que somente possuem valor e produzem a vida em Meu Filho Jesus Cristo crucificado, isto é, na medida em que a pessoa, d'Ele recebe o amor e virtuosamente segue as suas pegadas.
Somente assim adquirem valor.
As mortificações satisfazem pela culpa na feliz comunhão do amor, adquirindo na contemplação da Minha bondade.
Satisfazem graças à dor e à contrição quando praticadas no auto-conhecimento e na consciência das culpas pessoais.
Este conhecimento de si gera desprezo pelo mal, pela sensualidade, induz o homem a julgar-se merecedor de castigos e indigno de recompensa.
Assim, é pela contrição interior, pelo amor paciente e pela humildade, considerando-se merecedora de castigos e não de prêmios, que a pessoa oferece reparação.
O caminho para atingir o conhecimento verdadeiro e a experiência do Meu Ser - Vida eterna que Sou - é este: nunca abandone o auto-conhecimento!
Ao desceres para o vale da humildade, reconhecer-Me-ás em ti, e de tal conhecimento receberás tudo aquilo de que necessitas.
Nenhuma virtude tem valor sem a caridade, no entanto é a humildade que forma e nutre a caridade.
Conhecendo-te, tu te humilharás ao perceber que, por ti mesma, nada és.
Verás que o teu ser procede de Mim, que vos amei, a ti e aos outros, antes de virdes à existência.
Além disso, quando quis recriar-vos na graça, com inefável amor, Eu vos lavei e vos concedi uma vida nova no Sangue do Meu Filho Unigênito; n'Aquele Sangue derramado num grande incêndio de amor.
Para quem destrói em si o egoísmo, é no auto-conhecimento que tal Sangue manifesta a Verdade.
Não existe outro meio.
Por meio dele, o homem em inexprimível amor conhece-Me e sofre.
Não com um sofrimento angustiante, aflitivo e árido, mas com uma dor que alimenta interiormente.
Ao conhecer a verdade, a alma sofrerá terrivelmente, pois toma consciência dos próprios pecados e vê a cega ingratidão humana.
Nenhuma dor sofreria, se não amasse.
Logo que tu e Meus servidores conhecerdes a Minha verdade, através daquele caminho, tereis que sofrer tribulações, ofensas e desprezos por palavras e ações, até a morte.
Tudo isto, para glória e louvor do Meu nome.
Sim, padecerás, sofrerás, tu e Meus servidores; portanto, armai-vos de muita paciência, arrependimento de vossos pecados e de amor à virtude, para glória e louvor de Meu nome.
Agindo assim, aceitarei a reparação das culpas tuas e dos demais servidores. Pela força do amor e caridade, vossos sofrimentos serão suficientes para satisfação e reparação por vós mesmos e pelos demais.
Pessoalmente, recebereis o fruto da vida; serão canceladas as manchas dos vossos pecados; já não Me recordarei de que Me ofendestes.
Quando aos outros, graças ao vosso amor, concederei o perdão em conformidade com as suas disposições.
Por consideração aos pedidos dos Meus servidores, terei paciência com eles, iluminá-los-ei, suscitarei o remorso, farei que sintam o gosto pela virtude, que provem prazer na amizade de Meus servidores.
Algumas vezes, permitirei que o mundo lhes mostre a sua face e experimentarão numerosas e diferentes impressões.
Quero que percebam a instabilidade do mundo e elevem os seus desejos em direção à pátria eterna. Assim e com outros expedientes invisíveis aos olhos, inenarráveis para a língua e imperceptíveis ao coração - pois são inúmeros os caminhos e recursos que Me sirvo, unicamente por amor, Eu os convido à graça, desejoso que Minha verdade se realize neles.
A tais pessoas, porém, não é dada a remissão do reato*.
Elas não se encontram pessoalmente dispostas a acolher, mediante uma caridade perfeita, o Meu amor e o amor dos Meus servidores.
Eles não sentem dor nem contrição perfeita dos pecados cometidos; sua caridade e contrição são imperfeitas.
Eis o motivo porque não alcançam a remissão da pena, como daqueles que falei antes, mas somente o perdão da culpa.
Todos os pecados são cometidos através do próximo, no sentido de que eles são a ausência da caridade, que é a forma de todas as virtudes.
No mesmo sentido, o egoísmo, que é a negação do amor pelo próximo, constitui-se razão e fundamento do todo mal.
Ele é a raiz dos escândalos, do ódio, da maldade, dos prejuízos causados aos outros.
Diante disto, o cristão luta e se opõe a sensualidade, com empenho a submete à razão e procura descobrir em si mesmo a grandeza de Minha bondade.
Inúmeros são os favores que lhe faço.
Ao reconhecer que gratuitamente o retirei das trevas e o transferi para a verdadeira sabedoria, no auto-conhecimento ele se humilha.
Assim consciente da Minha benevolência, o homem Me ama direta e indiretamente.
Diretamente, não pensando em si mesmo ou em interesses pessoais; indiretamente através da prática da virtude.
Toda virtude é concebida no íntimo do homem por amor a Mim; fora do ódio ao pecado e do amor à virtude, não existe maneira de Me agradar e de se chegar até Mim.
Depois de Ter concebido interiormente a virtude, a pessoa a pratica no próximo.
Aliás, tal modo de agir é a única prova de que alguém possui realmente uma virtude.
Quem Me ama, procura ser útil ao próximo.
Nem poderia ser de outra maneira, dado que o amor por Mim, e pelo próximo são uma só coisa.
Tanto alguém ama o próximo, quanto Me ama, pois de Mim se origina o amor do outro.
O próximo, eis o meio que vos dei, para praticardes e manifestardes a virtude que existe em vós.
Como nada podeis fazer de útil para Mim, deveis ser de utilidade ao homem.
Muitos são os dons, graças, virtudes e favores espirituais ou corporais, que concedi aos homens.
Corporais, são aqueles necessários à vida humana.
Dei-os diversificadamente, isto é, não os coloquei todos em cada pessoa, para que fôsseis obrigados a vos auxiliar mutuamente.
Poderia Ter criado os indivíduos, dotanto-os de todo o necessário, seja na alma como no corpo; mas preferi que um necessitasse do outro, que fôsseis administradores Meus no uso das graças e benefícios recebidos.
Meus no uso das graças e benefícios recebidos.
Desta forma, querendo ou não, o homem haveria de praticar a caridade, muito embora não seja meritória a benevolência não realizada por Meu amor.
Como vês, a fim de que os homens exercitassem o amor, fi-los Meus administradores e os coloquei em diferentes estados de vida, em diferentes posições.
Isto vos mostra como existem muitas mansões em Minha casa, e como nada mais desejo que o amor.
O amor por Mim se consuma no amor pelo próximo; quem ama o próximo já observou a Lei.
Quem Me ama, pratica todo o bem possível, em seu estado de vida para o benefício dos outros.
Qual árvore de muitos galhos, a caridade possui numerosos filhos.
Como as árvores recebem a vida de suas raízes enterradas no solo, assim a caridade se nutre da humildade, e o discernimento é um dos filhos ou rebentos da caridade. Não existindo esse solo da humildade, o discernimento não seria verdadeiramente uma virtude nem produziria frutos de vida.
A humildade brota do auto-conhecimento e o discernimento, consiste num real conhecimento de si e de Mim, que faz o homem dar a cada um o que lhe pertence.
O discernimento é uma luz que dissolve a escuridão, afasta a ignorância e alimenta as virtudes, bem como as ações externas que conduzem à virtude.
O discernimento enfim, ao fundamentar-se no humilde auto-conhecimento, conduz à luta contra os pecados pessoais.
... A alma é uma árvore nascida para o amor; sem ele não vive.
Privada do amor divino da caridade, não produz fruto de vida, mas de morte.
O cerne dessa árvore é a paciência.
Esta virtude constituí o sinal externo de que Eu estou numa alma e ela em Mim...
... O que desejo do homem, como frutos de ação, é que prove suas virtudes na hora oportuna.
"Sou Aquele que gosta de poucas palavras e de muitas ações".
Só o amor produz e revela a virtude! ...
... Do pecado original, que contraís através do pai e da mãe na concepção, restou-vos somente uma cicatriz.
Ela é apagada, embora não completamente, pelo batismo, ao qual o Sangue de Cristo concedeu a virtude de infundir a vida da graça.
Quando alguém é batizado, imediatamente cancela-se o pecado original e infundi-se a graça; a inclinação para o pecado, descrita antes como uma cicatriz, fica enfraquecida e submetida ao controle da pessoa.
É assim, que pelo batismo o homem dispõe-se a receber e aumentar a graça de si mesmo.
O resultado, para mais ou para menos, depende do seu esforço em servir-Me com amor e anseio.
Embora possuindo a graça batismal, a pessoa pode encaminhar-se livremente para o bem ou para o mal.
É ao atingir o uso da razão que praticará o bem ou o mal, conforme ao livre arbítrio de sua vontade.
Aliás, tão grande é a liberdade humana, e de tal modo ficou fortalecida pelo precioso Sangue de Cristo, que demônio ou criatura alguma, pode obrigar alguém à menor culpa, contra o seu parecer.
Acabou-se a escravidão; o homem ficou livre.
Agora, ele pode dominar a sensualidade, e chegar à meta para qual foi criado...
Muito já Me devia a humanidade.
Dera-lhe o ser, ao criar o homem a Minha imagem e semelhança.
Então ele possuía a obrigação de dar-Me glória.
Recusou-se a fazê-lo, glorificou-se a si mesmo, não aceitou a obediência por Mim imposta, tornou-se Meu inimigo.
Então, com humilhação destruí sua soberba.
Humilhei-Me (em Cristo), assumi vossa natureza, libertei-vos da escravidão do demônio, tornei-vos livre.
O tesouro do Sangue, pelo qual a humanidade foi recriada, ficou sendo uma dívida.
Entendes pois, como depois da Redenção, o homem tem maior obrigação para Comigo.
Devem-Me glória e louvor.
Uma dívida de amor para Comigo e o próximo, que é paga quando as pessoas seguem as pegadas do Meu Filho Unigênito, Palavra Encarnada, mediante as práticas das virtudes interiores...
... Ninguém escapará de Minhas Mãos. "Sou aquele que Sou" (Ex 3.14) e vós, vós não possuís a razão do próprio ser.
Sois aquele que Eu fiz.
Criei tudo o que participa do ser; somente o pecado não procede de Mim, porque é negação.
Por não estar em Mim, o pecado não merece amor.
Quem o faz, ofende toda criação e odeia-Me.
O homem tem obrigações de Me querer bem.
Sou imensamente bom, dei-lhe o ser, numa chama de caridade.
Todavia, os maus fogem de Mim.
Mas, por justiça ou misericórdia, ninguém escapa das Minhas Mãos.
... Eis Meu plano: criara o homem à Minha imagem e semelhança para que alcançasse a vida eterna, participasse do Meu Ser, experimentasse Minha suma, eterna e doce bondade.
O pecado veio impedir-lhe de atingir essa meta.
O homem deixava de realizar o Meu plano, pois a culpa lhe fechara o Céu e a porta da Minha misericórdia.
O pecado fez germinar na humanidade espinhos e sofrimentos, tribulações* numerosas, rebelião interna.
Ao revoltar-se contra Mim o homem criava a rebelião dentro de si.
Em conseqüência da perda do estado de inocência, a carne se revoltou contra o espírito...
Imediatamente brotou um rio tempestuoso, cujas ondas continuam a açoitar a humanidade.
São as misérias e males provenientes do próprio homem, do demônio e do mundo.
Nele todos se afogavam; ninguém mais, graças a virtudes pessoais, atingia a vida eterna.
Para remediar tantos males, construí a Ponte no Meu Filho, que permitiria a travessia do rio sem perigo de afogar-se.
O rio é o proceloso mar desta tenebrosa vida...
... Quero que contemples a Ponte de Meu Filho, que vejas sua grandiosidade.
Ela se estende do céu à terra, pois nela a "terra" da vossa natureza humana está unida à divindade sublime, graças à encarnação que realizei no homem.
Todos vós deveis passar por esta Ponte, louvando-Me através do trabalho pela salvação dos homens e tolerando muitas dificuldades, a exemplo do Meu doce e amoroso Verbo Encarnado.
Não há outro modo de chegar até Mim.
... Cada pessoa tem uma vinha, a vinha d a própria alma.
Nela trabalha com a vontade pessoal, livre, durante o tempo desta vida.
Acabado este tempo nenhum outro trabalho será realizado, seja para o bem, seja para o mal.
... Começareis por purificar-vos com a contrição interior, desapegando- vos da e desejando a virtude.
Sem esta predisposição, exigida na medida de vossas possibilidades como ramos unidos à Videira, que é Meu Filho (Jo 15,1). nada recebereis.
Dizia Meu Filho: "Eu sou a videira verdadeira e vós os ramos; Meu Pai é o agricultor" (Jo 15,5).
Sim, Eu Sou o agricultor, de Mim se originam todos os seres.
Tenho um poder incalculável, pelo qual governo o universo; nada Me escapa.
Fui Eu o agricultor que plantou a verdadeira vinha, Cristo, no chão da humanidade, para que vós, unidos a Ele, possais frutificar.
Quem não produzir ações santas e boas, será cortado da videira; e secará. Separado, perderá a vida da graça e irá para o fogo eterno...
Sabes que os mandamentos da Lei se reduzem a dois sem eles, nenhum outro é observado.
São: amar-Me sobre todas as coisas e amar o próximo como a ti mesma.
Eis o começo, o meio e o fim dos mandamentos da lei.
Todavia esses "dois" não se "reúnem" em Mim sem os "três", isto é, sem a unificação das três faculdades da alma: A memória a inteligência e a vontade.
A memória há de recordar-se dos Meus beneficies e da Minha bondade; a inteligência pensará no amor inefável* revelado em Cristo, pois Ele se oferece como objeto de reflexão, para manifestar a chama do Meu amor; a vontade unindo-se às faculdades anteriores, Me amará e desejará como seu fim.
O coração humano, ao ser atraído pelo amor, leva consigo todas as faculdades da alma:
Quando são harmonizadas e reunidas tais faculdades, todas as ações humanas - corporais ou espirituais - ficam-Me agradáveis, pois unem-se a Mim na caridade.
Foi exatamente para isso que Meu Filho se elevou na cruz, trilhando o caminho do amor cruciante.
Ao dizer, "Quando Eu for elevado, atrairei a Mim todas as coisas", ele queria significar: quando o coração humano e as faculdades forem atraídas, todas as demais faculdades e suas ações o serão...
É muita estreita a união dessas três faculdades.
Quando uma delas Me ofende, as outras também o fazem.
Como disse, uma apresenta à outra o bem ou o mal, conforme agrada ao livre arbítrio.
O livre arbítrio, se acha na vontade e a move como quer, em conformidade ou não com a razão.
Possuis a razão, sempre unida a Mim, a menos que o livre arbítrio a afaste mediante o amor desordenado, e tende em vós uma lei perversa, que luta contra o espírito. Ensinou o apostolo Paulo em sua carta, C1 3,5, a mortificar o corpo e a destruir a vontade própria, ou seja, refrear o corpo mortificando a carne, quando ela se opõe ao espírito.
Tendes, então, duas partes em vós mesmos: a sensualidade e a razão.
A sensualidade foi dada como servidora, a fim de que as virtudes sejam exercidas e provadas através do corpo.
O homem é livre, já que Meu Filho o libertou com Seu Sangue.
Ninguém pode dominar a pessoa humana quanto a vontade, pois ela possui o livre arbítrio.
Este se identifica com a vontade, concorda com ela.
Fica, pois, o livre arbítrio entre a sensualidade, e a razão, e inclina-se ora de um lado ora de outro, conforme preferir...
Quando a pessoa tenta livremente reunir as três faculdades, memória, inteligência e vontade, em Mim, na maneira explicada, todas as atividades espirituais e corporais humanas ficam unificadas.
O livre arbítrio se afasta da sensualidade, tende para o lado da razão.
Ninguém pode vir a Mim, senão Por meio de Cristo.
Esta a razão pela qual fiz d'Ele uma Ponte de três degraus.
Esses três degraus representam os três estados espirituais do homem.
O pavimento desta ponte é feito de pedras, a fim de que a chuva (da justiça divina) não retenha o caminhante.
"Pedras" são as virtudes verdadeiras e reais.
Antes da Paixão do Meu Filho, elas ainda não tinham sido assentadas, motivo pelo qual os antigos não atingiam o céu, mesmo que vivessem piedosamente.
O Paraíso ainda não fora aberto com a chave do Sangue, e a chuva da justiça divina impedia a caminhada.
Quando aquelas pedras foram assentadas no Corpo do Meu Filho - por Mim comparado a uma ponte - foram embebidas, amalgamadas, e assentadas com sangue.
Em outras palavras: o sangue (humano) foi misturado com a cal da divindade e fortemente queimado no calor da caridade.
Tais pedras foram postas em Cristo por Mim, mas é n'Ele que toda virtude é comprovada e vivificada.
Fora de Jesus ninguém possui a vida da graça.
Ocorre estar n'Ele, trilhar suas estradas, viver Sua mensagem.
Somente Ele faz crescer as virtudes, somente Ele as constrói como pedras vivas, cimentando-as com o próprio Sangue.
Nele, todos os fiéis caminham na liberdade, sem o medo da justiça divina, pois vão cobertos pela misericórdia, descida do céu no dia da encarnação.
Foi a chave do Sangue de Cristo que abriu o céu.
Portanto, esta ponte é ladrilhada; e seu telhado é a misericórdia.
Possui também uma despensa, constituída pela hierarquia da Santa Igreja, que conserva e distribui o Pão da Vida e o Sangue.
Assim, Minhas criaturas, viandantes e peregrinas, não fraquejam de cansaço na viagem.
Para isto ordenei que vos fosse dado o Corpo e o Sangue do Meu Filho, Homem Deus...
...Disse Jesus: "Eu sou o caminho, a verdade, e a vida; quem vai por Mim não caminha nas trevas, mas na luz" (Jo, 8,12)...
Quem vai por tal caminho é filho da verdade, atravessa a ponte e chega até Mim, verdade eterna, oceano de paz.
Quem não trilha esse caminho, vai pela estrada inferior, no rio do pecado.
É uma estrada sem pedras, feita somente de água, inconsistente; por sobre ela ninguém vai sem afundar.
É o caminho dos prazeres e das altas posições, daqueles cujo amor não repousa em Mim e nas virtudes, mas no apego desordenado ao que é humano e passageiro.
Tais pessoas são como a água sempre a escorrer. À semelhança daquelas realidades, vão passando.
Eles acham que são as coisas criadas, objeto de seu amor, que se vão; na realidade, também eles caminham continuamente em direção à morte.
Bem que gostariam de deter-se, reter na vida as coisas que amam. Seriam felizes se as coisas não passassem.
Perdem-nas todavia, seja por causa da morte, seja pelos acontecimentos com que faço, escapar-lhes das mão, os bens deste mundo...
... Com o retorno de Meu Filho ao céu, enviei o Mestre, o Espírito Santo.
Ele veio no Meu poder, na sabedoria do Filho, e na própria clemência.
É uma só coisa Comigo e o Filho. Por sua vinda fortaleceu o Caminho - Mensagem deixado no mundo por Jesus.
O Espírito Santo é qual mãe a nutrir no Divino Amor.
Ele liberta o homem, torna-o dono de si, isento da escravidão e do egoísmo.
A chama da Minha caridade (o Espírito Santo) não sobrevive junto ao egoísmo....
... Assim, todos os homens, recebem luzes para conhecer a verdade.
Basta que cada um o queira, que não destrua a luz da razão, pelo egoísmo desordenado.
A mensagem de Jesus é verdadeira e ficou no mundo qual pequena barca para retirar os pecadores do rio do pecado e conduzi-[os ao porto da salvação.
Primeiro, coloquei Meu Filho como Ponte - Pessoa, a conviver com os homens; após Sua morte, ficou a Ponte - Mensagem possuindo ela Meu poder, a sabedoria do Filho e o amor do Espírito.
O poder fortifica os caminhantes, a sabedoria ilumina e ajuda a reconhecer a Verdade, o Espírito Santo infunde o amor que aperfeiçoa, que destrói o egoísmo e conserva no homem o apego ao bem...
O Verbo encarnado, Meu Filho único e ponte de glória, deu aos homens vida e grandeza. Eram escravos do demônio e Ele os libertou.
Para que cumprisse tal missão, tornei-O servo; para cobrir a desobediência de Adão exigi que obedecesse; para confundir o orgulho, humilhou-se até a morte na cruz.
Por Sua morte, destruiu o pecado. No intuito de livrar a humanidade da morte eterna, fez do Seu Corpo uma bigorna.
No entanto os pecadores desprezam Seu Sangue, pisoteiam-No com um amor desordenado. Esta é a injustiça, este o julgamento falso a respeito do qual o mundo é e será repreendido até o dia do juízo final.
Tal repreensão começou quando enviei o Espírito Santo sobre os apóstolos.
São três as repreensões: a voz da Igreja, o Juízo Particular e o Juízo Final... Deus Pai
No Juízo Particular, no instante final, quando a pessoa compreende que não pode fugir das Minhas Mãos recupera a visão que a atormenta interiormente fazendo-a ver que por própria culpa chegou a tão triste situação.
Se o pecador se deixar iluminar e se arrepender, não por medo dos castigos infernais, mas por ter ofendido a Suma e Eterna Bondade, AINDA SERÁ PERDOADO.
Mas, se ultrapassar o momento da morte nas trevas, no remorso, sem esperança no Sangue, ou então, lamentando-se apenas pela infelicidade em que se acha - e não por ter Me ofendido - irá para a perdição.
Sobrevirá pois, a repreensão pela injustiça e falso julgamento.
Em primeiro lugar a repreensão da injustiça e do julgamento falso em geral, praticados no conjunto de suas ações, durante a vida; depois, em particular, do último instante quando o pecador considera seu pecado maior que a Minha misericórdia.
Este é o pecado que não será perdoado, nem aqui nem no além.
O desprezo voluntário da Minha misericórdia constitui pecado mais grave que todos os anteriores
Filha, tua linguagem é incapaz de descrever os sofrimentos desses infelizes condenados.
Sendo três os seus vícios principais - egoísmo, medo de perder a boa fama e orgulho - aos quais se acrescentam a injustiça, a maldade e impureza, no inferno os pecadores padecem de quatro tormentos principais.
O primeiro é a ausência da Minha visão.
Um sofrimento tão grande que os condenados, se fosse possível, prefeririam sofrer o fogo vendo-Me, que ficar de fora dele sem Me ver.
O segundo, como conseqüência, é o remorso que corrói o pecador privado de Mim, longe da conversação dos anjos, a conviver com os demônios.
Aliás, a visão do diabo constitui o terceiro tormento.
Ao vê-lo duplica-se o sofrer.
Nestes (demônios), eles se conhecem melhor, entendendo que por própria culpa mereceram o castigo.
Assim o remorso os martiriza e jamais cessará o ardor da consciência.
Muito grande é este tormento, porque o diabo é visto do próprio ser; tão horrível é a sua fealdade, que a mente humana não consegue imaginar.
Se ainda o recordas, já te mostrei o demônio assim como ele é; foi por um átimo de tempo.
Quando retornastes ao sentido, preferias caminhar por uma estrada de fogo até o juízo final que tornar a vê-lo.
No entanto, apesar do que viste ignoras a sua fealdade, especialmente porque, segundo a justiça divina, ele é visto mais ou menos horrível pelos condenados, segundo a gravidade das culpas.
O quarto é o fogo.
Um fogo que arde sem consumir, sem destruir o ser humano.
É algo de imaterial, que não destrói a alma incorpórea.
Na Minha justiça permito que tal fogo queime, faça padecer, aflija; mas não destrua.
É ardente e fere de modo crudelíssimo em muitas maneiras, conforme a diversidade das culpas.
A uns mais, a outros menos, segundo a gravidade dos pecados.
Destes quatro tormentos derivam os demais: o frio, o calor, o ranger de dentes (Mt, 22,13)
Grande é o ódio dos condenados, pois já não amam o bem.
Blasfemam continuamente contra Mim!
Queres saber por que já não podem desejar o bem? É porque, no fim desta vida, vincula-se o livre arbítrio.
Com o cessar do tempo, já não se merece mais.
Quem termina esta existência em pecado mortal, por direito divino fica para sempre apegado ao ódio, obstinado no mal, a roer-se interiormente.
Seus sofrimentos irão aumentando sempre, especialmente por causa das demais pessoas que por sua causa irão para a condenação.
O homem justo (no mesmo Juízo) ao encerrar sua vida terrena no amor, já não poderá progredir na virtude.
Para sempre continuará a amar no grau de caridade que atingiu até Mim.
Também será julgado na proporção do amor.
Continuamente Me deseja, continuamente Me possuí; suas aspirações não caem no vazio.
Ao desejar, será saciado; ao saciar-se, sentirá ainda fome; distanciando-se assim, do fastio da saciedade e do sofrimento da fome.
Os bem-aventurados gozam da Minha eterna visão.
Cada um no seu grau, de acordo com a caridade em que vieram participar de tudo o que possuo.
Desfrutam na alegria e gozo - dos bens pessoais e comuns que mereceram. C
olocados entre os anjos e santos com eles se rejubilam na proporção do bem praticado na terra.
Entre si congraçados na caridade os bem-aventurados de modo especial comunicam-se com aqueles que amaram no mundo.
Não penses que a felicidade celeste seja apenas individual.
Não! Ela é participada por todos os cidadãos da pátria, homens e anjos.
Quando chega alguém à vida eterna, todos sentem sua felicidade da mesma forma como ele participa do prazer de todos.
Em seus anseios os eleitos clamam continuamente diante de Mim em favor do mundo inteiro.
Suas vidas haviam terminado no amor fraterno; continuam no mesmo amor.
Aliás, foi exatamente por tal caridade que passaram pela porta que é Meu Filho
Por ocasião do Juízo Final, o Verbo encarnado virá com divina majestade para repreender o mundo.
Não mais se apresentará pobrezinho na forma como nasceu da Virgem, na estrebaria, entre animais, para morrer depois no meio de ladrões.
Naquela ocasião, ocultei n'Ele o Meu poder e permiti que suportasse penas e dores como homem.
A natureza divina se unira a humana e foi enquanto homem que sofreu para reparar as vossas culpas.
No juízo final, não será assim, pois virá com poder a fim de julgar.
As criaturas humanas estremecerão e Ele a cada um dará sentença conforme merecimento.
Tua língua não conseguirá exprimir o que se sucederá aos condenados.
Para os bons, Jesus será motivo de temor santo e alegria imensa.
Os bem-aventurados continuam no céu, eternamente, aquele mesmo amor com que encerraram a vida terrena.
Eles em nada se distanciam de Mim.
Seus desejos estão saciados.
Anseiam em ver-Me glorificado por vós viandantes e peregrinos que sois em direção à morte.
Aspirando por Minha honra, querem vossa salvação e sempre rogam por vós; de Minha parte, escuto os seus pedidos naquilo em que vós, por maldade, não opondes resistência à Minha bondade.
Os bem-aventurados desejam recuperar os seus corpos; todavia não sofrem por sua ausência.
Até se alegram, na certeza de que tal aspiração será realizada.
A ausência do corpo não lhes diminui o prazer, não é angustiante, não faz sofrer.
Nem julgues que a satisfação de ter o corpo após a ressurreição lhes traga maior bem-aventurança.
Se isso fosse verdade, seria sinal que a felicidade anterior era imperfeita, enquanto não o reouvessem, e isso não pode ser.
De fato, nenhuma perfeição lhes falta.
Não é o corpo que faz feliz a alma, mas o contrário.
Quando esta recupera o corpo no dia do juízo, participará ele da plenitude e da perfeição da alma.
Naquele dia, esta se fixará para sempre em Mim, e o corpo em tal união, ficará imortal, sutil, leve.
Deves saber que o corpo ressuscitado pode atravessar uma parede, que o fogo e a água não o ofendem.
Tal propriedade lhe advém, não de uma virtude própria, mas por uma força que gratuitamente concedo à alma, que foi criada à Minha imagem e semelhança num inefável ato de amor.
Tua inteligência não dispõe da capacidade necessária para entender, nem teus ouvidos para escutar, a língua para narrar e o coração para sentir qual é a felicidade dos santos.
Ocupei-Me da felicidade dos santos para que entendesses melhor a infelicidade dos condenados ao inferno.
Aliás, outro tormento destes últimos, é ver quanto os bem-aventurados são felizes.
Tal conhecimento acresce-lhes a pena, da mesma forma como a condenação dos maus leva os justos a glorificar Minha bondade.
A luz é mais evidente na escuridão, e a escuridão na luz.
Conhecer a alegria dos santos é dor para os réus do inferno.
Os condenados aguardam com temor o dia do juízo final.
Sabem que então seus sofrimentos aumentarão.
As escutar o terrível convite: " mortui, venite ad judicium", a alma retornará ao corpo.
Para os bem-aventurados será um corpo de glória; para os réus um corpo para sempre obscurecido.
Diante do Meu Filho, sentirão grande vergonha.
Também diante dos santos.
O remorso martirizará a profundidade do seu ser, quero dizer, a alma; mas também o corpo.
Acusá-los-ão: o Sangue de Cristo, por eles derramado; as obras de misericórdia, espirituais e corporais, do Meu Filho, o bem que eles mesmos deveriam ter praticado em benefício dos outros, segundo o evangelho.
Terá seu castigo a maldade com que trataram os irmãos, pois Eu mesmo, compassivo, perdoara-lhes (Mt 18,33).
Serão repreendidos pelo orgulho, egoísmo, impureza, ganância; e tudo isso reavivará seus padecimentos.
No instante da morte, somente a alma é repreendida; no juízo final também o corpo, por ter sido instrumento da alma na prática do bem e do mal conforme a orientação da vontade.
Todo bem e todo mal é feito através do corpo por este motivo, Minha filha, os justos terão no corpo glorificado uma luz e um amor infinitos; já os réus do inferno sofrerão pena eterna em, seus corpos, usados para o pecado.
Ao recuperar o corpo diante de Jesus ressuscitado, os réus sentirão tormento renovado e acrescido: a sensualidade sofrerá na sua impureza, vendo a natureza humana unida à divindade, contemplando este barro adâmico - vossa natureza - colocada acima de todos os coros angélicos, enquanto eles, os maus, estarão no mais profundo abismo.
Os condenados verão brilhar sobre os eleitos a liberalidade e a misericórdia, quais frutos do Sangue de Cristo; saberão das dificuldades suportadas pelos bons e que agora se mostram em seus corpos como frisos de adornos para as vestes.
O valor de tais sofrimentos físicos não provém do corpo mas da riqueza da alma; é ela que dá o corpo o merecimento da luta como companheira da prática das virtudes.
Tal exteriorização se verifica porque o corpo manifesta o resultado das batalhas das alma, como o espelho reflete a face do homem.
Ao se verem privados de tamanha beleza, os habitantes das trevas verão surgir nos próprios corpos os sinais dos pecados e terão maiores tormentos e confusão.
E ao soar aquela terrível sentença: "Ide, malditos, para o fogo eterno".
Suas almas e corpos encaminhar-se-ão para a companhia de demônios, sem mais remédios nem esperança.
Cada um a seu modo, se envolverá na podridão que viveu na terra, de acordo com as ações que praticou: o avarento arderá na sua ganância dos bens que desordenadamente amou; o maldoso, na sua ruindade; o impuro na imunda e infeliz concupiscência; o injusto nas suas iniqüidades; o rancoroso no seu ódio pelos outros.
Quanto ao egoísmo fonte de todos os males arderá como princípio causador de tudo em sofrimentos insuportáveis.
O orgulho terá igual sorte.
Assim, corpo e alma serão punidos em todos os vícios.
Sirvo-Me do demônio qual instrumento da Minha justiça para atormentar os que Me ofendem.
Nesta vida o coloquei qual tentador, molestando os homens.
Não para que estes sejam vencidos, mas para que conquistem a vitória e o prêmio pela comprovação das virtudes.
Ninguém deve temer as possíveis lutas e tentações do demônio.
Fortaleci os homens, dei-lhes energia para vontade, no Sangue de Cristo.
Demônio ou criatura alguma conseguem dobrar a vontade.
Ela vos pertence, é livre.
Vós é que escolheis o querer ou não querer alguma coisa.
Eu disse que o demônio convida os homens para a água-morta, a única que lhe pertence, cegando-os com prazeres e satisfações do mundo.
Usa o anzol do prazer e fisga-os mediante a aparência de bem.
Sabe ele que por outros caminhos nada conseguiria; sem o vislumbre* de um bem ou satisfação, os homens não se deixam aprisionar; por sua própria natureza, a alma humana tende ao bem.
Infelizmente, devido à cegueira do egoísmo, o homem não consegue discernir qual é o bem verdadeiro, realmente útil ao corpo e à alma.
Percebendo isto, o demônio, maldoso, apresenta-lhe numerosos atrativos maus, disfarçados porém sob alguma utilidade ou prazer.
A certeza da Minha presença em suas vidas, é o conhecimento da Minha verdade.
Tal conhecimento se realiza na inteligência que é, o olho da alma; pupila de tal olho é a fé.
Pela iluminação da fé, eles distinguem, conhecem e seguem a estrada mensagem do Verbo Encarnado.
Sem a fé ninguém reconhece tal estrada, à semelhança daquele que possuísse o olho, mas coberto por um pano.
Sim, a pupila desse olhar é a fé; nada verá quem cobrir sua inteligência com o pano da infelicidade, por causa do egoísmo.
Tal pessoa terá a inteligência, mas não a luz para conhecer.
Como afirmei antes, ninguém consegue seguir o caminho da verdade sem a luz da razão - recebida de Mim com a inteligência - e sem a luz da fé, infundida na hora do santo batismo, supondo que não destruais esta última com vossos pecados
Deus Pai:
Deus Pai:
No batismo a luz da fé vos é dada na força do Sangue do Meu Filho.
Associada à luz da razão ela vos alcança a vida para a verdade.
Esta iluminação revela ao homem a transitoriedade das realidades terrenas, que passam como o vento.
Tal atitude supõe todavia, que tenhais consciência da própria fraqueza, tão inclinada a rebelar-se, já que existe nos vossos membros uma lei perversa (Rm. 7,23), que vos leva a revoltar-vos contra Mim, vosso Criador.
Tal "lei" não obriga ninguém a pecar contra sua vontade, todavia combate contra o espírito.
Permiti semelhante lei, não para serdes vencidos, mas a fim de provar vossas virtudes.
É nas situações adversas que às virtudes são experimentadas.
A sensualidade opõe-se ao espírito; é através dela que o homem comprova seu amor por Mim, o Criador, opondo-se às suas tendências derrotando-as.
Quis Eu ainda essa perversa lei para que o homem fosse humilde.
De si mesma, a sensualidade não conduz ninguém ao pecado, mas induz ao reconhecimento do próprio nada; revela a fragilidade do que é terreno.
É preciso que a inteligência humana, sob a luz da fé, reconheça tal coisa; trata-se justamente daquela "iluminação geral" de que falei, indispensável para todos os que desejam participar da vida da graça aproveitando os efeitos da morte do Cordeiro Imolado. Ela é necessária para todos, qualquer que seja o estado de vida; é a iluminação da "caridade comum", universal.
Todos (os cristãos) devem possuí-Ia sob pena de serem condenados; quem não a tem não está na graça divina; desconhece o pecado e suas causas
Toda obra boa será remunerada, como todo mal terá seu prêmio.
Quando praticada no estado de graça, a boa obra merece o céu; quando feita em pecado, embora sem merecimento, terá sua paga de várias maneiras: umas vezes, concedo vida mais longa ou inspiro a Meus servidores contínuas orações em favor, com as quais tais pessoas se convertem; outras vezes, em lugar de vida mais longa e das orações, concedo bens materiais.
O cristão que possui bens, deve fazê-lo na humildade, sem orgulho, como coisa emprestada, não própria .
Dou-vos os bens para o uso.
Tanto possuis, quanto concedo; tanto conservais, quanto permito; e tanto permito, quanto julgo útil à vossa salvação. Tal há de ser a vossa atitude quanto ao uso dos bens materiais.
Assim fazendo, o cristão obedece aos mandamentos - amando-Me sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo - e conserva o coração desapegado das riquezas, afetivamente, como nada possuindo.
Não se apega aos bens, não os possui em oposição aos Meus desígnios.
Possui externamente, ao passo que seu íntimo é pobre.
Tais pessoas, como disse, eliminam o veneno do egoísmo.
São os cristãos da "caridade comum".
Os bens materiais são bons em si mesmo; foram criados por Mim, bondade infinita. Os homens hão de usa-los como lhes aprouver, mas no temor e no amor autênticos. Os cristãos não devem virar escravos dos prazeres sensíveis.
Se querem ter posses façam-no; mas como dominadores dela, não como dominados.
O afeto do coração deve estar em Mim, não nas coisas externas; elas não pertencem aos homens, são dadas em empréstimo.
Não tenho preferência por pessoas ou posição social, somente pelos desejos do coração.
Quem afastar de si o apego desregrado e se orientar para Mim na caridade e no santo temor, tal pessoa poderá escolher o estado de vida que quiser.
Em qualquer um deles alcançará a vida eterna.
Suponhamos que seja mais perfeito e mais agradável a Mim que o homem viva interior e exteriormente despojado dos bens materiais.
Se uma pessoa não sentir a coragem de abraçar tal perfeição devido a alguma fraqueza pessoal, que permaneça "na caridade comum"(Caridade comum - os que seguem a Cristo obedecendo os mandamentos). Qualquer que seja seu estado de vida.
Em Minha bondade dispus que assim fosse para que nenhuma pessoa viesse a desculpar-se por pecados cometidos em determinadas situações.
Ninguém poderá dar desculpa, Sou condescendente com as tendências e fraquezas humanas.
Se as pessoas desejam viver no mundo, possuir bens, ocupar altas posições sociais, casar-se, ter filhos, trabalhar por eles, façam-no.
É lícito viver em qualquer posição social; contanto que se evite o veneno da sensualidade, o qual pode conduzir à morte perpétua.
Se prestares atenção verás que quase todos os males procedem do desordenado apego e ganância da riqueza. Disto nasce o orgulho de quem pretende ser maior que os outros, a injustiça para consigo mesmo e o próximo.
A riqueza empobrece e destrói a vida da alma, torna o homem cruel consigo mesmo, prejudica sua dignidade espiritual infinita, faz amar as coisas transitórias. Todos têm obrigação de amar-Me, Bem infinito.
Com a riqueza o homem perde o gosto pela virtude, o amor da pobreza, o domínio sobre si, torna-se escravo dos bens materiais. Ao amar realidades inferiores a si, torna-se insaciável.
Só a Mim deve o homem servir; Sou seu fim último.
Quantos perigos enfrenta o homem, por terra e por mar, a fim de adquirir riqueza e poder voltar a sua cidade natal entre satisfações e honras; já para ,conseguir a virtude, é incapaz do menor esforço, não aceita dificuldade alguma! E dizer que as virtudes são a riqueza da alma.
Caridade comum* - os que seguem a Cristo obedecendo os mandamentos.
Diz Meu Filho no Evangelho que "é mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha* que o rico entrar na vida eterna". (Mt.19,24) referia-se àqueles que possuem ou desejam possuir riquezas com desordenado e pecaminoso apego à elas.
Afirmei também existirem pobres, que se pudessem possuíam com desordenado apego o mundo inteiro. Também eles não passarão pela porta estreita e baixa (agulha).
Se não se abaixarem até o chão, se não dominarem o próprio apego, se não dobrarem humildemente a cabeça, como poderão atravessá-la? Outra porta não existe que conduza à vida eterna.
Pelo contrário, é larga aquela que conduz à eterna condenação. (Mt.7,13).
As realidades terrenas são menores que o homem, para ele foram criadas, não vice-versa.
Por tal motivo os bens materiais não o satisfazem; somente Eu sou capaz de saciar o homem. Já os infelizes pecadores, como cegos, afadigam-se continuamente, à procura de uma felicidade fora de Mim, e sofrem
Querem saber como sofrem? Quando alguém perde algo com que se identificara seu apego faz sofrer. É o que acontece com os pecadores, identificados por vários modos, com os bens materiais.
Eles se materializam.
Uns se identificam com a riqueza, outros com a posição social, outros com os filhos; uns se afastam de Mim por apego a uma pessoa; outros transformam o próprio corpo em animal imundo e impuro.
Todos eles assim se nutrem de bens terrenos.
Gostariam que tais realidades fossem duradouras, mas não o são. Passam como o vento.
São perdidas por ocasião da morte e de outros acontecimentos por Mim dispostos.
Diante de tais perdas, os pecadores entram em sofrimento atroz, pois a dor da separação se compara a desordenada afeição à posse.
Todos estes se carregam com a cruz do diabo e experimentam nesta vida a certeza da condenação. Vivem diversificamente doentes e se não se corrigirem vão para a morte eterna. São homens feridos pelos espinhos das contradições a torturarem-se interna e externamente.
E por cima, sem merecimento algum! Sofrem na alma e no corpo, nada merecem; é sem paciência que padecem estes males. Vivem revoltados, apegando-se aos bens materiais com desordenado amor.
É preciso encher a alma de virtudes, sob o alicerce da caridade.
Agulhas* - portas secundarias das cidades antigas cercadas de muros a fim de evitarem invasões.
Essas portas baixas e estreitas serviam apenas para circulação de pessoas. Quando alguma caravana chegava fora de horário, os camelos para entrarem na cidade tinham que ser descarregados e ainda pelo impedimento da altura, entravam ajoelhados.
Em matéria de virtudes necessita-se da perseverança. Quem não persevera, jamais realiza seus desejos, levando a termo o que começou.
O Meu Filho como Ponte possui três degraus.
No primeiro degrau o cristão se afasta da afeição terrena, despoja-se dos vícios, no segundo, adquire as virtudes; no terceiro, goza a paz.
No primeiro o (homem) se comporta como servo assalariado, no segundo como servo fiel, no terceiro como filho, ou seja como pessoa que Me ama sem interesses pessoais.
São três estados que podem acontecer em diversas pessoas ou sucessivamente numa única pessoa.
Acontecem ou podem acontecer numa mesma pessoa quando ela progride esforçadamente, aproveitando o tempo, e passa do estado servil ao liberal e do liberal ao filial. Temos assim o amor servil, o amor Interesseiro e o amor amizade
Relativamente ao modo como se chega ao amor amizade e filial dá-se da seguinte maneira: inicialmente imperfeito, o homem vive no temor servil; com perseverança e esforço, chega ao amor interesseiro das consolações (espirituais) no qual se compráz olhando-Me como algo útil para si mesmo.
Tal é o roteiro de quem deseja chegar ao amor amizade e filial.
Este último é o amor perfeito com ele alcança-se a herança do reino. O amor filial inclui o amor amizade; nesse sentido se passa do amor amizade ao amor filial.
Mas qual é a estrada? Vou dizê-lo. Toda perfeição e virtude procede da caridade; a caridade alimenta-se da humildade; a humildade nasce do auto- conhecimento e da vitória sobre o egoísmo da sensualidade.
Para se atingir o amor filial é necessário, pois perseverar na cela do auto-conhecimento. Nesta ceia o homem conhecerá o Meu perdão através do Sangue de Cristo, atrairá sobre si pelo amor, a Minha caridade, procurará destruir em si toda má vontade espiritual e temporal
A fé viva consiste na prática perseverante das virtudes, em não voltar atrás por motivo algum, em não deixar a oração jamais - exceto por obediência ou caridade - pois nenhuma outra razão existe.
É na oração contínua, fiel e perseverante que todas as virtudes são adquiridas. Mas é preciso perseverar, nunca a deixar: nem por ilusão do diabo, nem por fraqueza pessoal, qual sejam os pensamentos e impulsos íntimos, nem Por conselhos "alheios".
Como é agradável ao orante e a Mim a prece feita na cela do auto-conhecimento.
Compráz* - sentir prazer.
Temor servil* - medo dos castigos infernais.
Ali o homem crê e ama na abundância do Meu amor, que em Meu Filho tornou-se visível e provado no Sangue. Sangue que inebria a alma, reveste-a com as chamas do Amor Divino, Eucaristicamente a alimenta.
Foi na despensa da hierarquia eclesiástica que Eu guardei o Corpo e Sangue do Meu Filho, perfeito homem e perfeito Deus, pois ENTREGUEI AOS SACERDOTES, A CHAVE DO SANGUE, A FIM DE QUE O DISTRIBUÍSSEM. Tal Alimento fortifica de acordo com o amor de quem o recebe, seja sacramentalmente, seja espiritualmente. Sacramentalmente, na comunhão Eucarística; espiritualmente, ao se comungar pelo desejo da Eucaristia ou meditando-se a Paixão de Cristo crucificado.
Em qualquer oração a pessoa deve começar pela vocal, passando depois à mental. Faça-o logo que sentir o espírito bem disposto. Tal maneira de agir conduzirá o orante à perfeição do amor.
Quanto mais o homem desvencilhar sua afeição e prendê-la a Mim, mais Me conhecerá, mais Me amará, mais Me experimentará.
Como vês, não é pela quantidade de palavras que se chega à oração perfeita, mas pelo amor e conhecimento de Mim e de si mesmo, cada um desses conhecimentos completando o outro
Nas orações concedo consolações de diversas maneiras: uma vez será contentamento; outra vez arrependimento que agita interiormente; vezes há que Me torno presente na alma sem que ela o perceba, pois faço estar no espírito a pessoa de Meu Filho em vários modos: ora sentirá na profundidade da alma grandíssimo prazer, ora nem O perceberá, como se poderia esperar.
Sabes o que faço para tirar o homem da imperfeição? Costumo permitir- lhe pensamentos molestos e aridez espiritual, deixando-o como que abandonado por Mim, sem nenhuma consolação.
A pessoa já não se sente do mundo, que de fato abandonou, nem lhe parece que está vivendo em Mim.
Uma única fonte de paz lhe resta: a certeza de não querer ofender-Me.
Quanto à vontade que constitui como que a porta de entrada da alma, não permito que se abra ante os inimigos; seja os demônios como os demais adversários poderão penetrar por outros setores, mas não pela vontade, que é a porta principal da cidade da alma. Como defensor está o livre-arbítrio. Só ele pode deixar ou não que alguém passe.
As portas que dão ingresso ao interior do homem são muitas. As principais são três: a memória, a inteligência e a vontade. Delas, somente uma abre quando quer e serve de defesa para as outras, é a vontade. Com sua permissão o primeiro inimigo a entrar é o egoísmo.
Os outros vêm depois: a inteligência se obscurece; a memória dá acolhida ao ódio, e faz lembrar as ofensas recebidas e se opõe a caridade pelo próximo; a memória recorda, também, os prazeres ilícitos.
Depois de abertas essas portas, escancaram-se os portões dos sentidos, que refletem em si o amor desordenado e as más ações. O olho ocupa-se em ver coisas que não devem; por sua volubilidade, vaidade, desonestidade, capta a morte para a própria pessoa e para os demais.
Oh, olho infeliz! Eu te fiz para ver o céu, as belezas da criação, Meus mistérios, e tu te fixas na lama, na baixeza, à procura da morte! O ouvido compraz-se em assuntos desonestos ou fica à espreita de notícias, a fim de se emitir julgamento, no entanto, Eu o dei ao homem, para escutar Minha palavra e tomar conhecimento das necessidades alheias.
Quanto à língua, criei-a para anunciar Minha palavra, confessar as culpas e promover a salvação dos homens; mas dela serve-se a pessoa para reclamar de Mim, seu Criador, e para prejudicar o próximo.
Murmura contra ele, diz que suas ações são más, blasfema, dá falso testemunho, põe em perigo a si mesmo e os demais com palavras desonestas, diz frases ofensivas que, como punhais, ferem os corações, provocando raiva. Como são numerosos os pecados - homicídios, desonestidades, rancores, ódios, perda de tempo - provocados pela língua.
O olfato também peca por desordenado prazer de sentir perfumes; se for cheiro de alimento, dá origem a gula, e a insaciável procura de comida, seja pela quantidade, seja pela qualidade, a fim de satisfazer o estômago.
Quem abre este portão da alma, infelizmente não percebe que a gula incentiva a sensualidade e conduz a corrupção.
As mãos foram feitas para prestar serviço ao próximo e socorrê-lo com esmolas, mas são usadas para furtar e praticar ações desonestas. Os pés têm a função de conduzir o homem a lugares santos e úteis, seja para si, como para os outros, com vistas a Minha glória e louvor; no entanto são usados para ir-se a lugares escusos, onde conversas e divagações corrompem as pessoas.
Recordei tudo isto, filha querida, para que possas chorar ao ver a cidade da alma em tão grave situação, a fim de que sintas o mal que entra no homem pela porta principal da vontade. Entretanto, como disse antes, não permito que os males entrem livremente no homem pela vontade, mas podem fazê-lo pelas outras faculdades.
Assim consinto que a inteligência seja invadida por pensamentos ruins, que a memória pareça esquecer de Mim, que todos os sentidos se vejam sacudidos por lutas diversas. Tudo isto, porém, não produz morte à alma.
De Minha parte não quero tal morte; só mesmo se a pessoa a quiser, livremente. Todas essas sensações ficam na periferia da cidade da alma, não penetram em seu interior. A menos, repito, que a pessoa o queira.
Qual é o motivo que deixo o homem cercado por tantos inimigos? Certamente, não para que perca a graça; mas para que veja quanto Sou misericordioso. Quero que confie em Mim, não em si mesmo; que se refugie em Mim e não seja negligente.
Sou seu defensor, o Pai bondoso que deseja a sua salvação. Quero recordar-lhe: de Mim recebeu o ser e os demais benefícios. Sou a sua vida.
Como reconhece a pessoa tal situação e Minha providência nessas dificuldades? Aguardando a grande libertação, pois não a deixo permanentemente em tal estado; as dificuldades vão e voltam conforme julgo necessário.
As vezes quando a alma pensa estar no inferno, repentinamente vê-se livre, como que no paraíso, sem nada Ter feito pessoalmente, sente-se na paz; tudo que vê fala-lhe de Deus; inflama-se de amor ao tomar consciência do que realizei, retirando-a da tempestade sem nenhum esforço seu.
A iluminação foi repentina devendo-se unicamente ao Meu inestimável amor.
Providenciei as suas necessidades no momento certo quando já não agüentava mais. Mas por que não interviera Eu antes, libertando a alma das dificuldades, nos momentos em que se dedicava à oração e aos outros exercícios? Porque, sendo imperfeita, iria atribuir aos seus esforços pessoais o que não lhe pertencia.
Como percebes, é através de muitos combates que o homem imperfeito tende à perfeição.
Neles a alma experimentará Minha providência, percebendo concretamente realidades em que antes somente acreditava.
Dou-lhe a certeza da experiência, graças a qual adquire o amor perfeito e supera o amor imperfeito.
Costumo também, dar a Meus servidores júbilo espiritual e visões.
Se alguém unicamente se preocupar na obtenção de tais favores, acabará por cair na amargura e no tédio no momento que notar sua ausência progressiva; cada vez que Eu não os der, julgarão que perderam a graça.
Já afirmei que costumo visitar e ausentar-Me do homem no tocante às consolações - sem prejuízo do estado de graça - a fim de levar à pessoa a perfeição.
Em tais circunstâncias, muitos mergulham na tristeza e sentem-se no inferno, porque não mais experimentam os prazeres da mente, substituídos pelos tormentos das tentações.
Nesta situação pode o demônio se apresentar em forma de luz.
Costuma ele tentar os homens de acordo com as disposições espirituais que neles encontra.
Por tal motivo, ninguém deve desejar satisfações e visões espirituais; aspire-se somente pela virtude.
Na humildade, cada um se julgue indigno de tais coisas; se as receber, comporte-se segundo a caridade.
O diabo é capaz de mostrar-se numa figura de luz, por vários modos, na alma de quem gulosamente sonha com visões.
Dessa maneira ele usa o anzol do prazer espiritual para atrair a alma, e prend&e
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